vizinhos > everywhere | cranes
perdemos qualidade, sobretudo perdemos companhia...
o êxodo que se está a verificar neste edifício... em nada abona a nosso favor.
só no último mês perdemos duas famílias... acima de tudo cinco crianças...
e com a perda de tantas crianças... obviamente o prédio emudece...
deixámos de as ouvir chorar... de as ouvir falar e rir...
perdemos o ritual dos banhos e alegres gritarias... deixámos de ser tantos...
e ao sermos menos... ficámos mais pobres enquanto vida colectiva.
fazem-nos falta vizinhos... que deem vida cúmplices aos saguões...
que de tão calados reflectem a ausência... e o vazio que se instala.
perdemos os vizinhos... que se mudam e afastam...
e o grande edifício emudece... e envelhece.
o silêncio custa... as rotinas e a cumplicidade esgotam-se... e tudo se esvazia.
nas escadas e elevador... já não se encontra alguém.
encontra-se ninguém.
o prédio tem tendência a esvaziar-se... e um dia ficará vazio... e outras pessoas virão... e habitarão estes mesmos espaços de uma outra forma que não esta...
perdemos qualidade...
sobretudo porque perdemos pessoas...
perdemos qualidade...
porque perdemos quantidade... perdemos vida e humanidade...