quinta-feira, 29 de novembro de 2018






















última fila > golden hair | slowdive

foi sempre assim, foi quase sempre assim...
havia uma rapariga sentada... misteriosamente sentada na última fila...
sempre meticulosamente na última fila da sala de aula... fosse qual fosse a classe... a disciplina... o horário...
lá estava ela sempre... silenciosa...
nunca lhe perguntei...porquê...
o porquê de ali estar... sempre silenciosa na última fila... assim só, sentada...
era demasiado novo... demasiado tímido... demasiado ingénuo, até talvez...
e ela sempre ali... assim só, no fundo da sala... das salas...
em todos os anos... em todas as salas...
parecia que não tinha ninguém... que não conhecia alguém...
não tinha amigos... não tinha mesmo amigas...
sempre sózinha... sempre no fundo da sala... em silêncio... nesse silêncio que deixou de nos incomodar... e passou a ser assim, familiar.
assim sempre só e calada...
soubemos o seu nome proferido diversas vezes pelos professores...
raramente lhe ouvimos a voz...

ainda hoje a recordo... a lembro.
há imensos colegas que já não sei... não distingo... não me lembro... talvez porque não atribuí importância, não memorizei...
alguns até amigos... de então...
e ela... ela, não.
nunca comigo falou... creio, nem nunca para mim sequer olhou...
mas eu jamais a esqueci... jamais me esqueci...
ali no fundo da sala... para onde já nem era preciso olhar... para sentir que ela lá estava... como sempre.

ainda hoje a relembro... e lhe dedico mais esta melodia que comigo agora se cruza... golden hair... slowdive...














pop mais pop > omd | statues


orchestral manoeuvres in the dark.
como alguém algum dia referiu...
não entender nunca... mas mesmo nunca... se os orchestral manoeuvres in the dark estavam a tentar ser os abba... ou os joy division...
e francamente não entendo... e entendo.
a simultaneidade de melodias assim... stanlow... assim, the beginning and the end... ainda assim... of all the things we've made...mesmo assim... statues... e as outras... todas as outras que me vou aqui inibir de referir...
sim. existe aqui uma por vezes, beleza, melancolia... serena e crepuscular...
mas igualmente um desejo de eco... de transmissão... uma urgente divulgação, assim pop... muito pop. 
e facilmente catalogável... porque sugestivamente dirigida e digerida...
talvez por esse enorme desejo de exposição mundana ou simples ego...
e mais não digo...
fico-me pela audição de temas mais obscuros e cinzentos... e deixo a engenharia genética para outros... tantos outros...




29 novembro > apologia | gavin friday

hoje é um dia diferente... é um dia especial...
faz dez... faz dez anos que a minha mãe morreu...
isso mesmo, 29 de novembro de 2008...
já passaram 10 anos desde a sua morte...
parece que foi ontem... que foi ao início da manhã daquele sábado ensolarado, que recebi a notícia...
assim que o meu telefone tocou, tive um pressentimento...
manhã cedo de um sábado...
e quando vi quem me estava a ligar... percebi logo... nem sequer foi preciso atender...

e assim, junto da janela grande da sala... recebi a notícia... e os pormenores.
a minha mãe havia morrido nessa mesma madrugada... num processo solitário, que até hoje me assombra... e do qual ainda não me consigo desligar...
visitava-a regularmente... verdadeiramente, visitava-a diariamente, mas naquela sexta-feira ao fim da tarde... simplesmente hesitei... sentia-me demasiado cansado após um dia extenuante de trabalho... e a meio caminho... inflecti... e direccionei-me para casa...
seriam umas 18 horas, por aí... e simplesmente pensei que não seria por um dia que ela iria reparar... simplesmente até porque infelizmente os nossos últimos encontrosjá foram um prenúncio...
e imaginei que naquele final de tarde... exausto... não faria mal algum... não comparecer um dia...
a minha regularidade era... foi um facto... não porque achava que devia ir... simplesmente porque queria ir... queria estar, permanecer...
mesmo nos momentos mais frágeis e difíceis...
houve dias... em que sei... estive e permaneci ali assim só, em solêncio...
simplesmente porque sentia... que me sentia ali... 
e isso bastava-me.
ficar ali assim sentado... junto da cabeceira daquela cama de hospital... 
em tardes complexas vividas naquela enfermaria onde já conhecia todos os rostos... até mesmo o daquela rapariga que ali mesmo destoava pela tenra idade... 

subir aquelas escadas largas de pedra... até ao serviço no último piso...
a porta sempre encerrada... a campaínha que invariavelmente se prime e toca...
a porta que automaticamente se abre... e os corredores que rapidamente se percorrem... na ânsia de saber novidades... simples alterações... melhoras mesmo.
o olhar que invariavelmente se volta à esquerda quando se entra naquela enfermaria de 4 camas... e procura... e por vezes encontra o sorriso estampado no rosto que nos aguarda...
ou simplesmente sonolenta e até um pouco moribunda em tempos de outras crises...
chega-te a mim... chega-te até, aproxima-te... para simplesmente te segredar...
o quão bom era o toque na pele sensível da tua mão... que nem mesmo às crianças pertence...
o quão sedosa era a pele das tuas mãos apesar da idade...

volvidos dez anos sinto falta...
sinto falta até mesmo dessa rotina... desse sofrimento...
simplesmente, porque mesmo por pouco sentia-a presa à vida... 
que também era a minha.


quarta-feira, 28 de novembro de 2018




escrita > slow it all down | no-man


por vezes dá-me para aqui...
imagino... tenho a mania que sei escrever...
que sei escrever cartas... estórias... preencher livros até...
tal o gosto e o desejo de prosseguir escrevendo...
perseguindo a escrita... contínua e continuadamente...
sem quaisquer interrupções... tal é o impulso... o desejo e o gosto.
imagino-me a escrever... a usar palavras... todas as palavras... 
a usar todas as palavras... a inventar... a querer inventar...
a inventar palavras mesmo... tal a vontade... de escrever assim indefinida e infinitamente...
sem propósito, outro... que não seja a escrita em si...
mesmo que o conteúdo e os resultados não sejam lógicos ou brilhantes...

por vezes é assim... 
escrevo indeterminavelmente...
pelo gozo... pelo impulso súbito e descontrolado...
em que não consigo refrear esse estado... e continuo imparável...
até esgotar todas as folhas brancas... e...
ou simplesmente as minhas próprias forças.

por vezes é assim.





a parede no quarto > blame | gavin friday

neste bar ignoto... assim só, noite dentro.
há sempre uma obscuridade... e um pianista de ocasião...
nunca especialmente dotado... ou será da dimensão das bebidas ingeridas...
e um par tardio... que hesita ainda em dar o próximo passo.
luzes mornas... sente-se o hálito a tabaco frio...
mesas desalinhadas... o cheiro a bafio... o barulho do vidro de copos que se recolhem e entornam...
o fim da noite.
há sempre um pianista de ocasião ao final da noite...
que tenta extrair versões de melodias à muito esgotadas... e demasiado decadentes...
nesses sons abafados que ficam e permanecem na memória...

há e haverá sempre gente, assim... pronta a preencher lugares inóspitos e estranhos como este...
quando o par esquivo e tardio decide agir...
desconhecidos na noite singular...
alheios ao pouco movimento no bar... entrelaçam as mãos e vagarosamente sobem as velhas escadas de madeira, que range sob os sapatos de salto alto...
percorrem um corredor estreito e igualmente na penumbra... ladeado de portas...
imensas portas numeradas e fechadas...

uma porta... número 5 que se abre e chia e estremece...
uma cama velha e demasiado usada... 
o odor a perfume barato...através daquele pequeno vestido preto demasiado usado...
e enquanto se libertam das roupas, a mulher diz...
eu sei de que cor este quarto devia ser pintado... conheço de cor a sua cor...

o homem demasiado alheio a esta situação agarra-a pela cintura e tenta beijá-la...
a mulher recua um pouco... e enquanto descalça os sapatos pretos novamente afirma...
eu preciso de uma pessoa estranha e misteriosa numa relação brutal...
que me reduza e leve ao desespero a solidão e o silêncio...
nas paredes deste quarto onde o sol se reflecte e morno se esconde todas as tardes...






terça-feira, 27 de novembro de 2018





indeciso > jetlag dreams | departure lounge

indeciso...
não me consigo decidir... qual disco ouvir...
se o out of here... se o out of there... ambos dos departure lounge.
são ambos igualmente bons... e até existem duas edições distintas do out of there.
uma americana e longa... formato lp... e a inglesa ep...
não sei se a maior integra o out of here... mas creio que partes, sim...
a edição americana é assim um condensado de ambas as edições inglesas... ambas editadas pela meek giant...
e quem não conhece os departure lounge... reconheço... que conhece pouco.
quem nunca ouviu o jetlag dreams ou tão simplesmente o straight line to the kerb... reconheço que ouviu pouco... muito pouco... ou mesmo nada.
não se debruçar auditivamente sobre estas rodelas de vinil... é muito pouco.

deve perder-se tempo.
deve mesmo demorar-se algum tempo a simplesmente ouvir.
desfrutar desse encadeado de sons e até mesmo ruídos... dessa calma... que transforma qualquer noite, num pacífico serão...

deve-se ouvir os departure lounge assim, só... na mais profunda das solidões... ausente de outros e quaisquer distracções...
esta música exige isso... exige isto... isolamento... recolhido num lugar ermo... 
assim só... escondido de tudo.
e nesse mesmo lugar despovoado ouvir simplesmente... deixar-se levar e ouvir... runway doubts... ou too late to die young...extraídos desse portento que dá pelo nome de jetlag dreams...
e uma vez aí chegado, se perceberá a dimensão e a importância da solidão...


segunda-feira, 26 de novembro de 2018





















puro > the same deep water as you | the cure

profundo... de um vazio assustador.
inóspito... desolador mesmo.
confrangedor. angustiante, aflitivo até...
tempos assim... vividos na distância... nesse vazio que tanto o espaço quanto o tempo provocam...
à distância tudo dói mais... porque sofre-se mais.
na distância tudo mói mais... adensa-se... condensa-se mesmo o sofrimento...
ficam... restam os momentos passados... vividos... e a frieza da saudade...

o quanto me apetecia agarrar... agarrar e puxar o tempo assim para trás...
com toda a força do mundo... puxar o tempo atrás... 
para viver de novo esse tempo... 
esses momentos a que não atribuímos especial atenção...
essas pessoas que nos fugiram e a quem não dedicámos esse mesmo tempo... ficando eu neste limbo solitário e constrangedor...
porque mordaz... árido e duro... 
tão duro quanto esta solidão...
tão árido, inóspito e puro quanto este sofrimento...





















doador de orgãos > the softest kisses | july skies


conhecemo-nos assim só, por acaso.
conhecia num jantar de amigos comuns.
sim, já sei o que estão a pensar...
não... nada disso.
não foi um jantar combinado... de propósito para nos conhecermos...
foi simplesmente acidental... até mesmo porque ela era casada...
foi casual... acidental.
até porque simplesmente o marido dela não quis comparecer... não a quis acompanhar. apenas isso.
e talvez isso sim... isso nos tenha aproximado...
até mesmo porque todos os outros eram casais... e nós, não.

assim a aproximação foi inevitável...
também até alguma afinidade... alguns interesses em comum...
partilhados nessa conversa... de descobertas conjuntas...
o gosto em comum com alguns filmes... sobretudo realizadores... 
e o apreço por alguns escritores... beckett... duras... jean cocteau... camus...
e mais estranho as afinidades musicais... das quais sou tão esquisito e normalmente tão distante de todos...
revimo-nos nos durutti column... nos montgolfier brothers... piano magic... na lisa gerrard... até mesmo nesse mundo tão pequeno e sensível dos july skies... 
e nos mais óbvios dead can dance... e cocteau twins.
igualmente não estranhei alguma indiferença aos no-man e dif juz... e até alguma repulsa aos wolfgang press e virgin prunes...

acabámos a noite parados na berma da estrada... o leitor do carro a debitar sooner than you think dos new order... as sua pernas serenamente pousadas sobre o meu colo... ao longe o dia que nasce e permite antever...





quinta-feira, 22 de novembro de 2018


















a promessa > motorcycle emptiness | manic street preachers

mentir-te-ia se te mentisse.
mas por vezes também eu oiço coisas assim...
mais sedosas e populares...
mais mundanas e baratas como diria um melómano amigo meu...

ainda recordo aquelas tardes naquele rés-do-chão pequeno...
da rua afonso costa... naqueles prédios do bairro económico... de pequenas divisões e corredores apertados e escuros... 
onde nos reuníamos simplesmente para ouvir todas as novidades musicais...
que dificilmente chegavam... e cuja espera, sei-o agora...
tão importante tornava todos os discos...
o simples desconhecimento do tempo que ainda faltava... que discos viriam... dado que nem sempre as primeiras escolhas nos chegavam às mãos...
por vezes até alternativas que se viriam a verificar ser melhores opções...
mas, adiante.
ali ficávamos... simplesmente a desfrutar... a devorar todos os sons... todas as imagens... todas as capas... letras e até mesmo os odores que vinham embrenhados naqueles discos selados.
também por aquele pequeno e sombrio apartamento... normalmente vazio... passou a minha escola e aprendizagem musical...
descobrir... e celebrar... os durutti column... os the wake... o bill nelson... os cocteau twins... the names... the mighty wah!... entre tantos e todos os outros... foi, tornou-se fundamental para a minha estruturação...
tardes inteiras perdidos assim em deliciosas descobertas... por entre os sons... as palavras... os nomes... as imagens... as capas e o toque do papel...
fase boa e prolífica de tantas e tantas bandas que surgiam... e tantos discos que pariam...
nessa promessa que sabia desde esse momento feita...
que jamais me desviaria desse rumo virtuoso... que me conduziu até aos montgolfier brothers... aos july skies... aos no-man... e a todos e tantos outros mundos marginais... 
que incólumes passaram ao largo desses sons tóxicos que invariavelmente invadem o quotidiano de quase todos nós...
eu disse quase, perceberam...




segunda-feira, 19 de novembro de 2018















ausência > sing that song again | billy mackenzie


outra vez, dirão alguns de vós...
sim, outra vez porque não.
simplesmente estou dedicado a ouvir o transmission impossible do billy mackenzie...
e esbarrei nessas melodias mais soturnas e tristes, apenas isso...
como esta que agora mesmo oiço... sing that song again... ou igualmente blue it is...
ou tão somente at the edge of the world ou até mesmo winter academy, já para não falar do beyond the sun...
todas já tragicamente reveladoras... denunciando esse mesmo momento crucial.
nesse seu belo e enigmático registo... de 1997... ano em que igualmente tudo se desmoronou...
seria simples coincidência... ou uma revelação do que viríamos posteriormente a encontrar...
premonições essas como cantavam os simple minds... leva-as o vento...

há aqui sim o registo... pulula um fantasma... 
de uma profunda tristeza... um isolamento denso e uma solidão já impossível de alcançar...
por alguém que não apenas o próprio...
e isso sim... ficou magistralmente registado nestas melodias... que em cacos testemunharam esse momento... e simplesmente se dissolveram no tempo... como todas as boas e belas músicas tendem a terminar...
esse então será sempre o seu determinismo. o fim.
a ausência.












mentir > beyond the sun | billy mackenzie



mentir-te-ia se te dissesse que sei mentir.
não, não sei mentir.
talvez lá mais para o fim tente, arrisque, simplesmente insinue.
por ora limito-me a contar-te, a dizer-te aquilo que aprendi... que fui detectando nos outros ao longo da vida. a minha.
saímos sempre a perder... saímos sempre derrotados.
parece-me até uma luz injusta... desproporcionada, porque é tudo uma questão de tempo.
uma mera questão de tempo... até sermos... nos sentirmos derrotados, aniquilados.
resume-se tudo a deixar correr, a deixar passar o tempo. para sermos derrotados.
assim apenas, derrubados...

o tempo tudo anula, tudo esquece... tudo amaina e desenfurece. porque esfria.
agora, assim a esta distância posso já contar-te alguns pequenos episódios, que em tempos não me atrevia sequer a questionar... 
posso revelar-te, porque não sendo um segredo... é de um segredo que se trata.
pela intimidade... até mesmo pelo desinteresse para todos... excepto alguns, ou apenas eu.

enterrei os meus pais ao domingo. ambos.
talvez seja mera coincidência, não sei.
ambos me morreram na noite de sexta para sábado... a minha mãe imagino mais tarde, talvez até já na madrugada... sinceramente não sei... não estava presente.
o meu pai isso sim eu sei... provavelmente morreu-me nos braços... ou não.
sei que os seus funerais foram ambos ao domingo pela tarde. no mesmo cemitério.
que me habituei a reconhecer. e a acolher dentro de mim. 
sim, eu sei... não vale a pena vires com esse discurso.
sim, eu sei que não está lá nada quando os visito.
reconheço isso. 
trata-se apenas de um escape, uma cerimónia assim só atabalhoda e trapalhona.
mesmo.
quando lá vou... sempre que lá vou, tenho uma intenção... que se esvai... e altera.
pretendo levar uma flor branca de que a minha mãe me falava... e nunca consigo, nunca fico feliz com a aquisição.
queria algo simples e singelo, assim de uma beleza gritante... mas nunca encontro... nunca concretizo... e digo a mim mesmo que fica para a próxima... para uma outra visita.
quanto ao meu pai... não sei.
sinceramente não sei.
levo-lhe sempre uma flor, uma memória. uma recordação. de que estou ou estive ali... e simplesmente não esqueci... não o esqueci.
mas em jeito de segredo... sussurro-te, não fico confortável... não sei.
sinceramente não sei. acho que deposito na sua urna uma flor... porque igualmente levo uma à campa da minha mãe.
parece-me mais justo assim... não sei.
não creio que o meu pai o desejasse... porque por flores nunca o vi interessado.
plantas isso sim... mas flores, acho que não.
pode parecer estúpido... mas acho que é algo feminino... mais feminino.
e verdade seja dita, quando percorro o cemitério não gosto de ver campas adornadas... com imagens... fotografias... sufocadas com flores.
prefiro campas simples, sóbrias... por vezes abandonadas até.
gosto de ficar a imaginar... quando entrevejo um jazigo assim entreaberto... abandonado...
detecto os odores... as rendas gastas, rasgadas e sujas... que cobrem os caixões assim ao vento... famílias inteiras esquecidas...
gosto de ver os raios de luz que ali penetram... o peso do tempo... e o pó que invariavelmente levita.

e é assim que também os recordo.
através do percurso do cemitério onde imensas vidas repousam já... e que me devolve à memória todo um tempo gasto no passado...
e essa é a maior crueldade.
obrigar-nos a percorrer as nossas vidas e recordações... mostrando-nos a desmesurada impotência... a nossa frágil e finita dimensão... algo que inevitavelmente apenas se protela... porque não há meios alguns para travar essa inevitabilidade.
a impossibilidade de mudar... sequer de parar, suspender.
porque neste momento... em momentos como este, se possível tudo mudava. tudo alterava.
para antes...

quarta-feira, 14 de novembro de 2018






















morrer > rainbow maker | the durutti column


quando eu morrer, talvez tudo se torne mais simples.
até para ti.
senão, apenas e sobretudo para mim.
desculpa.
desculpa ter-te feito embarcar nesta viagem… cujo navio já partiu naufragado.

talvez… talvez quando eu morrer… encontres paz. sossego.
essa calma deliciosa que junto a ti experimento. e de que tanto gostas.
desculpa… desculpa-me por nada ter sido como pretendemos.
como inicialmente antevimos… o que nos propusemos.
o que idealmente projectámos… o tanto ambicionávamos. para nós.
apenas isso… nada de especial.
nada de extraordinário… apenas coisas simples… calmas e sóbrias… que mesmo assim não se chegaram a concretizar…  

recordo a tua atenção… sobretudo o teu olhar e o teu sorriso.
recordo os planos… e a entrega… a tua entrega…
essa tua dedicação a uma viagem moribunda… e perdida… logo que se iniciou…
numa constante tormenta… cuja tempestade nunca amainou…
e essa calma tão desejada apenas a espaços se experenciou…

talvez agora… talvez…
talvez, talvez quando eu morrer tudo se torne mais calmo… mais simples…
mesmo mais fácil. sobretudo tranquilo...
e aí encontres paz… essa paz que tanto perseguimos e precisávamos…
talvez esse seja o tempo… o momento.
apenas quando eu morrer atinjamos esse objectivo.

terça-feira, 13 de novembro de 2018





















o coxo > forever never | robin guthrie



lisboa - leiria... leiria - lisboa...
um domingo de temporal... como tantos outros dias de novembro...
cinzentos... áridos... atípicos de tão típicos.
estranhamente não faz frio lá fora... embora esteja muito vento...
imenso vento mesmo.
gosto de dias assim...essa aproximação, essa proximidade do inverno.
entusiasma... chega a excitar de imaginar dias assim...
esses dias cinzentos e chuvosos... de fim de semana em casa...
o rosto encostado ao vidro da janela... a condensação da respiração...
que perturba e não permite ver...
essa névoa que tudo torna misterioso... essa tonalidade cinzenta que tudo preenche...
essa humidade que se cola ao rosto... 
dias assim saborosos em casa... lá fora a tempestade que não amansa...
e a quietude da casa... a música que invade a sala...
forever never... robin guthrie...
tanto e tão apropriada para tempos assim...
mas igualmente o quanto sabe bem... uma viagem na estrada...
em dias assim... inteiramente invadidos por água...
em dias assim nostálgicos e pálidos...
lívidos de cor... pardos e carregados de tons de cinzento...
o quanto sabem bem dias assim... próximos do inverno...
perto... tão perto desse frio gélido que tudo invade e condiciona.
dias assim em que se cruzam restaurantes vazios de beira da estrada...
como este que agora mesmo o meu olhar cruzou... o coxo...
luzes fracas e distantes...
espaços ocos perdidos na imensidão da espaço...
pessoas solitárias de olhar perdido... pousados em cima das mesas de pedra húmida...
jornais amarrotados... de dias passados...
nessas estradas que familiares se percorrem...
em dias de tempestade assim...




quarta-feira, 7 de novembro de 2018
















sempre > the first rumours of spring | the montgolfier brothers


hoje.
hoje deu-me para aqui. assim só.
apenas issso.
nada mais.
talvez um pouco de nostalgia... talvez um regresso.
um retorno a um espaço sonoro onde fico muito confortável.
melodias assim, acalmam... serenam.
tranquilizam... tranquilizam-me... e tudo tornam familiar...
assim apenas, isso apenas. o quanto me chega. basta.

gosto especialmente dos the montgolfier brothers... confesso.
serem assim muito aprasíveis... calmos e simples.
acima de tudo sempre foram simples... muito simples mesmo.
económicos e contidos... serenos. 
essa economia de meios espanta, sobretudo surpreende por continuar a conter os meios necessários e suficientes... para construir e concluir belas melodias...

os montgolfier brothers sempre pecaram por isso mesmo.
economia de meios... que tão bem sempre lhes assentou.
melodias assim... despojadas... cruas... sentidas e nuas... que de tão austeras, sóbrias e discretas... tão sentidas e tão intensas se tornam...

a economia de meios apenas está ao alcance de alguns...
dos melhores.
senão oiça-se... july skies... felt... the durutti column... eyeless in gaza... cemeteries mesmo...
primus inter pares...
e essa mesma economia de meios e simplicidade ajudou a construir discos e carreiras imaculadas... e insuspeitas.
e o quanto... o tanto isso sabe bem...
o quanto isso me faz bem...