quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

















vazio > september song | ian mcculloch

não somos... nunca o fomos. conterrâneos...
fomos, somos contemporâneos... partilhamos a mesma época... as mesmas décadas.
precede-o num ano... sou assim um ano mais velho do que ele.
o pai dele morreu perto de dois anos antes do meu...
conheço-o... é me familiar... 

é uma situação muito estranha... quando alguém "cresceu" connosco... "habita" a nossa casa... e mesmo os nossos hábitos e rituais passam por tê-los próximos de nós...
e no entanto eu sou um total desconhecido... entre milhares de tantos outros...

e esta canção... vou-lhe chamar assim mesmo... já a conhecia...
pertença do kurt weil... que o ian mcculloch adaptou antes mesmo de ter deixado os bunnymen... talvez um primeiro ensaio...
estávamos em 1984... e os maxi-singles reinavam... 
e este foi à época uma magnífica surpresa... quando o ian mcculloch estava no auge no que dizia respeito a vocalizações...
tenho memórias... canções presas no meu pensamento... sobretudo pessoas e descobertas...
e algumas saudades...




mais perto > lullaby | low



perto... cada dia mais perto.
porque acredito próximo. de mim. de ti.
de se concretizar...

muito perto.
sinto-o muito perto... 
mesmo perto de acontecer... esse enlace...
desatar esse nó que me persegue e atormenta... e que acaba por nunca se concretizar.
sobretudo porque naquela tarde... nervosamente ganhei coragem e ao balcão daquele familiar café... pousei sobre o tampo da mesa aquela carta que te havia há muito destinado... e me sufocava...
no seu interior um texto escrito numa velha máquina de escrever que o meu pai me havia oferecido dizia apenas assim...
o amor mais belo do que a lógica...

perto. muito perto...
demasiado perto... tão próximo.
tão desejável... inebriante... e simultaneamente tão perigoso...
porque demasiado próximo... tão perto...


terça-feira, 26 de fevereiro de 2019




nunca o disse > playground martyrs | steve jansen

ainda não te disse... 
creio mesmo que nunca te disse.
o quanto o teu rosto fica belo... iluminado à noite apenas pela luz do écran do teu telemóvel...
disse-o agora.

sim, é verdade... e já por diversas vezes o havia reparado...
reparei hoje mais uma vez quando aguardavas por mim ao fim da tarde... junto ao cruzamento que já se tornou para nós tão familiar...

sim, quando nos reencontramos e em conjunto percorremos o caminho de regresso a casa...
essas rotinas que preenchem o nosso quotidiano... enchem o vazio dos meus dias...

será para mim... será em ti...
será em mim apenas... 
será para ambos... não sei... não reconheço...
nunca o disse...
nunca te o disse... 

sábado, 23 de fevereiro de 2019




erros acontecem > a quiet darkness | houses



admito. tenho de admitir. os erros acontecem.
por vezes quando menos se espera. confesso. tenho de ser sincero.
procurei-a, uma... duas vezes.

não mais do que isso. tentei 
tentei igualmente o contacto telefónico... para o qual digo desde já, não tenho muito jeito... fico assim... sem jeito.


os erros acontecem.

a esta distância não sei se me arrependo... de não ter tentado... insistido uma vez mais que fosse.
não me arrependo.





23 fevereiro > doubts even here | new order

faz hoje anos. faz hoje vinte e nove anos que nos deixaste. que me deixaste.
faz hoje vinte e nove anos que partiste... assim sem o esperar... morreste-me.

e deixaste-me aqui, assim... só... desamparado...desconsertado. e desconcertado.
acredita que não o esperava... mesmo que já não houvesse esperança alguma. nenhuma.

a tua frágil saúde foi-se deteriorando ao lonogo desse prévio ano, com constantes recorrências aos hospitais... internamentos... ocorrências... incidências.
mas sinceramente foi uma surpresa cruel, ver-te partir assim de repente, sem forma anunciada... muito menos desejada.
e havia tanto para dizer... havia sobretudo tanto para esclarecer... coisas... pequenas memórias que flutuam... e simplesmente nunca foram desvendadas... histórias... simples fotografias que agora nada significam, porque nada transmitem... e assim sendo toda a vida de uma família parte também...

mesmo agora este tempo todo passado... fazes-me falta.

faz-me falta essa tua clarividência... essa tua tranquilidade... essa paz que geravas sempre que estavas presente... e era unânime, consensual... essa tua serena simplicidade.

e a esta distância peço-te desculpa. por não te fazer justiça.
sobretudo pela minha impaciência... irascividade... agressividade mesmo... falta de educação e paciência que eu próprio criei e fui desenvolvendo...

fazes-me falta. 

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019





















a teoria das coisas > wine destroys the memory | at swim two birds



em teoria...
o álcool destrói... acabará por nos destruir a memória...
em teoria.
o álcool acabará por me consumir as lembranças... 
e assim perderei razão da existência... em teoria.

busco uma razão... maior do que esta afirmação... 
porque o tempo independentemente de tudo... acabará por destruir tudo... consumir todas as memórias... todas as lembranças...todas as viagens... e vivências... todas as estórias que fazem... constituem e constroem a minha história...

em teoria o álcool destrói a memória...