sexta-feira, 22 de abril de 2016



receio dizer o nome > preparations for a journey | david sylvian

todos o sabemos.
as pessoas são assim mesmo. sempre o foram. sempre o serão. não mudam.
a saudade em derradeira alternativa é o que resta... o que fica...
e a memória o que conta... 
todos o sabemos. as pessoas não são eternas.
mas por mais que se tente... e se acredite, nunca se está preparado...
para esse vazio... essa ausência que bruscamente se instala...
e quando já nada resta... resta a saudade...

levamos uma vida inteira a preparar-mo-nos para... a morte.
porque inevitavelmente é aí que tudo culmina... e acaba.
e não prestamos atenção alguma... à vida...
que distraidamente nos vai passando... e assim sendo consumida, nos aproxima do ocaso...
e porventura é em momentos assim... que lhe atribuímos significado...
estranha a condição humana...
tudo queremos fazer... quando já nada há a fazer...
e todos o sabemos... 
adiamos visitas... adiamos conversas... evitamos encontros... hesitamos...
e todos o reconhecemos... o quanto o tempo é finito... 
o nosso, e o dos outros.
mas todos o sabemos.

tal como o david sylvian nos deixa em preparations for a journey...
mas a verdade é que ninguém... nenhuns ou poucos se preparam... ou simplesmente presenciam... 
como refere jean baudrillard naquele seu magnífico livro... a ilusão do fim...
existe um receio, um medo mesmo... da serenidade que então nos invade...
e esse receio do desconhecido... do vazio... do silêncio... do fim que se abate...
não nos permite lidar... aproximar... desse tempo... nesse momento.
e todos o sabemos.

segunda-feira, 18 de abril de 2016



detesto tudo aqui > fallen not broken | the wolfgang press

detesto esta sopa.
detesto o programa que está a dar na televisão.
detesto esse teu novo penteado.
detesto até a cor da minha camisola.
detesto essa cor com que agora pintas as unhas. aliás, detesto unhas pintadas.
detesto esses sapatos que usas. e detesto o cheiro desse perfume.
detesto tudo. aqui.
detesto tudo aqui.
e por muito que não goste... tenho que ouvir... e vou ouvir...
fico a ouvir fallen not broken... dos the wolfgang press... porque por muito mal que fique...
fico bem.

quinta-feira, 14 de abril de 2016




de passagem > a light far out | the wake

não, não é a idade que conta...
que obviamente também conta.
mas é algo superior... talvez seja a indefinição e instabilidade... da vida.
sempre que alguém nos morre... instala-se esse desconforto...
que não apenas tristeza... 
há algo superior aqui... não definido... mas definitivo...
sempre que alguém nos parte... demonstra-se essa fragilidade... e sobretudo a temporalidade... 
da nossa existência aqui...
dessa rápida passagem... e curta permanência...
de que serve... interrogar-se-ão alguns... tantos... e no entanto tão poucos...
de que nos serve... esta passagem, por aqui...

sim... eu percebo.
enquanto composto de elementos químicos... é óbvia a degradação...
e assim sendo, o caminho para a degeneração e ruptura...
sim... parece demasiado fácil essa explicação...
e o resto?... se é que algo resta...
os sentimentos... sobretudo a razão... 
de que nos serve então a inteligência?... mera explicação e aceitação do irracional?...
de que nos servem as relações que estabelecemos... os laços... com os outros... com determinados lugares... alguns espaços até... 
apenas de refúgio temporário e passageiro... ou algo de uma dimensão maior... superior e ainda não perceptível...
não creio na ideia do bem e do mal... do céu e do inferno...
o paraíso para alguns... é a própria vida terrena... para muitos e tantos outros... um inferno...
onde pára a justiça... a igualdade...

assim... num dia em que mais alguém que reconhecidamente conhecia... me parte e deixa...
fico mais só e mais pobre... e fico a ouvir a light far out dos the wake...
porque aqui tudo é volátil... efémero e defunto...
e nessa viagem transitória e periódica... onde por vezes tudo é interrompido...
não basta estar atento e alerta... porque nunca nada é perene...
tudo é eterno e duradouro... até tudo acabar...
a questão será então sempre eterna... porque vamos... e para onde vamos... se é que alguma vez estamos...

sexta-feira, 8 de abril de 2016




nº 16 > sacrifice | lisa gerrard & pieter bourke

provavelmente já não te lembras... não te recordas...
mas, ainda a tenho...
uma rifa com o número 16dezasseis... que um dia me impingiste... sim, impingiste, é mesmo esse o termo... assumiste que devia... que deviamos todos adquiri-las... mas alguns sorrateiramente recusaram...
sim, eu sei... não te recordas...
disseste na altura que era para ajudar uma amiga tua...
e de imediato me depositaste na mão uma rifa... e o seu custo... 1um mero euro.
verdade... que nunca me foi informado o resultado... do sorteio...
ou se porventura teria eu ganho o prémio... que duvido...
nunca tive sorte alguma... nenhuma mesmo...
verdade que nunca ganhei nada... nem sequer estive perto... comigo sempre foi assim...
mas já agora gostava de ter sabido... quer o resultado... ou mesmo em que é que consistia o prémio... mas, fica para outra altura...
sim... deixa estar... não te incomodo mais...
vou ficar assim a ouvir sacrifice da lisa gerrard & pieter bourke... 
e obviamente fico bem... 






















porque não > the jeweller | this mortal coil


porque nunca ainda aqui falei dos this mortal coil... questionar-se-ão alguns...
eu próprio me interrogo...
simplesmente nunca calhou... direi disparatadamente...
com discos tão coesos e interessantes, realmente... não faz...
não faz sentido algum... nenhum, mesmo.
deixar passar assim... em vão... músicas que o tempo cristalizou...
e se encontram... paradas e suspensas... à espera que alguém as oiça e lhes devolva e existência que sempre mereceram... e acreditei lhes estar reservada...
todo e qualquer registo dos this mortal coil... é assim intemporal...  
nessa estranha visão de ivo watts russell... quando pretendeu ser músico... ser produtor... como se não lhe chegasse ser dono de uma editora...
as selecções musicais de todos os registos dos this mortal coil... assim como dos hope blister... têm o seu cunho e responsabilidade... bem como a escolha dos músicos integrantes de cada melodia... 
peca por vezes a escolha de alguns temas... mesmo que a sua transformação os transfigure... e lhes dê uma nova existência... mais contemporânea...
atente-se na versão do song to the siren... do tim buckley... magistralmente interpretada pelos cocteau twins e afins... entenda-se...
o tempo é outro... a editora foi vendida... o ivo partiu para um retiro... um exílio voluntário longe de toda uma civilização... e as melodias para aí ficaram... assim cristalizadas com o tempo que entretanto passou...
por vezes é assim... ganham vida quando se devolvem à vida...


quinta-feira, 7 de abril de 2016





















às vezes é assim > are you coming down this weekend? | his name is alive


por vezes é assim... também é assim.
sobretudo quando existe disponibilidade, e tempo...
para pensar. para reflectir...
e confesso... esta música ajuda... sobretudo concentra... e inibe...
a razão, de se desviar... do sentido... menos racional...
impede... a dispersão... e assim sendo, obriga...
como que educa... não permite... desvios...
a tentação é por vezes maior... do que a razão...
mas acima de tudo a imaginação...
os imaginários que se criam e produzem... propositadamente... acidentalmente até.
como o meu regresso, aqui... aos his name is alive... 
que foi meramente... inesperado...
passo a explicar... estava numa longa e morosa audição dos this mortal coil... embebido do blood e do filigree & shadow... quando eventualmente tropecei nos his name is alive...
cuja colectânea always stay sweet... é um dos segredos mais bem guardados... e aguardados até, diria eu...
deveria chamar-se mesmo always stay secret... tal a imensidão de boas melodias...
e fortuitamente deliciei-me com a sequência de músicas serenas e introspectivas... que magistralmente se sucediam... em catadupa...
de entre todas destaco apenas a abertura... o are you coming down this weekend?... pelo inesperado... já que todas as outras são aqui injustamente, não ignoradas... mas simplesmente não referenciadas...
por vezes também é assim... é simplesmente assim.