terça-feira, 31 de agosto de 2021

vizinhos > everywhere | cranes






















vizinhos > everywhere | cranes

perdemos qualidade, sobretudo perdemos companhia...
o êxodo que se está a verificar neste edifício... em nada abona a nosso favor.
só no último mês perdemos duas famílias... acima de tudo cinco crianças...
e com a perda de tantas crianças... obviamente o prédio emudece...
deixámos de as ouvir chorar... de as ouvir falar e rir...
perdemos o ritual dos banhos e alegres gritarias... deixámos de ser tantos...
e ao sermos menos... ficámos mais pobres enquanto vida colectiva.

fazem-nos falta vizinhos... que deem vida cúmplices aos saguões...
que de tão calados reflectem a ausência... e o vazio que se instala.

perdemos os vizinhos... que se mudam e afastam...
e o grande edifício emudece... e envelhece.
o silêncio custa... as rotinas e a cumplicidade esgotam-se... e tudo se esvazia.
nas escadas e elevador... já não se encontra alguém. 
encontra-se ninguém.
o prédio tem tendência a esvaziar-se... e um dia ficará vazio... e outras pessoas virão... e habitarão estes mesmos espaços de uma outra forma que não esta...

perdemos qualidade...
sobretudo porque perdemos pessoas...
perdemos qualidade...
porque perdemos quantidade... perdemos vida e humanidade...

segunda-feira, 30 de agosto de 2021

vazio > the negatives | hood










vazio > the negatives | hood


há um momento em que também tu terás de aprender a usar a dor para crescer... 
ou simplesmente usar a dor para sofrer. 

porque a dor está lá, esteve sempre lá, desde o momento em que nascemos. desde sempre.
apenas a começamos a entender a partir no momento em que algo acontece. e se torna irreversível. 
é prática comum. 

na dor... invariavelmente associada à morte... o que assusta... abate e entristece... é sobretudo o vazio que se instala e cresce...
a saudade cresce e assusta... ganha dimensão.
ganha uma proporção até aqui desconhecida... e apenas resta um enorme vazio... oco. onde não existe sentido, para nada. o conteúdo foi-lhe retirado... esvaziado de ser... onde se sente a falta de algo... e de tudo...

então o tempo torna-se lento... vagaroso... difícil de passar... de enfrentar.
parece que embarcamos numa viagem despojada e lenta... demasiado lenta... onde tudo se torna pálido e o que mais custa e mói... é a assumpção de não haver retorno... de não haver mais vida. de tudo se esfumar por entre os dedos... e por mais que tentemos agarrar... tudo agarrar... nada mais restará que nada. 
memórias até a memória se recordar... ou simplesmente cair no esquecimento...

outono aí a chegar > your game is over | klima





outono aí a chegar > your game is over | klima


o dia ainda inacabado... a luz que se furta... esquiva e depressa se torna escuridão...
dias de fim de um verão cujo fim se antevê e aproxima... 
a melancolia de um outono que já se adivinha... e tende a entristecer mais os longos dias...
a música essa só pode ser agora uma. essa, única.
your game is over... klima.


na dúvida, ambos > it's what i want to do, mum | mogwai











na dúvida, ambos > it's what i want to do, mum | mogwai


na dúvida. estou na dúvida.
na realidade estou dividido... 
simplesmente estou mesmo dividido, na dúvida.
até agora achava que a melhor composição dos mogwai era sem dúvida o scotland's shame... embora muitas outras pudessem ombrear com ela.
os mogwai têm composições poderosas... verdadeiros portentos musicais... discos e registos inteiros de uma energia e imensidão... a que poucas outras bandas conseguem chegar...

agora no entanto... considero que fui surpreendido... 
donuts eleva a fasquia... tem um nível de energia... contagia... e absorve tudo em seu redor...
se bem que it's what i want to do, mum...registo do derradeiro álbum à data... é igualmente poderoso. aliás todo este último disco é avassalador... chega a assustar...
enquanto mogwai...o meu paradigma sempre fora o scotland's shame... e provavelmente continuará a ser... mas existe em donuts uma soturnidade... uma melancolia que tudo domina... e que, se por um lado cativa... por outro... de tão sombria e aterradora... tudo abate e entristece...
e isso são os mogwai no seu épico auge... solitários... mas cientes da imensa solidão que provocam em todos os outros que os têm por companhia...





domingo, 8 de agosto de 2021

esperem tudo e nada menos > journey's end | the montgolfier brothers


















esperem tudo e nada menos > journey's end | the montgolfier brothers


cheguei aos the montgolfier brothers na altura certa. no seu início.
desde cedo... desde sempre estive lá.
desde o primeiro registo... mas também não foram assim tantos...
mas, sim... estive lá desde o princípio. desde os primeiros registos e momentos.

e sempre os achei diversos... da generalidade das bandas e música que surgia...
a tranquilidade das melodias eram sempre acompanhadas e sobretudo acrescidas de uma serenidade que sempre existiu nas palavras e voz de quigley... e que tudo amplificava.

era uma conjugação perfeita... essa calma que emergia da música dos the montgolfier brothers... fruto dos sons, mas igualmente da narrativa.
e refiro isso, exactamente porque se veio a demonstrar...
nunca os gnac... quigley... mark tranmer ou simplesmente at swim two birds (os que mais perto estiveram) lhes terão feito alguma justiça...
enquanto encarnação at swim two birds... existiu a espaços... em ambiência e atmosferas que em certo sentido recriaram parte do que os the montgolfier brothers haviam serenamente construído... 
essa imensa monumentalidade, executada a espaços... com tão poucos recursos.
e essa era a sua diferenciação... o seu mote.

cheguei a acreditar na sua reencarnação... dado que nenhum dos dois membros havia potencial ou parcialmente perdido faculdades... 
ambos os percursos a solo eram bem estruturados e cimentados...  
com sedimentos de grande qualidade...
mas com o desaparecimento físico de roger quigley... a improvável reencarnação tornou-se impossível. 
roger quigley era oriundo desse berço inglês... salford, subúrbio de manchester que tantos e grandes nomes da área musical nos deu...

restam assim 3 registos de imensa qualidade... sobretudo o primeiro e último álbuns... sendo certo que the world is flat não é de desperdiçar... simplesmente não tem a consistência e coerência dos outros dois registos... mas sobretudo a sua dimensão e amplitude.
existe igualmente um single "gémeo" do terceiro álbum... e que é igualmente bom...
ouvir o all my bad thoughts e não complementar e completar a audição com journey's end é uma enorme heresia... dado que são inseparáveis...

depois da partida, resta a memória... e a música por companhia...
porque sempre podemos esperar tudo e nada menos...

sábado, 7 de agosto de 2021

a escala da fórnea > donuts | mogwai

















a escala da fórnea > donuts | mogwai


hoje
hoje vi um texto teu com uma fotografia por baixo.
estava na parede de um bar que amiúde costumavas frequentar... e questiono... quantos textos terás escrito aqui, a partir daqui?...

hoje a lua entrou cedo, antes do sol sair... surgiu meio tímida e quase cheia... ainda durante a tarde.
a cor da terra aqui... ao longe, parece áspera e quente.
aqui tudo é imenso... grande e enorme.
a natureza tem esta relação... esta escala.
perante tais factos e lugares tornamo-nos pequenos... sobretudo finitos...
frágeis e ínfimos... por vezes somos demasiado grandes na contemplação de lugares como este... a fórnea... e a cascata da fórnea nesta altura do ano... seca.
mas a imensidão do lugar assusta... 
a contemplação emudece... e tornamo-nos pequenos... e grandes.
natureza assim replica-se em melodias dos mogwai... como esta que agora mesmo oiço... donuts... 

hoje, hoje vi um texto teu na parede daquele café inóspito...
deixa-me perguntar...
por onde andas tu agora?