quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021













um mundo à parte > my irascible friend | the durutti column


um mundo à parte. 
este é um mundo à parte... um mundo mesmo distinto... diverso e à parte...
assim sendo, passo a citar, a frase de um anónimo que encontrei num dos diversos grupos de admiradores da música dos the durutti column...
very few people can make you stop what you are doing and get lost in what they're doing.  vini is king.

num mundo à parte...

terça-feira, 16 de fevereiro de 2021


























aqui tudo é tóxico > tocsin | xmal deutschland


há discos assim. 
há música assim. monolítica e telúrica. 
forte e coesa... que constrói discos que ficam e restam para sempre...
recordo o tocsin das xmal deutschland... o pornography dos the cure... o in the flat field dos bauhaus... até mesmo o heaven up here dos echo & the bunnymen.
e tantos e todos os outros que há e haverá... ciclicamente a ser construídos.

são discos maiores... onde impera a coesão... fortes e serenamente violentos... onde coexiste uma inconformidade e nada, absolutamente nada aqui se resigna...
desígnio dos seus autores... que moldaram discos que não se resignam e teimam em nos atormentar com a sua estrutura telúrica e pujança...
e esse vigor molda e personifica estas melodias... atribuindo-lhes uma força... grandeza e magnitude pouco comuns.
assim sendo são registos memoráveis... que ficam e não se esquecem...



malcolm & marie apenas









malcolm & marie apenas


sem o saber, precisava. precisava de um filme assim.

malcolm & marie apenas.
apenas porque bastam. apenas pela insólita intensidade.
apenas, pela singularidade de um filme monocromático. quase diria monolítico.
com dois personagens apenas.
com um cenário apenas. a caterpillar house em carmel, na califórnia.
com apenas diálogos centrados no pós estreia de um filme, realizado por um dos personagens.
e sem o consentido agradecimento ao outro.
apenas com a força e a dureza dos diálogos.
com a intensidade das cenas. dos sentidos. e dos sentimentos, feridos por vezes.
apenas produzidas ao longo de uma parcela... de uma única noite.
apenas. uma única noite, até ao nascer do dia...
o inusitado de ser filmado a preto e branco... estas personagens simbolizam uma só... inseparável e homogénea... porque de uma relação com tempo, e história... onde todos e tudo... e ninguém se quer rever...
magnífica hipérbole cinematográfica... construída com tão poucos recursos... o que engrandece ainda mais o filme... pela força das representações... diálogos... personagens... lugares... narrativa, e memória porque não...
e onde a música ocupa igualmente lugar de destaque...

precisava de um filme assim.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021



dias assim > somesay | wah!


há dias assim. parados.
estáticos. sem nada a fazer...nada para fazer. 
dias estranhos e cansados, que não nos deixam fazer... nada.
dias assim, como estes agora em pandemia...
dias pandémicos... que nos confinam e condicionam... 
e nos conferem estaticidade. 
dias que se sucedem... idênticos e iguais... sempre semelhantes no que acontece e no que se tornam.
nunca os dias foram tão estranhos... e pouco movimentados... porque basicamente vivemos nesta condição, imóvel... parada e estática, a que nos obrigam e assim sendo abrigam...

permanecemos encerrados... 
e ouvimos ininterruptamente discos em contínuo... sejam eles bill nelson...  the love that whirls (diary of a thinking heart)... godhead... lowlife... thirthy thousand feet over china... the passions... 154 dos wire... in debt dos disco inferno...  todo e qualquer registo do wim mertens... ou como este registo que agora mesmo oiço... nah=poo - the art of bluff dos wah!...

essa a possibilidade, mas também a pertinência desde confinamento... 
que nos permite rebobinar e rever, senão toda... pelo menos parte da nossa existência...

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021



confinamento 2dois > protection | cabaret voltaire


os discos nas prateleiras aguardam.
que um dia, qualquer dia, os venham buscar...
e enquanto isso aguardam.
os discos nas lojas encerradas aguardam. 
sem desespero, aguardam solitários. que um comprador qualquer se interesse, ou tenha mesmo esse desejo e objectivo.
e enquanto isso... os discos nas prateleiras, em silêncio e na penumbra, aguardam.
pode ser um qualquer registo dos cabaret voltaire... piano magic... wire... pode ser um qualquer disco dos the hope blister... dos the durutti column, donna regina ou até mesmo gavin bryars ou wim mertens...
mas enquanto isso, nas prateleiras os discos, aguardam.
e não desesperam... esperam.


quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021



dias serenos > inexact shadows | harold budd


amiúde regresso aqui. 
por vontade própria.
venho, por vontade expressa. minha.
verdade que não tenho que me justificar perante nada... não tenho que dar satisfações a ninguém... 
gosto imenso da tranquilidade que a música do harold budd me traz...
proporciona-me uma paz... uma serenidade... 
existe nestas construções melódicas, algo de exímio... chega a ser perversa a calma que se sente e experiencia ao ouvir melodias como esta que agora mesmo oiço.
sim, eu sei... o harold budd morreu no final do ano passado... fez agora 2 meses... 
e, sim, eu sei... que apesar da sua idade... ir-me-á fazer ciclicamente falta música... discos assim, como este... como a generalidade da sua obra, pausada... pontuada por uma sensatez e serenidade infinitas...
e enquanto existir música assim... a imperturbabilidade está assegurada.
a minha.





















pandemia de novo > em pausa com wim mertens


gosto destes tempos aqui assim... e desta calma...
e gosto de te ter aqui por perto... serena...
ainda que tudo seja aparente... lá fora impera o caos...

deixa que te confesse...
há muito que não ouvia discos do wim mertens...
acho que me tinha desencantado...sobretudo com a sua voz... mesmo aquele minimalismo omnipresente... chegou a cansar-me... tal como o mychael nyman... o philip glass, menos confesso... mesmo o gavin bryars e toda essa prol de compositores contemporâneos que tanto me agradaram... e agradam... cansaram-me.

para ser honesto, ouvi durante o 1º confinamento, diversos trechos do andrew poppy... e mal ele acabou... precipitei-me e adquiri uma caixa sua com 3 cd...

agora, mesmo antes deste imprevisível 2º confinamento, já andava há algum tempo debruçado sobre a obra do wim mertens... literalmente sobre toda a sua vasta obra...
e em vésperas deste novo lockdown... corri a adquirir mais alguns registos seus... e refiro desde já que me arrependo de ter deixado para trás esse belíssimo duplo registo que dá pelo nome de kere weerom: poema, para apenas piano e voz... 
mas consequentemente acredito que o irei recuperar... e este tempo de espera... assim o saboreio... e aguardo... ciente da falta que neste momento produz... e faz.
e no momento certo, tudo terá mais valor... mais significado.









encontro > born, never asked | laurie anderson

lembro-me como se fosse hoje.
lembro-me onde aconteceu... onde estavas, com quem estavas.
nada acontece ao acaso, recordo mesmo essas tuas palavras proferidas nesse mesmo dia.

lembro-me como se tivesse sido hoje.
lembro-me como aconteceu... onde aconteceu.
lembro-me onde estavas sentada, naquela grande sala iluminada.
permanecias imóvel, numa mesa junto de uma janela. 
a luz do sol de outono... amarelecida e morna... a tarde que caía mais cedo do que o costume... precipitando a escuridão da noite...

e o rádio de plástico a pilhas talvez já demasiado gastas... 
teima e persiste em tentar quebrar o silêncio e a rotina...
o ar entreciortado pelo som de born, never asked... laurie anderson...
que sincopada e pausadamente repete...

i wanted you. and i was looking for you
but i couldn't find you
i wanted you. and i was looking for you all day
but i couldn't find you. i could't find you 

you're walking. and you don't always realize it
but you're always falling
with each step, you fall forward slightly
and then catch yourself from falling
over and over, you're falling... 

nada acontece ao acaso... pensei...













confinamento 2dois > la fin de la visite | wim mertens


os discos aguardam, em silêncio, expostos nas prateleiras das lojas agora fechadas.
aguardam por algum comprador ou simples curioso, que lhes pegue e os leve... e lhes dê o valor que alguns merecidamente desejam.
é assim, sempre o foi.
no entanto agora repousam mais... e o pó adensa-se e acumula-se...
porque as lojas permanecem encerradas por tempo indeterminado.
nunca antes se viu isto, assim... tão caótico... cíclico e inseguro.

e os discos repousam em solidão... e silêncio, enquanto aguardam pacientemente na sombra das prateleiras das lojas de discos... por alguém que os visite e venha buscar... e lhes dê a razão e o significado da sua existência...
o simples desejo e o gosto da sua audição.





examinar > subtext | john foxx + harold budd


estava a achar tudo muito calmo... muito silencioso.
estava a achar isto tudo mesmo muito calmo. sereno, tranquilo.

estava a achar muito silêncio. ausência de movimento, de barulho.
mas, não pode ser. o silêncio é uma coisa que incomoda.
e incomoda muita gente. mesmo muita gente.
as pessoas dão-se mal com o silêncio, com a solidão... com o isolamento.
as pessoas vivem mal com elas próprias. têm tendência a cansar-se... de si mesmas.

e logo eu que tanta diferença me faz... a ausência de silêncio.
o silêncio é produtivo... e reparador. e escuta, escuta-nos. perscruta-nos.
investiga-nos e disseca-nos...
é no silêncio que nos examinamos minuciosamente... 
em consciência e consistentemente.

simplesmente porque no silêncio tudo se ouve.
o silêncio é provavelmente a parte mais importante de toda a musicalidade.
o silêncio faz parte do processo musical.
porque é no silêncio que se distinguem as notas... os sons.
e o silêncio importa.
e importa. porque é importante.

mas o silêncio apenas existe na ausência... e no vazio.
onde nada há... há silêncio absoluto.



nota:
em total silêncio e isolamento acompanhar de subtext | john foxx + harold budd

domingo, 7 de fevereiro de 2021













poemas sem palavras > things i want to tell you | no-man


não é minha. a ideia.
adoptei-a e adaptei-a da anne clark. mas é tão válida como outra qualquer.
essa de poemas sem palavras. 
acima de tudo poemas que de tão sólidos e sintéticos... tudo contêm...
apenas isso. poemas que já nem de palavras necessitam.

mas por vezes é assim. apenas.
por vezes é assim. apenas assim.
basta. não é preciso nada mais. basta-me. 
mais nada é necessário. é suficiente.
esse provavelmente é o fascínio das coisas simples. e duradouras.
intemporais arrisco eu dizer.

seja nas melodias cruas e sensitivas de wim mertens... tais como alef... 
música serena e sensível... que tudo preenche e basta...
ou como os esquisitos desenhos... dinâmicos e esquizóides de kiril chelushkin... 
estranha, mas igualmente calmos... e por vezes até delicadamente perversos...
ou tão-somente as fotografias da húngara szilvi pohl...que encantadoramente chegaram até mim... e me tanto me fascinam... individual ou na pujança tranquila dos seus trípticos...
e isso sei-o eu, basta-me.
porque tudo enchem... tudo preenchem.
e isso basta.
basta-me.




quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021











o pó das memórias > the other window | wire


a memória em pó. assim mesmo. gasta.
gasta que defrauda as recordações.
não existe mais lugar às memórias. não existe mais lugar ao tempo.

com o tempo tudo se desvanece. e desfoca.
a memória tolda-se... e confunde. sobretudo confunde-nos.
sonhei que sonhava... a casa familiar de infância... as cores... os objectos... até mesmo as texturas estavam intactas. como lá estavam.
as vozes... as vozes que em sonhos facilmente identificamos... de pessoas que já não existem ... a não ser em nós, que com eles privámos e sentimos...
demasiado tempo passou entretanto para não ser surpreendente...

agora, passo o tempo... a ver o tempo passar...
e aguardo.