quarta-feira, 22 de fevereiro de 2023

aqui rádio silêncio > another reason | five or six








aqui rádio silêncio > another reason | five or six


01 > esperança

se me perguntam... 
a resposta é óbvia... pelo menos para mim.
claro que tenho imensas saudades... é do que tenho mais saudades...
dessas manhãs... acordar cedo, e partir em direcção à praia...para mais um dia de surf...
de preferência inverno... como agora, em pleno inverno... praias desertas, de preferência não se avistando vivalma...
claro que tenho muitas saudades desse tempo... desses  momentos passados dentro do oceano... nessa espera e partilha que tanto me agradava...
essa espera tranquila... na esperança de avistar... e ao longe ver surgir um set de ondas maiores que acreditávamos sempre serem maiores... mesmo maiores do que o desejo...
esses tempos de espera que igualmente tanto fazem parte... e que em dias de ondas maiores... permitiam descansar entre cada nova ondulação... e igualmente partilhar a emoção... a adrenalina, e porque não dizê-lo... o medo.

a espera era igualmente boa... para cimentar relações e amizades... algumas delas mesmo, construídas no mar dessas praias... enquanto se aguardava por um novo set de ondas...

02 > abandono

e o que faz aqui o another reason dos five or six... perguntarão os mais desatentos...
prende-se, digo eu... com um programa de rádio que existia nessa época... creio, chamado aqui rádio silêncio... do jaime fernandes... emitido nas manhãs de sábado...das 11 às 13 horas... um programa demasiado marcante para ser esquecido...
e onde surgiam belas melodias de imensas bandas sérias e consistentes... entrecortadas por curtas estórias contadas pelo próprio... e que serviam de mote e introdução às músicas que lhe seguiam... e que mais tarde me serviram de inspiração para tantas e todas as missivas que se lhe seguiram...
eram os únicos momentos de pausa desses longos dias de surf... quando eu sabia que o programa estava no ar... e invariavelmente recolhia ao carro e sintonizava o rádio... porque igualmente sabia que iria ser brindado com estórias e melodias perfeitas... quer estivéssemos a falar dos the durutti column... virginia astley... this mortal coil... cocteau twins... five or six... e tantas outras bandas que nunca povoavam o imaginário dos radialistas...

mas sim... se me perguntam...
sim, tenho imensas saudades desses momentos, nesse tempo... 



sexta-feira, 10 de fevereiro de 2023

passo os dias > gone | fontaines d. c.



passo os dias > gone | fontaines d. c. 


passo os dias... a tirar os dias para ti.
raramente, raramente penso em mim...
idealmente nunca penso em mim... perco-me... passo os dias em ti...

passo os dias a pensar nuns... e noutros.
nunca penso em mim...
passo o tempo a pensar nos outros... em vocês... 
a imaginar... a congeminar...

passo os dias... todos os dias para ti.
racionalmente, raramente penso em mim...
idealmente nunca penso em mim... perco-me... passo os dias em ti...

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2023

pesar > actresses who sing | theory of ghosts









pesar > actresses who sing | theory of ghosts

à procura de palavras.
estou à procura das palavras. se não certas, correctas.
para falar deste assunto.
sobre o qual nunca antes falei.

nunca antes falei. 
nunca antes falei disto. muito menos aqui.
é um assunto demasiado pessoal...intimista mesmo, para ser levianamente abordado.
ou mesmo publicamente. é demasiado intimista e reservado... 
não é que me perturbe, na realidade não o deveria fazer. nunca. de todo.
não perturba ou incomoda. 

raramente recordo. raramente penso nisso. a simples ideia evita-me...
tenho um irmão mais velho. 
disseram-me que igualmente tive uma irmã mais velha... ainda mais velha.
que o meu irmão não deveria ter existido... se a minha irmã tivesse sobrevivido.
deveria ter sido a primogénita. e o tempo que mediou de gestação... não teria permitido a existência do meu irmão.
não sei porque não sobreviveu... disseram-me vagamente creio, que tinha nascido morta.
assim sendo... por estranho que pareça, nunca a conheci... mesmo dizendo-me que tive uma irmã... que não sobreviveu... pouco existiu...
não coincidimos no tempo... e isso tornou impossível o mútuo conhecimento.
ela já havia partido quando eu nasci... 

nunca antes falei... porque pouco foi referido... aflorado... falado em família...
não sei se propositadamente evitado... se simplesmente ignorado...
creio, a tristeza deve ser tão dura... que impossibilita o diálogo. a fala.

recordo associar a ideia do seu nascimento à improbabilidade da existência do meu irmão mais velho... creio, pela proximidade dos eventos...
mas familiarmente nunca muito foi comentado...nem a tristeza... nem a tragédia... de se perder assim um primeiro filho...
deve ter sido muito duro... muito triste e complicado... e os meus pais decidirem avançar assim logo para um outro filho... numa época em que a medicina não explicava de todo, muito... foi um enorme acto de coragem... e provavelmente desejo...

mas a esta distância... e na impossibilidade de a ter conhecido... posso afirmar que não estou mal assim, com o irmão que tenho... 
e se a recordo... mesmo nunca a tendo conhecido... registo o momento... 
se gostaria de a ter, obviamente que sim... gostaria sobretudo de perceber a sua personalidade... a sua inevitável genialidade...

apesar disso mesmo... e desse eterno lamento... ou poderei mesmo chamar-lhe pesar... dado não termos sido contemporâneos...
somos os irmãos sem ter conhecido a irmã...