terça-feira, 26 de junho de 2018









em silêncio > the drowning man | the cure


continuo... continuo a pensar em lugares assim...
como aquele deste último fim de semana.
inóspito... reservado... distante e longe o suficiente...
das coisas... sobretudo das pessoas... 
o que se experimenta em lugares assim... o quanto tudo se torna difícil e inacessível de explicar.
viver aqui... viver ali...
o consumo e os despojos...
a hesitação e a certeza...
o etéreo e o fútil...
nestes despojos inúteis de uma guerra contemporânea e urbana...
e o tangível dessa beleza inóspita e inacessível... que existe a momentos...
cuja hospitalidade é toda e nenhuma... nesses rituais ancestrais... que perduram... na palavra de alguém...
e tudo o que se diz... e conta... e inventa...
o ar... a vista que deslumbra até perder de vista...
o silêncio... a vista que se avista até perder de vista...
já não há tempo assim... 
já não há lugar a lugares assim.
simplesmente porque tudo se desviou... se desfocou.
não existe um norte.
vive-se em desnorte... em aceleração e solidão...
que não isolamento propositado... que não em comunhão.
vive-se em solidão acompanhado...
vive-se um silêncio desmesurado...
não há lugar a esquecimento... a entorpecimento...
aqui vive-se em pleno... cheio... preenchido mesmo.
aqui o tangível a roça o intangível... 
o terreno funde-se com o espiritual... o céu desce à terra...

em lugares assim a vida toca a morte... e existe por essa causa mesmo.
aqui tudo se funde... existe... coexiste e confunde...
porque tudo existe por um momento só... como que parado no tempo...
que não este tempo de agora...

assim sendo afogo-me em silêncio... nesta beleza que tudo rodeia e preenche...


segunda-feira, 25 de junho de 2018





















no convento > the beauty surrounds | houses


não sei se foi do dia... da hora, mas foi certamente do lugar.
lugar sublime... de tranquilidade... de uma serenidade inóspita.
soberbo e grandioso... perante tamanha presença.
queria ficar ali sempre... queria ficar ali para sempre.
a força da natureza... o ar calmo, sobretudo o silêncio...
a serra em toda a sua pujança... 
as grandes diferenças... entre um lugar ao sol... e um lugar sombrio...
as grandes divergências entre um calor tórrido... e um fresco deslumbrante...
comum, a serenidade e a tranquilidade. sobretudo a experiência do silêncio.
do silêncio que reina e impera aqui...
esse mesmo silêncio que tudo acalma... e nos obriga a ficar...
que nos impele a permanecer. assim, apenas. ficar aqui a contemplar. sempre.
para sempre.
nessa eternidade incompatível com a nossa vida quotidiana.
e que nos leva a querer ficar... prostrados perante tamanha serenidade.
só um espaço singelo e sublime atige esse patamar...
e nos atinge a nós. seca e friamente.
e obriga, nos obriga a querer ficar... a permanecer como devotos...
numa devoção onde a natureza reina e tudo circunscreve.

não sei se foi dia... sobretudo da hora...
certamente do lugar.
pairava no ar uma pré-disposição... e até talvez uma fé associada.
recordo a serenidade do lugar... e a tranquilidade que experimentei.
e se uma música houvesse... essa deveria ser sempre translucence+drift music do john foxx e  do harold budd...
música assim evoca... clama por lugares assim.
há um chamamento implícito que vagueia no ar... por uma calma assim.
e mesmo as melodias que nos acompanharam serra acima e serra abaixo... nesse vazio temporal que apenas podia ser preenchido por the beauty surrounds... houses.




terça-feira, 12 de junho de 2018

tempo de espalhar pedras > nightporter | japan


houve tempos assim.
houve um tempo assim... descontraído... sereno e calmo.
um tempo de escolhas... em momentos onde não foram feitas quaisquer escolhas.
como a música deste disco agora aqui relembrado.
gentleman take polaroids dos japan, continha isso tudo... já continha isso tudo.

recordo-o como se fosse hoje mesmo.
esses inícios de noite... assim só deitado a contemplar o tecto branco...
e imperturbável a ouvir esse registo dos japan... 
e a descobrir... essas afinidades... essa cumplicidade... com essa música que igualmente se descobria e desvendava.
assim se construíu todo um imenso manto de melodias... que se alicerçaram no secondhand daylight dos magazine... no low do david bowie... no the man machine dos kraftwerk... systems of romance dos ultravox... tantos e tantos outros... mas igualmente no gentleman take polaroids de david sylvian e companhia...ou seja, os japan.
esse fascínio pelo oriente desenvolto... essa revisão da androgenia dos roxy music e bowie... mas igualmente a electrónica já não tão fria e distante... que nos colava a consecutivas audições...
esse foi um tempo bom, sei-o agora.
havia uma tranquilidade que se perdeu... um tempo... havia sobretudo tempo.
sei-o agora...
existia um clima familiar... uma serenidade hoje em dia difícil de experenciar...
e pessoas... e memórias.
e pessoas que ficaram apenas memórias...
daí também o valor destes sons... destas melodias...
a saudade que visita esses lugares... num tempo que jamais existe.
é tempo agora de espalhar pedras...