segunda-feira, 29 de abril de 2019




















em viagem > into you like a train | the psychedelic furs

as viagens custam...
as viagens cansam... 
invadem... tudo enchem... de nostalgia...

há sempre uma imensa saudade ao redor de uma qualquer viagem...
custa deixar... custa partir...
mesmo o nervosismo e o entusiasmo não se compadecem...
com essa melancolia... eessa distância... que fica e se perpetua.

há sempre uma enorme saudade em torno de uma viagem...
custa deixar... custa regressar...
pelas experiências... pela descoberta... 

custa partir...
custa regressar...
 


cerimónia > against the past | luxuria


como sempre, havia de tudo...
como em qualquer cerimónia que se preze...
havia gente óbvia... secretárias a tentar ser sensuais...
directores... com pouca direcção... um corpo docente indecente...
famílias que vêm e chegam... para esta cerimónia de tanta e tamanha importância...
sobretudo porque essencialmente quase todos nunca nada alcançaram...
e assim sendo tudo parece brilhante... e inacessível...
demasiado difícil... de entender... intangível para a generalidade...
demasiado fácil diria eu...
mas... a cerimónia continua e perpetua-se...
com formalidades e rituais envoltos em solenidade...
em símbolos e lugares estranhos e pouco usuais...
e essa a sua graça... nos cânticos que se entoam... e aproximam... e fidelizam...
e identificam... esse mesmo percurso nesta terra distante... e solitária...

o carro veloz percorre a estrada... a música comercial que brota do rádio...
e os quilómetros que se gastam... em silêncio...
numa cumplicidade que surpreende...
deixando tudo para trás... em memória...

















mutação > this feeling | puressence

e se os led zeppelin não fossem os led zeppelin...
se os led zeppelin fossem os puressence...
se os anos 60 do século XX... fossem...
os anos 90 do século XX...
se os led zeppelin nunca tivessem existido...
se o whole lotta love... simplesmente fosse o this feeling...

antes...
tivessem existido apenas através dos puressence...
alguém teria notado?...
alguém teria reparado?...

se o som fosse apenas esse, universal... transversal...
e essa encarnação... essa mutação sonora... se tivesse efectuado...
alguém teria dado por isso?...





quinta-feira, 25 de abril de 2019




flores de plástico > colours blue | lowlife


sim, eu sei...
não precisam de insistir, de me estar sempre a lembrar...

tenho mais discos do que amigos. é um facto.

de facto, era até quase improvável, se não mesmo impossível... 
ter tantos amigos... quanto discos...
é que são mesmo muitos discos que já passaram ao longo da minha vida...
e alguns... muitos ficaram... e permanecem sempre.

magazine... lowlife... the paradise motel... july skies... the montgolfier brothers... the durutti column... wire... spokane... david sylvian... eyeless in gaza... virgin prunes... the wake... section 25... the names... entre tantos outros passíveis e possíveis de recordar...
para nomear apenas alguns inomináveis... que nunca inolvidáveis.
estão... e ficarão... amigos por companhia, como desde sempre...




sexta-feira, 19 de abril de 2019




quase sempre > love lasts forever | virgin prunes



quase sempre é assim.
quase sempre.
é sistemático...
nada se resolve... nunca nada se realiza... sobretudo como imaginamos...
é recorrente...
constantemente imaginamos... idealizamos algo... alguém mesmo...
e simplesmente nada acontece como anteriormente pensámos...

a não ser aqui. assim...
nesse dia... sobretudo nessa noite...
a carta que te enderecei e que simplesmente dizia...
essa frase daquela estranha melodia dos virgin prunes... 
o amor mais belo do que a lógica...
o que sejamos honestos... apenas sintetizava a situação... a nossa condição.
e que foi aparentemente, friamente recebida... 
sentada naquele mesa do café ruidoso...
até que noite dentro... ao levar-te a casa... as ruas já desertas...
o atalho através daquele arco... as escadas ali escondidas...
a luz que providencialmente falha...
e tudo torna e transforma...
porque possibilita... aquele pequeno momento escuro a sós...
no céu um avião passa e quebra o silêncio...

quarta-feira, 10 de abril de 2019



rebuçados de mentol > tinsel heart | brighter

gostava que a primavera se tornasse eterna... que o verão nunca acabasse...
dois quilómetros para trás...
deitados na relva ao final da tarde... o sol ainda quente...
os olhos que dificilmente se conseguem manter abertos... 
demasiada e intensa luz...
agarro-te a mão... e assim deitada o vestido ingénuo de flores claras molda-te o corpo...
a pele bronzeada... as pernas traçadas... os pés descalços...
quando o rádio de plástico já enfraquecido pelas pilhas gastas... inicia tinsel heart... brighter...
e tu simplesmente deitada... olhos fechados, apenas dizes...
gostava de ficar aqui, assim para sempre...

terça-feira, 9 de abril de 2019




memórias > air france | blueboy


ainda alguém se lembra?...
será que ainda se lembram?...
das férias grandes na infância...
demasiado longas e familiares para os dias de hoje...
os dias passados na praia... as sestas da parte da tarde... as idas ao pinhal...
e até mesmo as lânguidas tardes de picnic...
os dias que sempre pareciam grandes... 

ainda alguém se recorda... das distracções e entretenimentos...
das brincadeiras infinitas na praia...
das construções na areia... das marés cheias... das marés vazias...
dos bolos da dona maria... a pasteleira que diariamente percorria a praia...
o cheiro que emanava do interior da sua mala de madeira...os bolos de coco... os barquinhos de ovo...
as conchas que se procuravam demasiado tempo... e as pedrinhas...
os minúsculos peixes que ficavam presos nas poças... distraídos com a vazante...
o cheiro dos limos e do mar...
os pequenos caranguejos que sempre nos fugiam...
e as melodias que sempre acompanhavam estas manhãs... e tardes... e que só podem ser air france... blueboy...

será que ainda alguém se lembra?...

sexta-feira, 5 de abril de 2019





















a norte de nenhum norte > river of woe | lowlife

porque é que nunca ninguém reparou?...
porque é que ninguém ligou nenhuma?...
porque é que simplesmente ninguém lhes ligou nenhuma... volto a perguntar...
quer tenham sido os magazine do howard devoto e afins... os lowlife do craig lorentson... os the montgolfier brothers do quigley e do mark tranmer... e tantos e todos os outros que definharam incógnitos... 
desculpem... mas é impossível ficar indiferente a melodias como between two points... time spent passing... feed the enemy... back to nature... a sullen sky... moved to tears...
não é possível ficar indiferente... 
porque aqui tudo é diferente... nada é indiferente...
ou se gosta ou odeia. indiferença, não.
será a distância...ou o afastamento...
ou a simples disfuncionalidade de alguns elementos...
será desolação... será devastamento...

questiono-me como é que estas e tantas outras bandas excelentes... simplesmente percorreram o seu caminho... e se extinguiram no anónimato... excedentes...
será injustiça... será justiça...
será que as pessoas não as mereciam aquando da sua existência...
ou será simplesmente indiferente?...
porque aqui tudo era efectivamente diferente...

se caminhares muito para norte... tudo se tornará demasiado frio... mas então e antes mesmo que prestes atenção... começará tudo de novo a sentir-se quente... 















a singela simplicidade dos northern picture library

venho aqui expressamente por isso...
tornou-se moda...
tornou-se moda gostar de editoras minúsculas e singulares como a sarah records...
nada que não se adivinhasse... desde há longos anos, que tal era previsível...
e venho aqui falar dos northern picture library...
e a família é extensa... antecedentes... descendentes...
passo a inumerar... 
antes dos northern picture library... existiram os the field mice... cujos três membros eram efectivamente os mesmos...
o fim abrupto dos northern picture library... deu origem aos trembling blue stars através do bobby wratten e da annemari davies... e os picture library nasceram igualmente das cinzas destes, na pessoa do mark dobson... ou seja, o bobby wratten, o mark dobson e a annemari davies...
nos trembling blue stars residia também a beth arzy... oriunda dos aberdeen...

confusos... não estejam.
na génese deste grupo de amigos, estavam os the field mice onde pontificavam igualmente o harvey williams... que fundou os another sunny day onde também pontuou o bobby wratten... e fez igualmente parte integrante dos blueboy... para além de ter lançado registos em nome próprio...
os blueboy integravam igualmente o keith girdler... que fundou os arabesque e os beaumont...
e o que é comum a todos estes músicos?...
uma cidade... bristol...berço da sarah records... que bem reflectiu esse mesma imagem ao longo de muitas edições... especialmente as compilações com referências de catálogo a percursos de transportes públicos de destaque e fotografias emblemáticas de bristol e seus subúrbios...

confusos... não estejam confusos...
na sarah records cruzaram-se igualmente os caminhos de antigas bandas da factory records... nomeadamente os the wake... que lançaram vários registos mais pop nesta editora... mas igualmente se fundiram com os trembling blue stars... para formar os the occasional keepers... 
mais tarde o bobby wratten foi convidado para integrar os future conditional... banda onde pontificava o glen johnson... a angèle david-guillou...oriundos... dos piano magic...

dizer isto... apenas para dizer que os piano magic na pessoa do glen johnson... sempre foram seguidores atentos da factory records... da 4ad... les disques du crépuscule... e da pop mastigável e descartável da sarah records...
valerá aqui referir que o glen johnson convidou ao longo do percurso tido nos piano magic... pessoas como o brendan perry... e o peter ulrich na primeira encarnação dos dead can dance e this mortal coil...o simon rivers dos the bitter springs... o john grant dos the czars... o peter milton walsh dos the apartments... a audrey riley dos the hope blister... e até mesmo o bigas luna... no writers without homes... na sequência de terem colaborado na banda sonora de son de mar...
resumindo... tudo autores de belas e lânguidas melodias... sombrias e melancólicas... raramente apelativas ao ouvido... do comum ouvinte...

o mundo é complexo, mas demasiado pequeno...





quinta-feira, 4 de abril de 2019















o universo muito vasto e limitado da sarah records

eu sei, não digam nada...
é uma lacuna minha. grave até talvez...
nunca aqui falei dos brighter... dos the field mice... the orchids...blueboy... another sunny day... eternal... the sweetest ache... even as we speak... east river pipe... e tantos e todos as outras bandas que fizeram parte do catálogo da sarah records e mais tarde da shinkansen recordings...
tome-se como exemplo os blueboy... e não é ao acaso...
porque foi através dos blueboy... e para ser honesto, igualmente os trembling blue stars... que cheguei as estas editoras...
os blueboy e o seu magnífico álbum if whishes were horses... franquearam-me as portas da sarah records...
os trembling blue stars através do her handwriting... deram-me acesso à shinkansen recordings... para ser franco, a editora gémea da sarah... quando esta fechou portas após as suas cem edições... 
o matt haynes e a clare wadd lançaram a sarah através de um projecto de edições manufacturadas a partir da sua própria cozinha...
quando terminaram esta editora... fundaram a shinkansen com bandas oriundas da sarah records... sendo que os the field mice não existiam mais... nascendo aqui os trembling blue stars... que inauguraram a shinkansen recordings...
confuso... nem tanto...
o if whishes were horses é um disco tremendo... um portento musical na sua simplicidade...
a imagem da capa capta imediatamente a nossa atenção... sendo certo que esta honestidade só lhes fica bem... 
a imagem a preto e branco das crianças na praia não é mais do que o reflexo do seu universo musical... num misto de the durutti column e felt... numa sintonia imprópria para qualquer imaginário...
ou como vem referido na capa do último lançamento da sarah records...
i think i found something i think i was looking for,
i think i found it and besides i found a little bit more...


terça-feira, 2 de abril de 2019






malha e renda > wire, modern english e afins


ninguém fala dos modern english?...
então falo eu...
conforme diz o dicionário da língua portuguesa... a definição de malha é...
cada uma das voltas que formam a rede... conjunto de estruturas que formam uma rede...  cada uma das voltas da meia e de certas outras peças de vestuário...
e a propósito de renda... a definição é a que se segue...
obra delicada de malha ou tecido aberto, com vários desenhos, feita em linho, seda, fio de ouro ou prata...

isto vem a propósito do que dirão alguns...
do mesh and lace dos modern english...
é preciso alguma coragem... ou simples estupidez... para em pleno ano de 1981... e perante tantos e tão boas bandasa emergir... chamar ao seu primeiro registo... mesh and lace...
neste caso concreto... nem coragem, muito menos estupidez...
o primeiro álbum dos modern english é um portento... ao alcance de poucos... 
músicos e igualmente ouvintes...
descobri-o assim quase por acaso... numa manhã de uma segunda feira... feriado em inglaterra... numa esquina de oxford street, junto a marble arch...numa minúscula discoteca virgin... milagrosamente aberta...
vocês não têm noção... era uma loja à nossa escala... com um único empregado ao balcão!... 
nada de megastores, música aos berros e discos no top a preencher as paredes...

e aí... com a magistral ajuda e paciência do empregado da loja... hesitei bastante... entre o tell me easter's on friday dos the associates... o 154 dos wire... o mesh and lace dos modern english e o labour of love dos mass... tendo optado por estes dois últimos... ou não fossem ambos carismáticos... enigmáticos... e acreditei eu nessa altura... difíceis de encontrar...
confesso... a editora também pesou na hora da escolha... e mesmo a estética das capas e seus interiores... 
sim... nada era como hoje... 
o tempo escasseava... assim como o dinheiro em fim de viagem... já magistralmente contado...

se me arrependo?...
não, não me arrependo...
o tell me easters on friday, nunca mais efectivamente lhe pus a vista em cima... o 154 adquiri-o pouco mais tarde a mesma versão vinda directamente de paris... 
o mesh and lace ainda é um disco misterioso e belo nos dias de hoje... 
estranho mesmo após todos estes anos... o melhor que os modern english produziram...
e o labour of love... renascia das cinzas dos rema-rema... era o início experimental de uns amigos que mais tarde viriam a chamar-se the wolfgang press... 

que mais dizer?...
está tudo dito.

segunda-feira, 1 de abril de 2019




mulheres de uma certa idade > the light | love and rockets



haverá disco mais beatles do que este?...
digam lá... haverá?...
o earth, sun, moon dos love and rockets é o disco mais beatles... que os próprios beatles a seu tempo não fizeram...
sim... eu sei... o fim dos bauhaus trouxe isso mesmo... o fascínio do progressivo... do psicadelismo... devolveu aos três elementos o que o peter murphy não suportou... 
o regresso dos anos 60 e 70... mesmo até na introdução de cores... padrões... e ambientes estranhos e distantes da austeridade negra e obscura que sempre povoou os bauhaus... entendo.
entendo sobretudo o peter murphy... embora tenha logo feito igualmente concessões gráficas distantes do seu imaginário... mas, adiante...

mas igualmente sei que os love and rockets e o que se lhes seguiu... em forma mais obscura na encarnação dos tones on tail... visavam uma nostalgia retropop...
e se o seventh dream of teenage heaven era um prenúncio.. vinha já embebido de todo esse espírito... e despoletou um revivalismo nonsense à época... o glamrock de marc bolan... a beatlemania... o psicadelismo que invadiu até as indumentárias e imaginário estético... e que se adensou no registo seguinte... express... embebido e repleto dessa poção pop e psicadélica... onde até convergiam os pink floyd de sid barrett... bowie e bolan... 
mas foi no entanto em earth, sun, moon... que tudo se sintetizou... e cristalizou...
foi-se assim algum experimentalismo... talvez até um misto de brutalidade sempre presente e emergente nos bauhaus... e a que se retornou aquando da encarnação tones on tail... na realidade toda a discografia a solo do david j e do daniel ash sempre demonstraram essa admiração... esse fascínio por esse tempo já passado...

digam lá...
haverá disco mais beatles do que este?...