segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

ver-nos-emos lá nesse dia sem dúvida > anúncios classificados



ver-nos-emos lá nesse dia sem dúvida > anúncios classificados


o preço da diferença é a solidão.
o preço da solidão é o silêncio. 
não oiço mais the smiths. no entanto...
como te poderei encontrar se apenas sei que a gabardine é azul.

assinado: amoras e ameixas

quinta-feira, 21 de janeiro de 2021




perseguidores de ambulâncias > permanent sleep | lowlife

tornou-se impossível. já não é possível.
já não se consegue ignorar. o corropio aflitivo de ambulâncias nestes últimos tempos.
hoje mesmo, em determinados momentos são perto de uma por minuto. 
e o seu estridente e aflito barulho das sirenes.

se não assusta, confunde.
e dá que pensar... e provavelmente até imaginar.
o que serão no momento os serviços de urgência dos grandes hospitais das grandes metrópoles europeias. se aqui, com pouco mais de 1 milhão de habitantes é assim... imagine-se em grandes e densos aglomerados residenciais...

já ninguém consegue ignorar este silêncio... invariavelmente interrompido pelo ruído cíclico das ambulâncias estridentes... e novamente assusta. e põe em causa.
acima de tudo a nossa postura... enquanto cidadãos...
creio, não termos a maturidade... a solidariedade que nos é pedida... apenas isso nos é de momento pedido... que nos isolemos... e permaneçamos resguardados...

e pergunto-me... 
por é que está uma velha ambulância abandonada naquela rua estreita e deserta... quando tanta falta fazem nos dias de hoje...






mistérios do organismo > für alina | arvo pärt


não, não tem nada a ver. mesmo nada. 
até podia ter, mas efectivamente não tem. 
trata-se apenas de um texto, não de um filme... ou desse específico filme de 1971...

e este texto fala acerca de relações... humanas... desumanas por vezes até.
o amor por vezes não é belo... não é longo. ou lógico.
não é sobretudo longo... e padece... e carece de entendimento...
porque têm tanta tendência as pessoas em gostar de magoar...
em demonstrar essa mesma mágoa e rancor... e dirigir tudo sobre nós... em vez de possivelmente no seu sossego e íntimo isolamento... digerirem também algum desse lamento...

o amor por vezes não é belo... não é longo. ou lógico.
não é sobretudo lógico... e carece... carece de entendimento...
porque têm tanta tendência as pessoas em não gostar de de se entender...
em demonstrar essa compreensão sem pesar e ressentimento... e digerir tudo inteligentemente e internamente... ao invés de dirigir tudo sobre os outros... 

estes são mistérios insondáveis do organismo... 
que nos corroem e machucam... 
e o ser humano tem tanta aptidão e competência nessa matéria... 

não tem nada a ver... tem tudo a ver...
sobretudo tem tudo a haver...



segunda-feira, 18 de janeiro de 2021















ver o mar > in a lonely place | new order


disto sim, tenho saudades... imensas saudades.
e sei que indubitavelmente... dificilmente se repetirá.
a improbabilidade é enorme... simplesmente porque com o tempo e a ausência, se tornou impossível.

é disto que sinto imensas saudades... dessas manhãs...
de acordar cedo, e nem hesitar... partir em direcção à praia... e ansiosamente esperar... que houvessem ondas... simplesmente boas ondas...

disto tenho efectivamente imensas saudades...
deainda no desértico parque de estacionamento... e no interior do carro, apressadamente vestir o fato de surf... e uma vez no exterior tentar ouvir o barulho do mar... se mais agudo ou mais grave... que determinaria a dimensão das ondas.
e o vento, a importância do vento... também essa relevância...
e todo o ritual que se lhe sucedia...

em seguida partir, pés nús na areia ainda fria... a caminho da praia... 
subir a duna em direcção à linha do pequeno comboio... e finalmente avistar o mar...
com o sol a nascer junto da falésia nas nossas costas.

disso sim.
disso tenho efectivamente imensa saudade...
desses momentos e tempos que igualmente reportam a músicas como esta que agora mesmo oiço e resta... in a lonely place... new order.
 

sábado, 16 de janeiro de 2021



palavras por vezes > rites | in the nursery


por vezes... palavras...

por vezes torna-se difícil.
difícil não. não será esse o melhor adjectivo.
por vezes torna-se provável... mesmo o mais improvável.
o que torna tudo perigoso nas palavras. que se usam.
o que torna tudo perigoso nas palavras não é o que se diz.
por vezes é o que fica por dizer.
ou antes, o que se lê. ou simples e livremente interpreta.
querendo ler.
ou insinua... por desejar ler.
palavras, por vezes...




















a espera > alef | wim mertens

a idade tem sobretudo isto...
o tempo trás e carrega consigo isso. isto.
a simples ideia da espera. que tranquilamente se espera. e aguarda.
com a idade surge essa diferença... também.
o desejo da espera. o gosto de alcançar algo com o tempo...
saber aguardar serenamente pela mera possibilidade. impossibilidade mesmo.
esse gosto tranquilo... calmo e seguro... de um desejo que acredita se há-de concretizar... enche o tempo e serenamente aguarda-se.

antigamente não era assim. nunca assim.
antigamente era tudo muito intenso... acelerado. não havia lugar a tempo nenhum... algum.
era tudo muito rápido... muito desejado... logo muito intenso, sem lugar a qualquer espera.
o simples facto de se poder imaginar que iria demorar a alcançar... já era em si um problema, uma canseira.
o desejo pretendia-se de concretização imediata... sem espera... simplesmente porque em jovem se desespera... e nada se espera. 

como esta música que agora mesmo oiço... serena e tranquila...
e calma evolui... assim sem pressa alguma... nenhuma.
e eu apenas sei que irá lá chegar...
a esse momento que também eu aprendi a aguardar... desejando...
e quanto mais o tempo passa e se alcança... 
apenas... alef, wim mertens...


sexta-feira, 15 de janeiro de 2021





regresso ao abandono > river of flame | and also the trees


de regresso. a casa. ao isolamento.
posso agradecer... a dimensão da casa. 
imagino... não consigo imaginar um confinamento assim numa casa demasiado pequena.
deve ser um inferno, deve ser uma loucura...

esta nova forma de vida... diversa da que nos habituámos a viver... a sempre disfrutar... é estranha, e creio mesmo, custa a entranhar-se...
por mais que tentemos a habituação... tudo soa diferente do usual... e isso por vezes custa, a habituação.

neste retorno... nesta clausura imposta que nem me costuma custar... mas o que é indesejável é o regresso a uma liberdade constrangida... e isso é penoso...

neste estado ou condição de estar impossibilitado de sair livremente... ficar e permanecer em lugar fechado... socialmente retirado... desenraízado...prostrado em lugar reservado... custa... estar. ficar.

este retiro... este isolamento impede... e ampara o tempo... que por vezes se torna mais lento e pesaroso... e tende a parar. 
e se e quando para... oiço... river of flame... and also the trees.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2021


o marido da cabeleireira > a girl like you | the wolfgang press


voltava, voltava sempre.
por mais que o negasse... por mais que o dissesse.
voltava... regressava sempre para junto dela.
ela franzina... sempre de saia curta... vestidos espalhafatosos... andar acelerado... um sorriso estampado no seu rosto...

vinha ao fim da tarde, invariávelmente todos os dias...
no seu carro pequeno e vermelho... ali ficava estacionado... a ver o tempo passar, enquanto aguardava pela sua saída... rádio ligado... cigarro sempre ao canto da boca.

sempre imaginei... desejei saber o que tocava naquele rádio daquele carro velho...
seria algo popular... ou algo mais erudito...
a fazer fé na figura do marido da cabeleireira... sempre pensei em algo óbvio... música ligeira e leve... para simplesmente entreter... ajudar a passar o tempo...
mas um dia, decidido atravessei a rua e caminhei ao longo da estrada... a janela do carro entreaberta... o som que brotou, e tanto me espantou... logo, a girl like you... the wolfgang press...

















infelicidade suprema > old katarakt | wim mertens


digam...
digam-me lá se pode a música ser mais bela e triste do que isto?
por vezes a cada 50 ou 100 composições de um músico, surge... uma melodia assim, improvável mas bela demais para não ser contemplada... e ciclícamente ouvida.
é o caso.
wim mertens por vezes supera-se... e excede as expectativas.
mesmo dos mais cépticos, como eu.
existe em old katarakt uma melancolia... uma doçura... a doçura de uma tristeza infindável... infinita mesmo...
é uma música como esta que nos faz acreditar... que é sempre possível, a beleza de uma longa tristeza... 
existe nas notas deste piano... neste violino... um turpor... um abatimento e desânimo inigualável... 
tudo aqui é tão calmo... e tão intenso... que é impossível não ficar presos a estas notas e acordes...
e ouve-se repetidamente e sem fim... como um vício bom... que tende a perpetuar esta prostração... e intensa ideia de tristeza e infelicidade... que nos toca e comove.

terça-feira, 12 de janeiro de 2021













regresso > the index | piano magic


um regresso anunciado...
que não previsto... porque em determinado momento, imprevisível.
era, digo-o eu, já improvável... agora uma certeza assegurada.
regressa o fecho... a ausência... a distância.
que confesso... novamente não me incomoda.
apenas há que acautelar as coisas... as rotinas... as idas e saídas.
prever tudo antecipadamente... construir mesmo uma agenda de tarefas semanais a executar.
e depois... deixar correr o tempo... porque tantas e todas estas composições são uma bela companhia... e assim sendo, isso basta-me.
como a melodia que agora mesmo preenche a sala através do piano soturno e solitário... alef... wim mertens...


domingo, 10 de janeiro de 2021


confinamento 2 > escrever por escrito


não achem... sequer.
não imaginem. 
nunca imaginei que soubesse escrever, bem...
sempre foi um assombro distante... esse.
seria uma surpresa... um espanto se eu próprio o achasse.
ele acha-se... é mentira, digo-o desde já.
por vezes gostava... tenho de ser sincero...
gostava de escrever, menos mal. bem, até.
mas não cultivo essa ilusão... vivo com essa desilusão... 
de não ter progredido... de não ter prosseguido... melhorado, em tempo útil.
agora, creio, é tarde demais...
mas ainda escrevo. por vezes escrevo.
amíude escrevo... alimento essa ilusão... simplesmente porque gosto... porque quero.
e é um direito meu... esse de escrever, de poder escrever.
para mim.
apenas para mim.
não preciso de leitores... de ouvintes ou simplesmente críticos.
apenas eu.
escrevo apenas para mim.
e basta... basta-me.
preenche, preenche-me...
leio... releio... e corrigo. apenas e só isso.

e não suponham... não imaginem sequer...




















confinamento 2 > blood & snow | piano magic

digam-me...
existe arma mais terrível do que a solidão...
há arma mais temível do que o isolamento?...
existe força maior do que a reclusão aceite... auto-imposta...

digam-me...
existe maior trunfo do que a aceitação do eu enquanto entidade...
existe maior triunfo do que a solidão enquanto identidade...


 











confinamento 2 > o que é isto agora? | gavin bryars


o que é isto...
o que é isto agora? o que significa isto agora?
porque é isto agora? novamente, agora.
já não imaginávamos que isto iria acontecer... que se iria repetir...
mas agora em versão agravada... 
estranho.
é estranho tudo isto que tem estado a acontecer nestes últimos meses... ano...
porque é isto agora?

um novo isolamento... um novo enclausuramento...
tem ciclos... e sucede-se... gravoso...
o que fizémos nós desta vez?
o que fazemos nós desta vez?...

qual recluso... isolo-me e simplesmente construo uma carapaça... 
e ausento-me e oiço... 
jesus' blood never failed me yet... gavin bryars...



sábado, 9 de janeiro de 2021










confinamento 2 > o que há de comum nestas melodias


nova parte. de um confinamento já não expectável.
mas que inevitavelmente irá acontecer...
e assim sendo retiro-me... porque tudo a isso obriga... e todos se retiram e isolam.
nunca visto... embora já imaginado... e cinematicamente ensaiado.

e o que há de comum em scotland's shame dos mogwai... ou rest meines ichs... not me ou até hedgehog's skin de wim mertens... questionam-se alguns...
são óptimas melodias... desejávelmente infindáveis... mas finitas... e que idealmente acompanham estes tempos de isolamento... 
são todas grandiosas construções musicais... que ajudam e saram... estes tempos estranhos... que eu não estranho...
sempre se me entranhou esta forma de estar... solitária, que em nada me incomoda... ao contrário de tantos que não sabem conviver consigo próprios apenas... e apesar...
a solidão existencial ajuda a sarar... a cumprir desígnios... que a companhia de outros absorve e abstrai...

há que o reconhcer.
o tempo há-de mostrar.
o tempo encarregar-se-á de o demonstrar. 





quinta-feira, 7 de janeiro de 2021




tempo > la fin de la visite | wim mertens


falta-me sempre tempo.
falta sempre... o tempo.
e agora ainda mais, sobretudo com esta consciência alargada de pouco tempo.
tenho consciência que resta pouco tempo. 
que me resta pouco tempo.
como se estivesse sem tempo.
e essa ausência de tempo abstrai de essencial.
porque a consciência da finitude... e sobretudo a percepção de que se aproxima o abismo... isenta de projecções futuras... e satura e impede de ver, nitidamente...

falta sempre tempo
falta-me sempre o tempo... se em última instância tenho, aparentemente todo o tempo para mim...


terça-feira, 5 de janeiro de 2021










por vezes > piano magic outra vez


por vezes escrevo pouco... escrevo lentamente. raramente.
escrevo com pouca frequência... sobretudo para o que eu esperava.... de mim mesmo.
e esqueço... perco-me até talvez propositadamente... sem rumo ou destino...
e não avanço.
simplesmente não avanço. 
e confesso... custa, custa-me este desperdício de tempo e energia... e gasto todo este tempo inutilmente... sem nada de útil ou produtivo...
não desenvolvo matérias... ideias ou mesmo simples pensamentos.
perco-me... e fico sem trilhos... num limbo... atroz e silencioso... que me consome e atormenta...
tal e qual como refere aquela melodia dos piano magic onde sempre me reencontro e revejo...
disaffected de seu nome...

anything can happen in life
especially nothing, mainly nothing
once you know that, you're fine
once you know that, you can retire...
...work's over-rated and it will kill you
finish nothing you start
and start nothing you think you'll continue...


segunda-feira, 4 de janeiro de 2021













qualquer lado > morning passages | philip glass


posso não ir a lado nenhum...
mas tenho que ir a qualquer lado.
sim.
não posso ficar eternamente aqui, assim. só assim.
apenas assim.
tenho que ir a algum lado... 
que não lado nenhum.
tenho que ir a algum lado... e assim sendo, se não vou... também não fico.
parto sem destino, assim só... em escrita...
e assim sendo, vou.
vou sempre a lado algum...
e inadvertidamente oiço... the hours... philip glass.
e vou sempre a qualquer lado...
porque qualquer lado, é lado nenhum.



domingo, 3 de janeiro de 2021









os mesmos sapatos > lazy calm | cocteau twins


ainda tenho os mesmos sapatos calçados. os mesmos. 
os mesmos velhos sapatos pretos do ano passado.
e tu andas por aqui... os pés descalços... silenciosa quando pisas e passas neste lugar.

ainda tenho os mesmos sonhos do ano transacto.
que nunca se realizam... e quanto mais o tempo passa e se escoa, mais difícil é de se acreditar e de os manter... intactos.
ainda tenho os mesmos desejos do ano passado... e que ciclicamente vou alimentando... se mesmo que saiba da sua impossibilidade ou dificuldade de concretização. e quando e quanto mais penso tudo mais fica em cacos...

sim, ainda sinto que a vontade, essa existe em mim.
mesmo sabendo da adversidade, da impossibilidade...

mas como quando era jovem e irreverente... continuo a sonhar que tal como naquela noite... em que no carro com o grupo de amigos vibrantes e entusiasmados... nos dirigíamos para os bares e discotecas do bairro alto para nos divertirmos... e conhecer e descobrir novas músicas e pessoas... 
sei... que junto do jardim do princípe real... na rua da escola politécnica... ouvi pela primeira vez... no indiferente rádio daquele carro... e se sobrepôs ao ruído das conversas cruzadas dos presentes... em mim se fez um silêncio total e soturno... e desde aí permanece como uma melodia mágica que em mim habita e emerge... logo lazy calm... cocteau twins.
ainda com frequência oiço essa mesma tranquila melodia... mas os sonhos tal como esse tempo esfumou-se e emerge em mim como uma memória serena e distante...

sim, ainda tenho essa vontade... não desisto de mim...
mesmo sabendo da improvável reversibilidade...