segunda-feira, 30 de novembro de 2015



pôr-do-sol, gaivotas e mar calmo > prayer | the durutti column

há dias assim.
e o sol já se põe... lá ao longe... no horizonte longínquo...
o mar aparente estar calmo... uma ou outra onda que aflora e rebenta com mais estrondo... e força...
a maré está vazia... e ao longo do areal deserto... dois tractores aguardam... a chegada de mais um dia de faina...
olho para o lado esquerdo... não se avista ninguém... apenas os vultos de bandos de gaivotas que chegam, e estão... 
olho para o lado direito... ao longe a silhueta de duas pessoas que se afastam...
no mar o sol que tende a desaparecer... e os barcos de madeira colorida que vagarosos tentam chegar... e esse é também o sinal...
na areia agora molhada... cresce o frenesim de gaivotas... que aguardam e adivinham...
dias assim só podem ser preenchidos por uma melodia... prayer...
e essa melodia só pode pertencer aos durutti column...
que são a banda sonora para dias assim... 
simplesmente porque também há dias assim... nesta praia que de tanto já se me tornou familiar...




















no inferno > don't you know | disco inferno


graças a deus, novamente no inferno...
podia ficar aqui o dia todo a ouvir...
simplesmente a ouvir... don't you know dos disco inferno...
graças a deus que há infernos... assim... como estes.
as texturas densas e pesadas... fazem parte... os samples também...
aqui ressuscita-se a cacofonia que os simple minds celebraram em 1979... porque é um registo familiar e comum...
essa é provavelmente a matriz dos disco inferno...
singles cheios e esquizofrenicos... que atraem poucos ouvintes... desatentos...
paira por aqui o fantasma dos mogwai... se bem que os mogwai deles sejam descendentes...
existem bandas assim... irrequietas... inconformadas...
que geram melodias cacofónicas... 
e se dúvidas existirem, oiça-se it's a kids world... e estamos a falar de single, uma música acessível portanto... e no entanto... 
demos graças a deus porque para infernos assim... quem precisaria do céu...

sexta-feira, 27 de novembro de 2015



um dia qualquer > san pedro | mogwai


era um dia como este... um dia qualquer... um dia como outro qualquer...
e havia uma conferência de pássaros... e um baile...
onde uma péssima dançarina se exibia... ao som de uma música para peixes...

ela surgiu assim, de repente...
surgiu assim... surgiu do nada.
de repente estava na minha frente... de pé, com as suas pernas longas a terminarem naqueles brilhantes sapatos pretos...
olhei para cima e vi o sorriso estampado no seu rosto...

simplesmente não estava à espera... confesso.
olhou para mim e serenamente disse...
fiz-te uma surpresa?...
tens pensado em mim?...
sempre achei que poderia ter existido... acontecido algo entre nós...
talvez eu devesse ter avançado primeiro... 
agora parece-me tarde... tanto mudou... tudo se alterou...
a minha estupefacção... a minha incredulidade... perante tais palavras... tal conversa...
e calado continuei a dançar... e...

e se sempre lhe tido achado alguma graça... nunca na minha mente aflorou uma réstia... de uma qualquer possibilidade... longe de mim. ainda para mais sempre a imaginei comprometida... 

convidei-a para dançar... 
e a sala estava agora repleta de pares de dançarinos... e a má dançarina que não se cansava... de se exibir...
o cheiro de perfumes baratos invadia o ar... 
e o chão de madeira encerado... 
e o som das músicas que em loop se sucediam... até finalmente se deterem em san pedro... mogwai...
afinal quem mais faria uma música estranha para um dia estranho assim?... vá, digam lá...

quinta-feira, 26 de novembro de 2015






















serena ilusão > a quiet darkness | houses

1.
surgiu assim... surgiu do nada.

simplesmente não estava à espera...
olhou para mim e serenamente disse...
tem pensado em mim?...
sempre achei que poderia ter existido... acontecido algo entre nós...
talvez eu devesse ter avançado primeiro... agora parece-me tarde... tanto mudou... tudo se alterou...
a minha estupefacção... a minha incredulidade.
se sempre lhe tido achado alguma graça... nunca na minha mente aflorou uma réstia... de uma qualquer possibilidade... longe de mim. ainda para mais sempre a imaginei comprometida... uma rapariga assim engraçada, não faz sentido estar só... serena ilusão, a minha...

2.
passei aqui ao pé... e decidi passar...
a ver se estavam...
e não é que estavam.
estranhamente estavam até os dois...
e vim aqui... digo-lhes agora... apenas para vos falar dos houses.
os houses são um duo de chicago... que produzem melodias serenas e sufocantes... de tão belas que são... e tudo tornam...
os houses não são prolíferos... têm apenas 2 discos... all night e este a quiet darkness...
mas, ambos de uma intensidade... é difícil... impossível ficar-lhes indiferente...
o a quiet darkness é soberbo... sublime mesmo...
ouve-se do princípio ao fim com uma serena inquietação... numa tranquila apatia...indolência até...
ou tudo isto não fosse acerca dos houses e das magníficas melodias que produzem...





quarta-feira, 25 de novembro de 2015





















um oceano inteiro > an ocean we can breath | john foxx


creio, nunca antes aqui ter falado do john foxx...

o que é uma gaffe tremenda...
o john foxx acompanha-me desde sempre, exagero à parte... acompanha-me desde 1978... trinta e sete anos, portanto... quase já trinta e oito...
o tempo de uma vida, diria eu... afinal não havia exagero algum. nenhum mesmo.
o john foxx surgiu com grande impacto... no systems of romance... sim, de 1978... mas já haviam dois registos anteriores... ambos datados do ano de 77... e se bem que bons, dificilmente se poderiam comparar ao systems of romance...
ainda que nesses álbuns residam melodias como my sex... I want to be a machine... the man who dies everyday e hiroshima mon amour... nada fazia prever o que viria a seguir...
nesse já longínquo ano de 78... slow motion... I can't stay long... quiet man... dislocation... maximum acceleration... e just for a moment, apenas para referir algumas... traçaram um novo rumo no horizonte da música popular, porque pop...
um portento de um disco... que marcou uma época... e provavelmente uma vida... a minha.
passei a acompanhar de perto tudo o que este senhor fazia... e ainda faz... e que tão bem faz...
seguiu-se uma obra a solo... que começou com o inolvidável e indispensável metamatic... mais electrónico... a concorrer directamente com o gary numan...
porque falar dos anos 80... da cold wave, é sobretudo falar de john foxx e gary numan... descendentes directos dos kraftwerk e de um demasiado discreto eno...
a popularidade de um... (numan)... é diametralmente proporcional à qualidade do outro (foxx)... ou não fosse a celebridade e o sucesso, sinónimo de menor valia...
o metamatic foi um início... um princípio maior... de uma obra com altos e baixos... os baixos sobretudo quando tentava granjear popularidade... e construía melodias numa vertente mais acessível, mas igualmente menos conseguida e interessante...
seguiu-se um hiato... uma paragem propositada, um tempo sabático, digo eu... para um regresso sublime... em que todos os discos eram serenos e sérios... numa consolidação e demonstração de maturidade... que provavelmente sempre esteve presente...
trabalhou com os melhores... robin guthrie... harold budd... louis gordon... steve jansen... brian eno... mas nunca abdicou de ser marcante...
oiça-se a trilogia cathedral oceans... e mesmo o segundo disco após o interregno... shifting city... de onde se retira an ocean we can breath... (o primeiro foi pouco tempo antes o cathedral oceans I)... nesse já distante ano de 1997...
e inevitavelmente teremos de nos deter... para nos deleitarmos com translucence + drift music... provavelmente um dos registos mais belos, tristes e melancólicos de que há memória...
mas isso em john foxx é familiar... como se todos os seus discos fossem singulares... e carregassem dentro um oceano inteiro...

terça-feira, 24 de novembro de 2015

















por vezes > are you ready? | crispy ambulance

por vezes é assim... foi assim.
custa.
custa a adquirir... custa a chegar.
e este é um desses casos... passo a explicar.
o álbum the plateau phase dos crispy ambulance... apenas o tinha visto uma vez... versão em vinil...
pertencia a um amigo meu... o luis carlos... que comigo e com o zé paulo costumava partilhar as encomendas da gemma records... já lá vão alguns anos...
a gemma era uma espécie de amazon... em papel.
tínhamos que nos registar... e em seguida fazer as encomendas em folhas A4... que nos haviam sido previamente enviadas... sendo que havia que acautelar...
fazer fotocópias sempre que o stock estava perto do fim... ou não haveriam mais encomendas...
e as encomendas eram... curiosas... no mínimo.
com o tempo que mediava entre o envio... a recepção e a posterior mercadoria... muito tempo passava... 
assim sendo... e para obviar tempo... havia que enviar alternativas aos artigos desejados...
e por vezes acontecia o improvável... vir para mim um disco alternativo (que não a primeira escolha)... e para um deles uma alternativa que era a minha primeira opção...
imaginem a confusão... que por vezes se instalava...
e isto para dizer... apenas isso...
o the plateau phase... nunca veio... para mim...
por mais pedidos que fossem feitos... e verdade seja dita... também não o tentei arranjar nunca através do meu pai... o verdadeiro construtor de uma discografia que crescia a passos largos...
assim sendo, contentei-me com o do luis carlos... que confesso, até um pouco envergonhado... sempre invejei. talvez pela dificuldade em chegar até mim... que nunca chegou...
apenas mais tarde adquiri a edicão digital... cuja capa e formato não faziam justiça a esse original da factory benelux... mediaram entretanto oito longos anos... sem o ter... sem o poder ouvir... com a frequência pretendida... are you ready?... federation... chill... bardo plane... we move through the plateau phase... travel time e todas as outras melodias que me faziam falta...
e apenas 31 anos mais tarde chegou até mim a versão remasterizada... que miniaturizava o design original da factory benelux...

por vezes é assim... custa.
custa a adquirir... custa a chegar.


















o que resta > wrong french | piano magic

é sistémico.
o que nós temos para dizer... quando já não há nada a dizer?...
quando o desgaste já tudo consumiu e consumou...
a distância e o silêncio se instalam...
o que resta? o que mais resta... o que ainda resta?...
o que dizer?...
o que ficou por dizer?... o que mais dizer para quebrar o silêncio...
como dizer... sem magoar...
evitar ferir a própria condição...
e sobretudo ouvir wrong french... dos piano magic...
que sem nada curar... tudo ajuda... tudo desinfecta...
que sem nada suturar... todo cose... e reconstrói...
consolidando... erigindo...
sistematizando.
é no fundo... um sistema.


segunda-feira, 23 de novembro de 2015

















reservado aos sócios > last orders | arab strap



há aqui muita esquizofrenia... eu sei.
não é necessário lembrá-lo... estamos a falar dos arab strap.
os escoceses serão provavelmente assim... mais propensos... mais expostos...
senão veja-se... arab strap... mogwai... blue nile... cocteau twins... lowlife... simple minds nos seus primórdios...
para mencionar apenas alguns.
os lowlife são... eram e sempre serão... assim cinzentos e melancólicos... tal como por vezes os cocteaus... 
os blue nile serão certamente a banda mais urbana que alguma vez surgiu... a walk across the rooftops... the downtown lights... let's go out tonight e headlights on the parade... para citar apenas algumas, dizem bem dessa propensão urbana que versa toda a obra de paul buchanan.
os mogwai são inquestionáveis quando se fala de esquizofrenia... qualquer disco é uma potencial banda sonora... de estados de espírito alterados...
resta aos arab strap a condição de anfitriões desta peça...
e assim sendo, farão sempre jus a si próprios... basta para isso ouvir... amor veneris... girls of summer... dream sequence ou simplesmente last orders... para confirmar a idoneidade dos arab strap...

e se dúvidas ainda houver... oiça-se novamente last orders.

sexta-feira, 20 de novembro de 2015


















em 1979 já era assim > a touching display | wire

pensa nos wire.
pensa nos wire no distante ano de 1979...
pensa nos wire de 154...
pensa sobretudo no a touching display... no I should have known better... the other window.
agora mais cru... sem voz humana... sem distracções algumas. nenhumas.
é esse o som... sintético... árido... organizado, diria até...
hipnótico e desenraizado... grave..
dia 21 de setembro de 1979... 
e dia 23 de setembro de 2008.
não deixa de ser estranha a quase coincidência... mesmo que distem 29 anos e 2 dias, um do outro.
se em 154 tudo era novo para a época... sobretudo para a estranha época que se vivia... músicas rápidas e curtas... e o a touching display... com 6 minutos e 56 segundos de duração...não deixa de ser estranho...
sim, eu sei o bela lugosi's dead dos bauhaus... também ele do mesmo ano de 79... tem uma duração de 9 minutos e 31 segundos. ainda para mais era o seu single de estreia... é igualmente estranho...
estranho... acho isto muito estranho... sobretudo porque ambos continuam actuais...
sobreviveram muito bem à erosão do tempo... e não deixa de ser estranho...
no caso dos mogwai... e do scotland's shame... 8 minutos de pura erosão... árida, diria ácida mesmo. destilada assim mesmo, sem cerimónia...
creio que irá ficar igualmente incólume com o tempo... mas, o tempo o dirá...
porque em 1979 já era assim...




quinta-feira, 19 de novembro de 2015















bpm > mogwai outra e outra vez



não, aqui não há batidas por minuto... nada se rege assim...
tão pouco existem dj's e música de pistas de dança...
nem saídas à noite. nem convívio...
aqui não há lugar à socialização... 
aqui reside a desolação... o desalento. a desilusão...
o desespero... sofrimento até por vezes.
esta música acompanha a solidão... o desalento... o isolamento.
é esse o pensamento que carrega... e a que obriga.
a um distanciamento próprio para se poder apreciar...
aos mogwai exige-se esse respeito... essa determinação...
porque melodias assim sintéticas e isoladas... secas mesmo... ajudam...
a preencher todo o espaço... todo o isolamento... toda a solidão...
e os mogwai são... como a espaços os houses... os explosions in the sky... 
grandiosos por desesperados... desesperançados... 
existe aqui uma aridez... um afastamento... um exílio até talvez.
propositado entenda-se.
não se pode ouvir música assim... em comunhão...
não se deve ouvir música assim... em companhia...
exige-se isolamento... solidão mesmo...
opte-se por scotland's shame... opte-se por summer... I know you are but what am I?... mogwai fear satan... ou qualquer outra melodia... e a consequência será sempre a mesma.
essa necessidade de isolamento... solidão... esse necessário desejo de sentir. só.

quinta-feira, 12 de novembro de 2015
















no fim, o fim > the end of the way it's always been | jack

tinha que acabar. assim.
estamos fartos. um do outro.
mal falamos... e a mera presença do outro, torna-se desconfortável... insuportável mesmo...
gosto da casa assim... em solidão... em silêncio.
e agora nesta quietude e distância... há que tomar decisões.
quais os livros que reservo... quais deixo partir...
e os discos... os discos... quero ficar com todos, com tudo... nada deixar partir...
mas, há que dividir... deixar partir.
eu sei. alguns de que muito prezo... vou deixar ir...
trazem memórias conjuntas, agora sem sentido algum...
e por mais que deles goste... e gosto... trarão sempre à memória esse travo amargo...
assim, alguns terão de partir..aparentemente esses.
os mais negros, raivosos mesmo... ficam.
agora sim, avanço... parece que tomo decisões...
fico... ficarei sempre com os discos dos jack... com os discos dos mogwai.
dito de outro modo... ninguém os entende como eu os entendo...
ninguém os necessita...
quem mais gosta de stop coming to my house... scotland's shame... ou mesmo hunted by a freak... 
quem mais do que eu, gosta?...
quem gosta mais do que eu?...