esplendor > les jolies choses | chaterine gaudet
a não perder.
que mais posso dizer.
como apelidar este bailado...
como apelidar este bailado...
segundo a súmula da página da rtp, onde o espectáculo foi transmitido... refere entre outros epítetos:
cinco corpos movem-se ao ritmo de um metrónomo. os seus gestos mecânicos são continuamente repetidos, a máquina corre solta e exige a sua obediência absoluta. esta partitura colectiva aparentemente inofensiva, com os seus percursos ordenados, exala um cheiro de verniz barato que logo acaba rachando.
objectivamente é um dos bailados mais violentos e exigentes que já presenciei.
exigente... não do ponto de vista técnico, mas seguramente... fisicamente.
chega-se a um ponto... de não retorno... em que apenas se quer parar... não prosseguir mais, terminar apenas com aquela saga que parece infindável... pela exaustão óbvia... visível e assumida nos e dos bailarinos.
a música não ajuda... é notório e notável... sincopada... frenética e compassada... não ajuda... mecânica e que não para... nunca para.
aqui tudo é consequente porque é mesmo inconsequente... é consequente.
obviamente trará consequências... mazelas físicas e morais... a quem se reconhece e a quem interpreta.
há uma violência visceral latente... maquinal, fria e sincopada... que não permite repousar.
não permite sequer ao espectador descansar... e a todos e tudo cansa...
há uma exaustão latente neste bailado... e os seus aparentes 52 minutos de duração são como uma descida ao inferno... uma avassaladora perturbação e distorção da condição humana. física. mental. existe e reside aqui algo de transformador... de uma violência inabalável.
saio daqui... desta experiência, demasiado fascinado... e cansado.
exausto de tamanha demonstração... vigor... resistência e dimensão... e porque não dizê-lo, rigor.
mesmo os bailarinos não são o estereótipo de bailarinos... acidental ou propositadamente.
possuem corpos não conforme... disformes... não têm uma presença clássica e estereotipada... na forma, nos movimentos... na elegância... na presença.
a música que tudo envolve... constrói... acompanha e perturba, é soberba... omnipresente e sufocante... mecânica e mesmo desumana, porque não permite aos humanos pausa... o descanso.
existe aqui qualquer coisa de sobre-humano... e de tão fascinado que saio e fico... apenas refiro a ficha técnica deste bailado sublime... e cujos intervenientes merecem todo o destaque. nem que seja pelo aparente desgaste e sofrimento.
ou simplesmente porque é justo... soberbo e esplendoroso.
> coreografia: catherine gaudet
> figurinos: marilène bastien
> intérpretes:
francis ducharme... caroline gravel... leila mailly... james philips... scott mccabe
> música: antoine berthiaume
> realização: xavier curnillon
obviamente a não perder.