sexta-feira, 29 de novembro de 2019




29 de novembro > breakfast | billy mackenzie 



faz hoje novamente anos... 10 anos para ser mais preciso.
que me deixaste...
recebi a notícia ao início da manhã... era sábado e estava um dia muito diferente deste mesmo dia 29 de novembro de hoje, dez anos depois...
estava sol, um sol morno... o céu muito azul... nesses dias de aproximação do inverno... mas muito radiosos... e ainda não muito desconfortáveis, porque muito frios.
não era nada que não se aguardasse... no entanto, confesso, colheu-me de surpresa...
esperava mais... esperamos sempre mais... nem que seja apenas porque... sim... porque queremos confrontar-nos com a natureza... e tentar ir sempre mais longe... ganhar mais tempo... simplesmente ficar... permanecer pormais tempo.
acredito que é uma condição de instinto... puramente de sobrevivência... 
simplesmente resististe até onde pudeste...
o tempo, esse já havia sido determinado...
imaginava contar com essa tua delicada doçura para com todos os outros, mais tempo... 
gostaria de ter tido o egoísmo necessário e possível... para contar contigo junto a mim...porque o desejo e o apego eram enormes... e ficar assim até ao fim.
e perdoa a eterna confusão acerca da música dos the associates na voz do billy mackenzie... na distância e na tua ausência, já não sei se era o breakfast... ou o those first impressions... ou até ambas...
e perdoa igualmentea a escassez de rosas brancas...

quinta-feira, 21 de novembro de 2019





rua abade faria 55 > empire of the senses | bill nelson

hoje vou falar da pequena casa no número 55 da rua abade faria.
inserida no bairro dos actores... era nesse rés-do-chão que invariavelmente nos perdíamos tardes inteiras em descobertas... musicais.
era nesse minúsculo quarto, invariavelmente na penumbra que descobriamos e devorávamos as mais recentes aquisições discográficas e nervosamente aguardávamos pela chegada das novas encomendas... processadas através de um grande armazém inglês... através de listagens enviadas por correio, às quais se seguiam 4 a  5 semanas de suspense e silêncio total... até se receber o tão aguardado aviso dos correios... para de seguida se ir levantar as encomendas aos correios...

não era stressante... era sobretudo mágico e desejável esse suspense que se criava em torno da encomenda que acabava de chegar. 
passo a explicar. aquando de de proceder a uma encomenda, havia que referir igualmente na folha de papel A4... duas ou três alternativas... caso os discos pretendidos... já não se encontrarem disponíveis... o tempo era outro... vivido e desejado de uma outra forma. 
havia um outro ritmo... onde tudo se enquadrava de um modo mais calmo. tudo era naturalmente vivido e preenchido de uma enorme tranquilidade.
os dias pareciam mais longos... as horas custavam a passar...

foi assim tardes, noites dentro... que apreendemos e absorvemos o melhor que se registava no início da década de 80... em casa do zé paulo... melómano pouco convicto... juntamente com o luís carlos e mais um ou dois amigos.
foi ali que também descobri as obras maiores do bill nelson... do richard jobson e dos the armoury show... dos the wake... mas igualmente dos the danse society... cocteau twins... crispy ambulance... the mighty wah!... entre tantos e tantos outros...

foi nesse sombrio quarto da rua abade faria que fiz o tirocínio... que me levou aonde estou hoje... distino e distante de quase todos os outros... fiel a uma descoberta de uma obra maior durante a minha adolescência...

terça-feira, 19 de novembro de 2019





every colour you are | rain tree crow


cheguei lá por volta das 7 horas... entardecia, caía a noite.
quando entrei no café, já ela lá estava... aguardava sentada numa mesa de canto... para onde o meu olhar logo se deslocou... dado ser a sua localização estratégica em lugares públicos, a que ela sempre preferira... e sempre me agradou essa vontade de discrição dela.
sentei-me, pedi desculpa pelo atraso... logo eu, que nunca costumo chegar atrasado...
segurava a chávena de café com ambas as mãos... aqueles dedos finos e longos... as unhas como habitualmente pintadas de um tom claro...
já não recordava... mas assim que lhe vi a chávena envolta nas mãos... recordei...
este era o seu processo familiar de aquecer as suas mãos... e assim envolta na sua chávena, sorriu...

absurdamente comecei por lhe referir... 
há duas músicas que me recordam sempre de ti... o straight line to the kerb dos departure lounge... que preenchia o vazio da tua ausência, e invariavelmente me levava até ti... e o upon this earth do david sylvian que me remete para as inúmeras e múltiplas viagens por aquelas estradas que se tornaram tão familiares... de grandes e volumosas camionetas em constante movimento... a clareira dos veados... na eminência de por vezes lá estarem... o vento na copa das árvores distantes... a estrada sinuosa e sempre em mau estado... as longas rectas... subidas e descidas...
mas igualmente o cheiro do café pela manhã... e esse teu olhar que jamais esqueço... e me acompanha e aconchega...
ao que ela calmamente se recostou no banco e serenamente respondeu...
foi divertido, mas eu nunca poderei ser a pessoa certa para ti... 
assim sendo abriu a carteira e deu-me um pequeno cartão branco que simplesmente tinha escrito a tinta preta...
why fall in love... if you can fall asleep...










quarta-feira, 13 de novembro de 2019
















tríptico sonoro > harold budd & clive wright


estes sons remetem-me para simplesmente estar deitado...
simplesmente estar quieto... a olhar o branco do tecto... olhos fixos no nada... simplesmente a ouvir os sons que estes discos emanam.
ouvir harold budd... requer alguma atenção...
não se deve desviar o olhar, a atenção...
ouvir harold budd exige total disponibilidade... concentração...
por vezes os sons que resultam... são tão singelos e frágeis... que se podem perder... e deixar de ouvir...

há uma trilogia de discos... consecutivos e até provavelmente sem relação... do harold budd em colaboração com o clive wright...
que são simplesmente arrebatadores...porque avassaladores.
percorre estes registos, uma singela delicadeza... por vezes tão ténue... quanto frágil...
é isso... a música do harold budd é tão distinta... delicada, mas sobretudo ténue e frágil...
como num tríptico... também esta trilogia emana, agrega... e desagrega... constitui-se e dissemina-se em partículas impalpáveis... porque demasiado delicadas...
o primeiro a song for lost blossoms datado de 2008... é genericamente harold budd em estado puro... muito atmosférico e calmo... numa serenidade ambiental que lhe é familiar e grandemente avassaladora. 
o segundo registo é igualmente uma colaboração... candylion... de 2009... porventura mais estruturada... num contraste vísivel com o seu antecessor. mais racional, onde derivam e divergem humores e pensamentos distintos... personalidades.
o último capítulo little windows data de 2010... é na sua génese, não tanto uma colaboração... antes peças individuais de ambos os compositores, logo menos coeso e estruturado...

ouvir esta trilogia, corresponde a estar no mais completo silêncio...imóvel... a contemplar o tecto de um quarto alvo... simplesmente deitado, como se um mundo lá fora estivesse parado.
totalmente parado, apenas a escutar...

segunda-feira, 11 de novembro de 2019

próximo da loucura > wrong french | piano magic





















próximo da loucura > (fazer-se acompanhar de wrong french | piano magic)

próximo da loucura existe uma porta...
próximo da loucura existe uma porta branca...
uma porta branca que se abre... e que não se abre...
próximo da loucura...
próximo da loucura existe uma porta branca que se abre e que não se abre...
uma porta branca... que se abre e permanece entreaberta...
próximo da loucura existe uma porta branca... que se aproxima...
e próximo da loucura existe uma porta branca que se abre... e que não se abre...
e contudo está... parece mais próxima...
próximo da loucura... existe uma porta branca...
uma porta branca que se abre e que não se abre...
e que no entanto permanece entreaberta...
próximo da loucura existe uma porta branca... muito branca... alva...
que parece próxima... mais próxima... cada vez mais próxima...
tão próxima...
próximo da loucura existe uma porta branca que se abre e que não se abre...
e entretanto parece entreaberta...
próximo da loucura existe uma porta branca... que se abre... e que não se abre...
próxima... cada vez mais próxima...
tão próxima que me parece poder tocar-lhe...
próximo da loucura existe uma porta branca que se abre... e que não se abre...
próximo da loucura existe uma porta branca que se abre...
tão próxima... cada vez mais próxima...
perto... tão perto que me parece poder tocar-lhe...
tão perto que apetece tocar-lhe... próxima... cada vez mais perto...
tão perto...  que parece ver-lhe a textura da própria tinta branca...
tão perto... próxima... cada vez mais perto... que apetece tocar-lhe...
porque próximo da loucura existe uma porta branca que se abre... e não se abre...
próximo da loucura existe uma porta branca que se abre...

e surge o vulto de um homem branco vestido com uma bata branca...
e que aponta na minha direcção e diz...
O PRÓXIMO!...

segunda-feira, 4 de novembro de 2019








profundamente preocupado > listen to the rain | james young



por vezes é assim. demasiadas vezes diria mesmo...
músicos... de uma música apenas.
os exemplos são muitos e multiplicam-se... 
os casos são mesmo imensos... inúmeros.
senão veja-se o exemplo dos what?noise... e de eventually...
o resto do disco não é mau, de todo... mas eventually é superior... soberbo. imaculado e irrepetível.

outro exemplo é o que passou com o james young...
não é que a sua discografia seja enorme, que não o é... mas o tema songs they never play on the radio... é paradigmático.
é um tema incontornável... sendo certo que existem outras belas músicas nesse disco... tais como listen to the rain... igualmente boas... mas o songs they never play on the radio, é inatingível e inigualável...
por vezes, demasiadas vezes é assim... pegamos num disco para lhe ouvir uma faixa apenas... e não sei mesmo a causa... apenas o efeito.
sei apenas que são discos desconexos... sem uma grande estrutura e coerência... uma espécie de best of... e não uma produção coesa e consciente... que parece não ter sido concretizada num período específico de tempo...
e reafirmo que não é o caso de songs they never play on the radio... com músicas consistentes... mas mesmo assim... existe uma que sobressai e suplanta todo o registo... e anula... porque se sobrepõe.
há discos assim...
porque há músicos assim.