domingo, 25 de outubro de 2020



chega ao fim > ...and the fighting takes over | the teardrop explodes

1um.
vem-me sempre à memória. 
sempre que oiço este disco... sim, porque é efectivamente de um disco que se trata.
sempre o conheci assim...
ainda o reconheço.
é um disco bom... coerente e sobretudo coeso. pouco dado a flirts com a pop mais trivial...

sim, não é um disco popular... muito menos generalizadamente acessível.
é por vezes até... um registo sombrio... onde residem pérolas como the culture bunker... and the fighting takes over e the great dominions... para referir as mais óbvias... e menos alcançáveis...

sim... é de wilder dos the teardrop explodes que estou a falar...
dessa banda que o julian cope fundou... após o desaire dos the crucial three... a estranha e impossível parceria com pete wyllie e ian mcculloch... mas, adiante...
em nome dos the teardrop explodes ou em nome próprio... cope deixou-nos registos históricos que hão-de perdurar na história da música pop... exactamente pela sua excelência, mas sobretudo e paradoxalmente por não serem melodias imediatas e populares... se é que me faço entender...
parece confuso... será?

2dois.
vem-me à memória... 
vem-me sempre à memória, sempre que escuto ou penso neste disco.
sim... apenas nós os dois sabemos... apenas nós dois sabíamos...
agora, após a tua partida... sobro eu. apenas eu. apenas eu sei, recordo...
sim, estava doente... e tu compraste-me este mesmo disco numa loja que te indiquei... e aonde te deslocaste provavelmente após mais um dia de trabalho.
sim, tudo se passou na baixa da cidade... recordas? ainda te lembras?...



sexta-feira, 23 de outubro de 2020




sem norte > no north left | jack


com o anthony reynolds é basicamente sempre assim...
ou tudo, ou nada.
sempre foi assim... desde os tempos dos jack... dos jacques... ou simplesmente em nome próprio.
por isso descansem e desfrutem... 
porque ficámos sem norte...

segunda-feira, 19 de outubro de 2020



um outro dia > la douleur | blaine reininger


comecemos pela verdade dos factos...
esta melodia, esta música foi composta pelo vini reilly... mentor dos the durutti column... embora surja em registos do blaine reininger... esse tuxedomoon que sempre forjou belos discos em nome próprio...
existem registos, colaborações imagino... do vini reilly, dispersos pelos discos do blaine reininger... 
mas são tão marcadamente durutti column... que chego a duvidar dessa mesma parceria...
onde pára o blaine reininger em la douleur ou em the sea wall?...
serão registos meramente do vini reilly... onde a espaços surge um violino e se percepciona a sombra fantasmagórica do blaine reininger?...
serão colaborações? serão ilusões?...
seja o que fôr... são melodias maiores... maduras e serenas... como as com que ambos nos costumam brindar.
poderemos exigir mais a estes músicos?
poderemos exigir mais da música?

























 

sábado, 17 de outubro de 2020


uma vida que seja > i can't stay long | ultravox

já quase todos morreram...
os da nossa geração avançam... precipitam-se e começam... estão a morrer agora. 
a perspectiva de vida apresenta-se agora bastante mais sombria.
o tempo que nos resta é muito inferior ao tempo que já gastámos.
e isso porventura assusta... alguns.

qual o significado de uma vida?...
qual o significado da nossa vida?

se eu te tivesse dito em 1984... sentados na esplanada daquele bar na praia plantado... ao som provavelmente de wim mertens ou dos wire... que 36 anos depois haverias de morrer... imagino... teríamos ambos desatado a rir à gargalhada... 
e provavelmente bebido mais uma cerveja gelada... para esquecer...

esse o fascínio e a rebeldia de uma juventude que há muito se esgotou.
a vida consome-se muito rápido... logo estraga-se e deteriora-se sem a nossa real percepção...
e uma vez gasta... acaba.






















para o duarte > hand in glove | the smiths 

soube-o agora. soube-o há pouco.
meia hora se tanto.
morreu um amigo meu... mais um amigo meu.
uma pessoa com quem cruzei juventude... alguma, muita irreverência... livros... pensamentos... discos... história e estórias... memórias... conhecimento. maturidade.
posso dizer agora que o conhecia desde sempre. 
conheci-o muito novo... era uns dois a três anos mais novo do que eu...
sempre foi um solitário... a vida encarregou-se disso... de fazer dele um solitário.
desde sempre o conheci a viver com a avó... que fazia de mãe... pai, irmã... que todos muito cedo partiram.
e essa diferença de idade e geração fez dele um ser solitário... até porque as avós não vivem para sempre.
e, assim sendo, desde muito novo ele foi a sua própria família... com todas as suas regras ou ausência delas mesmo. 
obviamente sózinho, cuidou-se... descuidou-se.
viveu por vezes em vertigem... mais vertiginosa do que a que nós, seus amigos porventura alguma vez experimentámos...
guardo memórias... recordações de situações... lugares... conversas...
e assim sendo deixo aqui uma dessas melodias contemporâneas da nossa juventude... e das nossas eternas controversas discussões musicais... onde por um lado se degladiavam apaixonadamente os waterboys...os genesis... e no outro, os ultravox... joy division... new order e até os the smiths que na época davam os primeiros passos...

i'll fight to the last breath
if they dare touch a hair on your head
i'll fight to the last breath
for the good life is out there somewhere...

...but i know my luck too well 
yes, i know my luck too well
and i'll probably never see you again
i'll probably never see you again
i'll probably never see you again

soube-o agora, soube-o há pouco... sempre o soube.




segunda-feira, 12 de outubro de 2020





















o baile da aldeia > what do you see? | wire


olhem para a direita...
olhem para a esquerda... 
o que veem?...
conseguem ouvir o oceano à distância?
e ouvir a trovoada lá longe?...

olhem para a direita... e escutem...
olhem para a esquerda, e vejam... prescrutem... 

as velhas lá longe, cansadas... sentadas no banco do jardim... em sombra...
o ruído alegre das crianças no pátio da escola...
uma motorizada barulhenta que passa... e persiste...
lá no alto contra o azul do céu... os pássaros voam indiferentes em círculos...
e eu, aqui a ver todas estas situações a acontecer em simultâneo...
oiço e escuto... you hung your lights in the trees / a craftsman's touch... wire...
como nas tardes dos bailes da aldeia...

olhem para a direita... olhem para a esquerda...