segunda-feira, 20 de julho de 2020




no metro > walking | minimal compact


no metro é sempre uma azáfama... uma correria.
toda a gente tem demasiada pressa... todas as pessoas surgem invariavelmente apressadas... em trânsito... nessa ausência humana de cidadãos... tornando-se simples passageiros em trânsito...
é um vácuo... um vazio no tempo... que apenas nos carrega de um ponto a outro... repetido ciclíca e diariamente... e que no entanto preenche igualmente os nossos dias. todos os dias.

esta é a realidade urbana... 
uma rotina de vai e vem... que não se compadece com o consumo do tempo... e que nos castra tempo e qualidade e quantidade de vida.
existimos assim dia após dia... no boliço das grandes urbes contemporâneas...
resta-me ouvir walking... minimal compact...




domingo, 19 de julho de 2020

















fiat 126 > talvez o melhor carro do mundo


não tenho tendência para ser melancólico...
nunca tive. é verdade que nunca tive.
mas hoje vou ser um pouco nostálgico. tem de ser.
tenho de ser, apenas isso.
posso falar das madrugadas de partida para a praia...
posso falar da travessia da ponte... olhos postos ao nascer do dia... sempre, mas mesmo sempre junto do búgio...
ainda não havia este acesso desenfreado às beachcams... havia apenas uma tabela de marés... confesso destinada aos amantes da pesca... mas que nos serviam às mil maravilhas... sobretudo para isso mesmo... perceber com o que "contar"... fosse lá o que isso fosse.
ninguém imagina a frustração de levantar pelas seis da manhã... fazer todo o ritual das pranchas e a respectiva viagem até à praia... para por vezes, demasiadas vezes digo eu... chegar à praia e... nada. nada mesmo. nem uma única onda. e isto por exemplo... no pino do... inverno.
eram imensas as vezes que corríamos atrás do "prejuízo"...
recordo uma vez... dezembro dentro... uma manhã de sol de inverno... ondas enormes a assolarem a costa... e a nossa desilusão... e a nossa frustração...
e simplesmente sentado na pedra do molhe, um velho pescador que desinteressado ouvia os nossos lamentos... e sem desviar os olhos da rede que reparava, disse... venham dentro de dois dias... depois de amanhã já estará bom...


e a música provinha sempre daquele leitor de cassettes... logo lullabies... cocteau twins.
ou invariável e religiosamente, aos sábados de manhã... das 11 às 13 horas... o programa aqui rádio silêncio do jaime fernandes... que fazia as delícias de todos os melómanos... e acredito, não deviam ser demasiados...
o carro era incondicionalmente aquela caixa de fósforos verde escura, um fiat 126 que nunca, mas mesmo nunca e em quaisquer condições nos deixou ficar mal.


não tenho, nunca tive tendência para ser melancólico...
mas hoje confesso, sinto algumas saudades desse desinteressado e calmo tempo...



sexta-feira, 17 de julho de 2020






















revisitação > the scent of magnolia | david sylvian


começo por confessar.
é sempre um prazer revisitar os discos, a obra de david sylvian.
quase a totalidade dos seus registos se tornaram intemporais... e isso é uma qualidade que poucos e raros músicos possui.
esse dom sylvian tem-no desde os primórdios dos japan... mais concretamente desde o gentlemen take polaroids...
a sua discreta e silenciosa obra tem passado despercebida a muito boa gente... mas também creio que seria assim o seu desejo.
podia ouvir o camphor como oiço agora o everything and nothing... como poderia escutar qualquer outro dos seus registos... ciente da sua maturação... coesão, mas sobretudo da qualidade atemporal dos mesmos.

quarta-feira, 15 de julho de 2020























dualidade > better late than never | breathless


chegaram os dois até mim ao mesmo tempo.
lembro-me da procura inicial. que era bem mais complicada do que agora.
agora, em qualquer meia hora temos acesso a esventrar toda a obra de um qualquer escritor... músico... artista... por mais densa e articulada que seja a sua produção.

falo aqui dos breathless e dos cindytalk... dado que me cruzei com ambos... através dessa vertigem que eram as produções do ivo watts-russell... personificadas nessa efémera e prolífica banda chamada this mortal coil.
os this mortal coil surgiram em 1983 com a marcante edição do song to the siren... e nunca mais deixaram de chamar as atenções. a minha, sobretudo.
em 1984 produzem o primeiro registo de longa duração... onde entre outros convidados... dado que eram todos convidados, que apenas se distinguiam por pertencerem à 4 ad ou serem externos à editora... e entre estes surgiam o gordon sharp, o howard devoto e o dominic appleton que emprestou a sua voz a diversos temas do segundo álbum. 
o howard devoto era um antigo conhecido das andanças dos magazine... mas os outros dois igualmente cativantes, eram-me totalmente desconhecidos.
foi quando parti à descoberta... e vim a perceber que ambos lideravam bandas.
o gordon sharp, os cindytalk desde 1984... e a sua cumplicidade com os cocteau twins... o dominic appleton desde 1986, os breathless... 
decidi arriscar... e encomendei os respectivos álbuns de cada uma das bandas... e se no imediato senti uma enorme afinidade com o negrume de camouflage heart... o certo é que não me identifiquei nada mesmo com o chasing promises... o qual achei demasiado barulhento e caótico...
mais tarde vim a descobrir o quanto estava enganado... certo de que os cindytalk trilharam um caminho mais áspero e rude... muito experimental... enquanto os breathless serenaram... e com o tempo, construiram discos cada vz mais calmos e coesos... culminando nos soberbos... behind the light e green to blue...

adivinhava... quem, eu?...
antes tarde do que nunca...

terça-feira, 14 de julho de 2020





















sobretudo a calma > rameses III


esta a tranquilidade de que gosto.
guitarras serenas... construindo e gerando uma envolvente pacífica...
serena e tranquila... como se a calma se instalasse e não tivesse fim.
é assim a música dos rameses III... transversal a este magnífico registo em tons outonais e sépia... I could not love you more...
todo um ambiente bucólico e contrastante, com o quotidiano citadino... e a invariável rotina do constante corropio de ambulâncias a caminho do hospital...

estamos em meio urbano... e este registo leva-nos para ambientes bucólicos e campestres... 
existe aqui o fantasma de um brian eno... na quietude electrónica e ambiental... até uma résta de robin guthrie ou até mesmo, porque não... desses omissos e esquecidos july skies... que tantas paisagens nos proporcionaram... 
e porque não confessá-lo... mesmo uma candura que os explosions in the sky e os mogwai alcançam... assim o queiram...

eata é a serenidade de que tanto gosto...

segunda-feira, 13 de julho de 2020



mau, é mau mesmo > love you to bits | no-man


não costuma ser assim.
não costumo fazer aqui críticas... destrutivas, negativas.
não é meu apanágio...mas, hoje tem de ser. 
não há hipótese. não há outra hipótese.
o novo no-man... love you to bits... é decepcionante.
mau mesmo. desconcertante.
é sobretudo desastroso esperar onze... sim, ouviram bem, 11 anos desde a saída de schollyard ghosts... onde repousam entre outras melodias... o all sweet things... beautiful songs you should know... truenorth... wherever there is light, e não querendo ser exaustivo...
e sim, o schoolyard ghost é um bom disco... coeso e maduro... na sequência do que o tim bowness já nos havia habituado...
agora o love you to bits... sinceramente nem sei o que dizer.
começo por referir que é composto apenas por dois temas... que em vinil correspondem a cada lado do respectivo disco... apelidados de love you to bits... e love you to pieces...
e que estranhamente, como é referido nas notas... que o mesmo foi composto, realizado e produzido em diversos intervalos de tempo... entre 1994 e 2019... ou seja ao longo de 25 anos...
o que não apenas se estranha... dado que eventualmente se sobrepôs temporalmente a todos os outros...
o que não apenas aguça o apetite... mas igualmente, creio eu, a responsabilidade.

mas não.
é um disco que remonta e recorda os primórdios dos no-man... muito disco e dançável... como a própria imagem da capa o sugere...
uma bola de espelhos de uma discoteca... que não permite serenar... ao invés das sugestivas fotografias da generalidade dos seus anteriores registos...

assim sendo é um disco a evitar... digo eu...
e apenas questiono... 
estarão os no-man irremediavelmente perdidos?...
ou estarei simplesmente eu mesmo perdido...







sábado, 11 de julho de 2020






piano magic > será a música do piano mesmo mágica

todos. 
todos mesmo.
todos os discos dos piano magic têm óptimas músicas.
sem excepção. alguma. nenhuma.

comecemos pelo princípio, porque é pelo início que se deve começar, sempre.
popular mechanics é um disco estranho... esquisito até por vezes...
mas reside lá uma música intitulada wrong french... e isso simplesmente diz tudo.

o low birth weight tem entre outras... o crow estate, magistralmente cantado pelo simon rivers dos the bitter springs... e isso é-me suficiente. 

no artist's rifles repousam entre outras... várias pérolas...
mas para não ser exaustivo, refiro apenas... o tema homónimo.

o son de mar é delicado e elegantíssimo... qualquer dos untitled serve magistralmente este princípio. e são tantos...

no writers without homes... basta-me already ghosts
tudo preenche... tudo insinua. e preenche.

o the troubled sleep of piano magic é um assunto sério.
nem sei por onde começar... escolho...
refiro apenas the unwritten law... e hesito... when I'm done, this night will fear me... até mesmo speed the road, rush the lights...

no magistral disaffected as dúvidas são enormes... imensas.
mas onde temos delected scenes... logo, temos tudo.

part monster... é isso mesmo, um monstro. um portento de sequenciais melodias grandiosas... e imperdíveis.
england's always better (as you're pulling away) apenas uns milímetros melhor que todas as outras. 

no ovations igualmente a dúvida instala-se... e são mesmo muitas as hesitações.
acabo a decidir-me por you never loved this city... e receio que me possa vir a arrepender. 
on edge... the blue hour...
adiante...

o home recordings não tenho... tão pouco ouvi.
vale hoje em dia qualquer coisa como 120 a 150€ no mercado... 
é um cd-r de edição limitada... gravado de forma caseira e em modo acústico...  numa edição de 200 exemplares. apenas. 
imagino apenas algumas das melodias que lá repousam... em formato acústico e mais intimista....

o life has not finished with me yet... é assombroso. do princípio ao fim.
magnífico e homogéneo... 
tenho alguma dificuldade em destacar uma qualquer melodia.
decido-me por you don't need me to tell you...
e mais não digo...

no clousure...a mesma dúvida... a mesma hesitação.
escolho... let me introduce you... se bem que attention to life cantada pelo peter walsh dos grandes the apartments... enfim...

e para o fim resta... essa confissão... esse desabafo... 
de que igualmente não possuo a melhor melodia... talvez a melhor de todas...
what does not destroy me... minimal e magistral... viciante mesmo... 
que existe e repousa apenas num single de 7 polegadas... cantada pelo glen johnson... como todas e tantas outras. 

será a música do piano assim mesmo tão mágica?






quinta-feira, 9 de julho de 2020




mudança > the passion | bill nelson


mudamos.
quer queiramos quer não.
mudamos. 
acabamos por mudar. o tempo traz-nos isso. 
carrega em nós isso. a mudança.
que sempre achámos que não nos era destinada ou possível.
imprevisível mesmo, digo eu. impossível mesmo.
mas mudamos. invariavelmente mudamos. e nem sempre para melhor direi eu.

inadvertidamente o tempo carrega consigo isso... em nós.
sem o sabermos.
objectivamente temos outra visão. das coisas. sobretudo das pessoas.
e adjectivamos. e isolamos. acima de tudo, decidimos.
decididamente o tempo carrega essa transformação. nele. em nós. 
a decisão. o poder de decisão, indiferente das decisões tomadas pela maioria. dos outros.

porque ter opinião custa. educa-se. ensina-se.  e ajuda e ensina. e viabiliza.
e inviabiliza.



terça-feira, 7 de julho de 2020





















não sei > fools like us | echo & the bunnymen


não sei.
sinceramente não sei. 
digo-o... afirmo-o com a maior das sinceridades.
simplesmente não sei. 
já não sei.
antes, provavelmente nunca o soube. 

sei-o agora. imaginava que sabia...
sei-o agora... efectivamente nunca o soube... 
de tanto desejar saber... na realidade nunca o soube.
e digo-o... afirmo-o agora.
não sei...
nunca o soube.




sábado, 4 de julho de 2020



falar > over and over | breathless


falar dos breathless é falar de ti. é sempre falar de ti.
acerca de ti. sabes isso.
eu sei. que sabes.
a partir de certo momento o between happiness and heartache tornou-se numa viagem não apenas minha. mas nossa.
tua, para ser mais sincero.
ficou-te associado. intrinsecamente ligado.
fosse através do I never know where you are... nessas iniciais e constantes viagens... fosse no you can call it yours... mas sobretudo no all that matters now...
melodias que sempre surgiam e invariavelmente eram a companhia para essa ausência... cíclica.

falar dos breathless é sempre um prazer imenso... 
assim como ouvir as suas melodias, uma enorme satisfação... 
não sei se te recordas ainda... apenas isso.
o quanto essa música também moldou e determinou tudo em mim... em nós.
ajudou a cimentar uma conturbada e tempestiva noção... que nada era para durar... nada iria vingar. as divergências... sobretudo as diferenças... a que sempre fomos indiferentes.
o tempo o ditou... e o dirá...