sexta-feira, 29 de dezembro de 2023

receio > wall | nils frahm




















receio > wall | nils frahm


tenho algum receio...
do que vá encontrar.
parece-me algo óbvio... tanta coincidência.
acho estranho... demasiado estranho.

tenho algum receio...
sobretudo do que possa encontrar.
até mesmo, ou sobretudo pelo histórico dos antecedentes.
não gosto de surpresas, muito menos deste género...
fico desconfortável, e isso obviamente nota-se... e não sei o que dizer.
mas afinal tudo é óbvio, tudo é fatal...

a vida passa e por vezes nem nos apercebemos... 
é demasiado rápido... e desgastante... tudo consome.
e entramos nas nossas vidas e rotinas... e simplesmente esquecemos tudo o que nos rodeia, e que invariavelmente tende a mudar e avança...

deixamos assim só, de lado... para trás pessoas que foram e são significantes nas nossas vidas... e simplesmente esquecemos... e pomos de lado... e deixamos no tempo... e simplesmente esquecemos.
saem do nosso quotidiano...
e desvanecem-se... desaparecem do nosso imaginário e rotinas. e um dia perdem-se porque deixam de fisicamente existir.
e quando morrem deixam saudade... mas deixamos de ser úteis... inúteis.

e ficam assim lá longe... no passado.
nesse passado que no entanto, estrutura e alicerça... faz parte integrante da nossa vida...

agora distante... 
e nessa distância que nos aproxima e convoca a todos os que nos antecederam...
posso afirmar que já não tenho receio algum...
nenhum.

pai, mãe... aí vou eu...
largo os daqui, agarro os daí...


segunda-feira, 18 de dezembro de 2023

surto > near light | ólafur arnalds



surto > near light | ólafur arnalds



tudo assusta aqui...
verdadeiramente já nada controlo...
e a tudo recorro...

tento manter a calma... a serenidade...
o pulso acelera... e perco o controle...
tento... disfarço... símulo e dissímulo...
mas já não consigo disfarçar...

tudo é agora demasiado óbvio... e rápido...
emergente mesmo... como um surto...
que não urgente... a urgência não serve aqui... impede e condiciona...
imatura e imprópria para momentos como este, agora...
onde se exige... raciocínio... e delicadeza... cuidado e entrega...

tudo é um susto... e na realidade já nada mais assusta.
venha o que vier...
nem todos os dias são bons, são iguais...


terça-feira, 12 de dezembro de 2023

no horizonte > tender calm | nosound

 





no horizonte > tender calm | nosound


a vida agora é outra...
mais curta... sobretudo menos ágil...
e não se compadece...

já não se compadece... porque o tempo urge... e falta...
começa a escassear... sente-se, prevê-se o horizonte...

a vida agora é outra...
menor e mais frágil...
e já nada transparece...
ou mesmo apetece.

a vida agora...

a impossibilidade da possibilidade > familiar | nils frahm





















a impossibilidade da possibilidade > familiar | nils frahm


a impossibilidade.
creio... posso ter descoberto algo... no meio desta impossibilidade.
tornar possível a improvável impossibilidade.
o estranho é ter necessitado de mais de 13 anos para chegar a esta suposição... que não conclusão.
e passo a explicar.
aquando de uma visita ao hospital onde se encontrava internado em final de vida... a um saudoso amigo, que se encontrava fortemente sedado... e onde surgiu a simpática possibilidade de o ver presencialmente... através da permissão dos seus filhos.
fôra lá, como sempre certamente o teria feito... quando soube do seu súbito mas não surpreendente agravamento do estado de saúde.
já o tinha outrora visitado em situação delicada... quando me desloquei aos cuidados intensivos e o encontrei em lenta mas surpreendente e eficaz recuperação... 

agora não.
sabia da sua condição mais débil... da recaída... do agudizar da esperança...

encontrei um amigo... sereno mas agitado... muito frágil... delirante e fortemente sedado... que mesmo assim não deixou de me reconhecer e dirigir algumas palavras... antes de novamente se alhear... 
existia naquele quarto... algum cansaço... alguma descrença mesmo... não que não se pretendesse acreditar ainda... mas a réstia de esperança era já diminuta...
e no meio da agitação e do delírio... surge o reconhecimento e a estranha questão...
porque terá ele enunciado o meu pai... que nunca conheceu...
primeiro dirigiu-se a mim e questionou-me... logo antes mesmo de novamente desfalecer...
tomei aquilo como uma perturbação inconsciente... sobretudo uma alucinação... um discurso incoerente e inconsistente... uma exaltação do espírito... 
porquê mencionar o meu pai, que ele nunca conheceu... e que já na época, tinha morrido há mais de 20 anos?... delírio delirante ou alguma premonição na antecâmara de um qualquer outro lado?...

e, se no entanto, se nunca na realidade tentei perceber a situação... o certo é que nunca totalmente a esqueci...
recordo agora... e questiono o passado... passado tanto e todo este tempo...
posso estar equivocado... simplesmente enganar-me e viver com esta forte improbabilidade...
mas alguma improvável coincidência ali existiu naquele breve momento...
o seu último na minha presença... ou já mesmo em ausência...

posso agora alimentar-me com esta improbabilidade...
a possibilidade da impossibilidade...
ou simplesmente a possibilidade da impossibilidade...

depois da vida, a morte.