quinta-feira, 26 de dezembro de 2019





















natal 2019 > upon this earth | david sylvian

a vida também é isso.
é sobretudo isso.
a nossa infância o sentirmo-nos protegidos... as nossas vivências... as nossas fraquezas e as nossas forças, se é que elas existem e até alguns sonhos para alguns...poucos.
a nossa juventude e as descobertas em catadupa as nossas ilusões e desilusões...
as nossas frustrações... 

esta é a época quando declaradamente nos sentimos mais próximos... expostos. fragilizados mesmo.
a ideia de comunidade... partilha... expectativa e vivência... altera-se, confrontando e confundindo o quotidiano. nosso. como igualmente o de todos.
são tempos de partilha... cumplicidade e proximidade... mas igualmente estranhos... porque tudo alteram no nosso quotidiano... nas nossas rotinas... na nossa vida.

o natal é sobretudo isso... uma ilusão... fugaz que tudo distorce... onde toda a gente surge atenta e disponível... complacente e cuidadosa...
essa é a miragem destes tempos festivos... que cumprem apenas e religiosamente a trégua deste tempo. 
existe durante esta quadra.
depois regressamos ao mesmo do nosso habitual mundo... 

sexta-feira, 20 de dezembro de 2019




colecção? qual colecção? > requiem again | the durutti column



por vezes é assim, também é assim...
por vezes é imperceptível... para a maioria das pessoas...
não é explicável. é inexplicável.

não, não é coleccionismo.
não, não se trata de fazer uma colecção... sim, eu sei... é difícil de explicar... a quem não tem ou sente essa necessidade...
é estranho... é um impulso... 
assim como algo que nos faz falta... que preenche um vazio que desconhecíamos... mas que efectivamente existia em nós...
sim, eu sei... é estranho. 
mas, não é uma colecção... não, nada disso... não se trata disso.
simplesmente é... algo que nos faz falta... e pacifica... 
e preenche e acompanha. sim, sobretudo faz companhia... muita companhia.
é como que um bom amigo... próximo, íntimo e mudo... que está ali omnipresente quando o queremos e desejamos ouvir.
e essa serenidade e certeza, traz segurança.

assim sendo vou ouvir requiem again... the durutti column... deste disco da minha colecção...
colecção?... qual colecção?...




nada de novo > prayer | the durutti column



ainda me lembro. de ter recebido este disco das mãos do meu pai...
e o olhar dele... o contentamento espelhado no seu olhar... por me ter conseguido dar aquele... e tantos e todos os outros discos que invariavelmente lhe pedia... em listas construídas em pequenos pedaços de papel... religiosamente organizados... por importância... 
sempre foi assim... sempre que ele viajava, dizia-me com a maior tranquilidade que alguém pode ter... e que imagino, estranhamente não herdei...
se queres que te traga algo, faz uma lista... que eu de antemão já tinha feita...
organizava tudo numa folha A4... muitas vezes escrita à máquina... por ordem decrescente de interesse... que não importância...
era diferente.
era mesmo muito diferente. compravam-se discos por vezes até desconhecidos... 
sobretudo por vezes, arriscava-se. sim, o termo é esse. arriscava-se.
havia um feeling... um sexto sentido que nos dizia que aquele disco ou aquela banda tinha estado associada a outras que gostávamos... ou simplesmente eram de uma mesma editora independente que religiosamente seguíamos...

era diferente, era mesmo mutio diferente.
e assim sendo ainda hoje ao ouvir o another setting dos the durutti column... recordo essa tarde desse domingo, em que o meu pai recém chegado de mais uma viagem a londres... me deu um saco e me disse simplesmente... isso foi o que te consegui encontrar... 
e vocês não têm noção... no meio de diversos discos... simplesmente estava também, religiosamente selado... o another setting...acabadinho de sair... nessa primeira edição que trazia um insert em cartão grosso... um stencil, para sobrepôr na capa... e que tão surpreendido e fascinado me deixou...

e aí... quando ainda incrédulo cuidadosamente manuseava a capa e colocava o disco no prato do gira-discos... o meu pai... com um sereno sorriso estampado no rosto simplesmente disse: afinal não foi assim tão difícil de encontrar esse disco que tanto desejavas...

vindo dele... assumo-o agora... não era efectivamente nada de novo.


quarta-feira, 18 de dezembro de 2019




nódoa negra > dedicated | minimal compact


dou comigo a escrever, assim apenas.
e logo eu que não sou... ou tenho pretensões de escritor.
escrevo, assim palavras soltas... pensamentos avulsos que se tentam interligar... com palavras, que tentam estruturar e construir um texto. articulado... lógico e coerente.
essa coesão por vezes não é precisa.
precisa de necessária... porque necessária.
precisa por necessidade... não por precisão.
precisa, porque necessária... não por exactidão.

são assim estes textos... carregados de palavras... por vezes sem coerência... mas que continuam a sedimentar-se... mesmo que sem grande nexo.
e isso é próprio dos que não têm pretensão a serem escritores...
simples amadores e amantes de palavras... frases... intenções e intuitos.
alimentando-se de letras... que se constroem e constituem palavras. 
e que acabarão por construir um texto. este.