domingo, 31 de outubro de 2021

não devia ter vindo > music complete | new order









não devia ter vindo > music complete | new order


não devia estar aqui, não devia ter vindo... assim.
nem devia ter chegado, aqui.
mas a verdade, é que aqui estou.
e assim sendo, aproveito... 
aproveito para falar... e fico até um pouco incomodado... desconfortável até, talvez.
porque não falar de música, ao invés...
é sempre fácil partilhar, adicionar links... mais fácil, mais rápido. menos comprometedor...
é no entanto, mais interessante falar, dizer o que nos vai na alma...
é que não é costume. na música não é costume... falar.
falar-se assim de música e do seu silêncio também contido.

falo então dos newOrder... e das deliciosas melodias que produzem...
e não é fácil falar dos newOrder... embora por vezes pareça.
porque estarei a musicar a fala...
e nos newOrder toda a música nos absorve... porque tudo sintetiza.

o que dizer... o que posso dizer... desde o primeiro single o ceremony, que os acompanho.
os primeiros registos são serenos e até sofridos. que não sofríveis.
existia aqui uma serenidade intangível... soberba...
uma tranquilidade que por vezes se imagina e deseja...
assim na distância. destes 35 anos que entretanto se passaram muito aconteceu.
e alguma música resistiu, sublime.
o novo disco já não era aguardado... 
após tantas incidências... tantas dissidências... surge agora.
confesso. não é de longe um grande disco.
mas já os seus antecessores também não o foram.
desde technique que os newOrder já não mostravam um apuro...
existiam sim... melodias soltas... pontualmente interessantes.
o get ready é um bom exemplo disso...
mas, e o que dizer de music complete...
é estranho. o baixo do peter hook já lá não está... tentando estar...
as músicas soam estranhas... por vezes roçam até o disco-sound... com coros tipo supremes... mas também há melodias maiores... povoadas com os fantasmas dos kraftwerk... fortes... e seguras. eficazes mesmo.
o imaginário permanece lá... mesmo com a erosão do tempo...
a trilogia unlearn this hatred... the game... superheated... é disso exemplo.
e perante a mudança de editora, permanece o design do peter saville... que se mantém fiel a si mesmo.
a capa é tudo menos anónima... aliás como todas as capas dos newOrder de peter saville...

mas não digam nada, eu sei...
sim, eu sei. não devia ter vindo.
não devia estar aqui.

terça-feira, 19 de outubro de 2021

já aqui tinha estado > where does a body end? | swans









já aqui tinha estado > where does a body end? | swans


já aqui estive, estou certo... seguro disso.
posso afirmá-lo, sem ponta de dúvida. nenhuma.
uma vez sei-o de viva voz.
quando vim ver o concerto do michael gira... e até dialogámos um pouco após o mesmo... dado que ainda conservo uma página a4 com o texto impresso de uma das letras das músicas que ele cantou. qual? 
já não sei qual... só o saberei dizer se for tentar encontrar o dito papel... onde a letra está impressa, e onde o michael gira atenciosamente colocou a sua assinatura.
fui ver esse concerto... acústico diga-se... pouco propício a certas melodias dos swans e do próprio... mas até foi engraçado... que não interessante.
bem, dito de outro modo... não foi desinteressante... mas igualmente não foi desengraçado.
obviamente falo de uma sala de espectáculos... uma sala de teatro... onde por vezes todas as atenções se concentram e tudo acontece... seja no til ou o tac... 

e foi aí... nesse mesmo cenário... 
nesse mesmo palco que agora diariament piso e converso e atento escuto e vejo.
observo sobretudo as sombras... e o escuro.
a intensidade do escuro por oposição...
reparo agora mais no contraste... por oposição à luz directa...
fixo-me nas sombras e penumbras... e percorro vagarosamente o palco no escuro...
agora sei...
estou certo, de já aqui ter estado...


domingo, 17 de outubro de 2021

a questão que se põe > and the question remains | big hard excellent fish




a questão que se põe > and the question remains | big hard excellent fish

somos assim. mesmo que por vezes não o desejemos...
somos cíclicos e repetitivos. previsíveis mesmo.
somos seres rotineiros... com vícios e manias... quotidianos...
mas sobretudo temos tendência a nunca mudar... 
antes pelo contrário, a tendência é tudo agravar-se... os vícios, as rotinas... o quotidiano demasiado óbvio e previsível... 
o tempo e a idade tudo gastam... tudo desgastam.

afirmo sem problema algum. nenhum.
reparo pouco nas pessoas... poucas me interessam. 
pouco me interessa a vida alheia... as rotinas, no fundo lá está, o quotidiano...

verdadeiramente isso não me interessa.
isso nunca me interessou... sinceramente nunca me interessou.
interessou-me aqui e ali o momento... a situação. específica.
por vezes a fragilidade que se constacta... e singularmente vem ao de cima...
neste caso específico interessou-me a pessoa... talvez até o momento e a dinâmica.
interessou-me a pessoa... nunca a situação. 

é literalmente como na música.
interessa-me a música em si... o universo que se pretendou construir...
interessam-me as palavras que se soletram e dizem... mesmo o modo como se dizem.
interessam-me as vozes... o som que produzem... nunca a qualidade do canto...
e isso inevitvelmente faz com que melodias, digo-o eu... 
como and the question remains... imperfect list... dos big hard excellent fish... ou born, never asked de laurie anderson...

sintetizando e resumindo. 
a eterna questão que se põe...
and the question remains...
what is behind that curtain?...



o teles > cadenza | andrew poppy


 











o teles > cadenza | andrew poppy


conheci o josé teles há poucas semanas... um par delas, se tanto.
personagem solitária e simpática... impossível de não se reparar, mesmo neste universo de faz de conta... que todos os dias se ergue e abate, qual derrocada rotineira que constrói o quotidiano de todas estas figuras.
caótico e metódico... figura central dessa estranha peça de teatro... monólogo onde efectivamente três figuras surgem... mas apenas uma dialoga... as outras duas remetem-se ao silêncio.

o teles é um sancho pança mas igualmente o dom quixote desse mundo que todos os dias se ergue e constrói... todo um universo fantasioso que permite no escuro da representação... avivar o imaginário e despoletar o sonho de todos os espectadores...
alimenta-se desse universo que afável e diariamente ergue e remonta... quais peças de um puzzle memorizado, que permite esse automatismo laboral... mas que inevitavelmente tudo energeticamente consome... 
e vive nesse limbo e nessa aura, entre a boca de cena e a esperança de um palco que possa surgir idealmente para si... nas profundezas do sub-palco e bastidores onde tudo igualmente se passa e vigia... 
a luminosidade e o público que observa... mas também as sombras e o silêncio de quem de fora assiste... controla e vê...
com a idade essa ideia foi-se desvanecendo... e automaticamente se foi apoderando dos instrumentos próprios das montagens e desmontagens desses cenários que também são a vida... agora a sua.
obviamente formou-se na área... mas por um infortúnio... esse acaso que apenas permite por vezes, bastas vezes... aos menos dotados avançar... e assim sendo, cristalizou. 
aceitou. decidiu aceitar. a situação... não se rebelar...
tem o curso de teatro... logo é actor como todos os outros que serve... e seguiu igualmente cenografia... o que lhe permite uma enorme visão e liberdade de espírito... e essa sua formação permite-lhe dispor as coisas com o fim de iludir... ou não fosse ele mesmo mestre da encenação...

o que mais me chamou a atenção, foi sobretudo a sua sabedoria... mas igualmente a sua descontração e o carácter afável... a ausência de rancor... nunca agreste e amargurado como a maioria das pessoas que veem uma promissora hipótese... nunca se concretizar.

para mim o personagem central e maior daquela peça... 
onde para muitos outros não passa de um ignoto mero figurante...
e torna a rotina daquele espaço num emaranhado de luz e sombras, que em tudo recorda e faz lembrar essa melodia circular e viciante de andrew poppy... cadenza.



terça-feira, 5 de outubro de 2021

esperem tudo e nada menos (2) > rose | bark psychosis





















esperem tudo e nada menos (2) > rose | bark psychosis

o nervosismo é evidente. assim como o desconforto. 
igualmente perceptível na sua voz, uma suposta e improvável admiração...
não entendo, não consigo relacionar, de onde vem tanta insegurança...
já não é nenhuma criança... e no entanto não pára quieta... inquieta... as mãos incessantemente em movimento... na ânsia, a procura de qualquer objecto que as proteja e defenda... 
e esse constante movimento distrai e afasta, do cerne da conversa...
creio ser essa mesmo a sua intenção... não avançar, tentar não se envolver... comprometer...
simplesmente defender-se...

fico... sinto-me desconcertado... desconfortável mesmo. 
desconsolado.
imaginava de outra forma... sinceramente, imaginara tudo de uma outra forma...
imaginei tudo de outro modo... mais maduro, adulto... sobretudo mais seguro.
certo que não a via há uns bons anos... mas nunca imaginei esta diferença... esta distância... esta frieza, esta divergência... sobretudo esta insegurança...
decidira ir visitá-la onde actualmente reside... a viagem fôra longa... começou logo pela manhã...
pensei inclusive em levar-lhe uma cópia do son de mar dos piano magic... ou o codename: dustsucker dos bark psychosis... embora, confesso... este último fosse uma escolha mais arriscada...
se bem ainda a recordo e imagino, conheço... o que já começo a duvidar... o disco dos piano magic iria encantá-la... creio, assentar-lhe-ia que nem uma luva... agora tendo a duvidar...
os bark psychosis sempre foram mais livres e inesperados por assim dizer... nunca óbvios... e isso reconheço, por vezes provoca um grande transtorno na generalidade das pessoas... provavelmente pelo inesperado, pela impreparação mesmo.
os bark psychosis exigem disponibilidade e alguma maturação... e obviamente, tempo.
se não houver disponibilidade, não haverá lugar ao tempo.
e não se entra assim, de repente a frio... não é uma música imediata e demasiado fácil...
porque quando revemos o nosso passado e simplesmente ouvimos os bark psychosis, podemos esperar tudo e nada menos... e é uma música que exige responsabilidade... e atenção e dedicação.

assim sendo... meto discretamente a mão na mochila preta... e hesito...
evito presenteá-la com essa surpresa que lhe havia preparado... e devagar retiro a mão do seu interior... e disfarço... falo do tempo e de crianças... evito a vida pessoal...

não a sinto preparada...
nunca imaginei esta diferença... esta indiferença...
não me sinto preparado...





21 de setembro > richard h. kirk













21 de setembro > richard h. kirk


jamais irei esquecer este dia. 21 de setembro de 2021.
o dia em que richard kirk morreu.
soube da triste e inesperada notícia ao fim da tarde... provavelmente pouco depois da sua morte.
o site da mute anunciava a sua morte...
tudo me surpreendeu. sobretudo pelo momento, e pela sua idade... a sua prolífica actividade... mesmo as suas digressões e performances... ainda mais agora que havia voltado a encarnar a pele dos míticos cabs... e já três novos registos, álbuns diga-se em abono da verdade... haviam sido publicados... para além dos vastos registos electrónicos não "palpáveis"... nada fazia prever este desfecho. 
então ultimamente tanta actividade e energia... no reatar dos cabaret voltaire... 3 registos em tão pouco tempo... 

teve alter-egos e heterónimos em demasia, creio...
já que as diferenças musicais não eram assim tão evidentes...
a subtileza das abordagens musicais... se por vezes perceptíveis... como no caso dos sandoz... outras vezes tornavam-se quase imperceptíveis... de tão subtis...
os cabaret voltaire foram a casa-mãe... onde acidentalmente ou promonitoriamente no fim regressou...
sempre foram creio, o foco... o desígnio maior... principal.
que se começou a desmoronar aquando da saída de chris watson, o mais inconformado e marginal dos três elementos integrantes... que sobreviveu até à tendência mais pop da banda...
mais tarde... e após uma fase pop... electro... acid e mesmo funk... surgiu o abandono por parte de stephen mallinder... e a partir desse momento os cabs... obviamente desintegravam-se e deixavam de existir... pensava eu...
como estaria enganado...
existiram alguns concertos, tímidos e esporádicos... 
até que após anos prolifícos de alter-egos em catadupa... ressurgem os cabaret voltaire... e logo com concertos e 3 registos pouco ou nada espaçados no tempo...
tempo esse que finda agora... para sempre...
a electrónica no entanto, persiste...