terça-feira, 12 de maio de 2015





















proibido entrar > take the shock away | trisomie 21



foi numa noite tensa de trabalho.
nunca mais o esqueci... estava quente, demasiado quente para a época... a madrugada aproximava-se e no rádio preto portátil surgiu essa melodia, que por momentos desviou a minha atenção da tarefa ingrata que me competia...
sentia-se a tensão latente... mesmo o silêncio custava a suportar...
trabalhava-se freneticamente com um único objectivo... terminar os desenhos tendo em vista a entrega do concurso...
o silêncio imperava... apenas entrecortado pelas melodias solitárias que povoavam aquele pequeno rádio de plástico preto...
eis que surge essa música que passou a ser uma familiar amizade desde então, para mim...
refiro-me a take the shock away... dos trisomie 21... que se não eram para mim, uns ilustres desconhecidos... verdade seja dita... também não lhes dedicava muita atenção...
até esse dia... essa noite... quente, de tempestade... 
recordo essa noite... como se tivesse sido ainda ontem...
e no entanto já se passaram... vinte e seis anos...
sim, 26 anos... desde então...
o disco já o possuo desde há alguns anos... e regularmente oiço... especialmente essa faixa... a vigésima segunda no compact disc... já o vinil tendo menos faixas, termina exactamente com essa mesmo...
recordo tudo...
recordo sobretudo as pessoas que já partiram... e povoavam o meu mundo nessa época... 
recordo a riqueza da música desse tempo... e a proliferação de bandas e discos...
recordo aquele espaço onde por mais de duas décadas trabalhei...
e recordo igualmente o tempo que mediou... entre esse tempo... e este onde me encontro agora... 
e imagino... e recordo.

domingo, 10 de maio de 2015





















uma pancada no crânio > here comes the snow | cranes



acho.
acho que nunca falei dos cranes... aqui.
que não noutros sítios... noutras conversas... onde já por inúmeras vezes os referenciei...
agora aqui também... porque sinto que é uma falta... uma gafe...
e se me perguntarem, nem sei porquê... 
a música é... sempre foi boa... regular...
regular, porque nunca foram declaradamente maus... incongruentes... inconsequentes.
os cranes sempre se mantiveram honestos... consequentes... 
sempre os conheci assim... desde que os descobri... se é que esse termo existe... aqui.
ouvi falar dos cranes... numa situação parecida... com a descoberta... estão a ver... novamente a mesma palavra... a maldita mania da descoberta...
mas, adiante...
a situação foi similar ao conhecimento dos... and also the trees... 
quando li um artigo, um pequeno artigo na última página de uma revista da época... a zig-zag, creio... e que confidenciava que os and also the trees.. andavam em tournée com os the cure... e que o primeiro registo homónimo... era produzido pelo baterista dos cure...  
os cranes tiveram um percurso semelhante... também eles associados a bandas reconhecidamente importantes à época...
emergiram num tempo de uma riqueza incomparável... com novas bandas a surgirem todos os dias... com uma maturidade inabalável...
os cranes sempre demonstraram uma maturidade estranha... porque extraordinária...
basta ouvir qualquer um dos seus registos... qualquer um, mesmo... talvez apenas o population four, não seja totalmente homogéneo...
o que aqui registado hoje é a calma que vive e reside no particles & waves... e nessa melodia chamada... here comes the snow...
onde me fixo... e vos deixo... acho.




quinta-feira, 7 de maio de 2015


















uma certa proporção > love insane | dif juz



primeiro estranha-se...
não apenas pelo nome... dif juz.
desde o início que foram, marginais... talvez até marginalizados... em demasia.
os dif juz sempre foram outsiders... numa editora já de si ela mesma outsider...
o momento mais conhecido, se é que na realidade esse momento existe... chama-se love insane... e deve-se apenas pela presença dos cocteau twins... elizabeth fraser na voz e robin guthrie na produção... 
e se essa melodia é inegávelmente bela e tranquila... não se distingue e destoa das outras... apenas se reconhece a voz, essa voz familiar e inconfundível de elizabeth fraser...
senão oiça-se the last day... presente no mesmo disco e que antecede love insane...
os dif juz sempre foram demasiado calmos... demasiado serenos e impertirbavelmente discretos... factos que não se coadunam com o universo pop...
esse porventura o facto da sua discrição... do seu distanciamento...
e verdade seja dita... as melodias também não ajudam... são demasiado boas... serenas e tranquilas... difíceis de se enquadrarem nos tops universais...
servem, isso sim... para momentos solitários... introspectivos...
servirão jamais para grandes encontros... e momentos demasiado felizes...
simplesmente porque a música que os dif juz construiram... o legado que nos deixaram... congregam os fantasmas dos felt... durutti column... trembling blue stars, até... cocteau twins, por vezes...
e se a popularidade destes últimos já não de grande monta...
imagine-se o índice relativo aos dif juz...
tão estranhos, como o seu próprio estranho nome...
imagino os dif juz como os a certain ratio da 4ad...
sim, deve ser isso...
os dif juz estão para a 4ad... assim como os a certain ratio estiveram em dado momento para a factory...
senão, porventura oiça-se blown away... flight... and then again... e felch, entre outras... para se entender a familiaridade... das atmosferas.

segunda-feira, 4 de maio de 2015





















de memória em memória > a song that hurts | gavin friday


com o gavin friday foi sempre assim. 
desde o tempo em que o descobri na sua primeira encarnação... os virgin prunes...
melodias estonteantes... incómodas mesmo... que falam sobretudo... de nós.
de todos nós, mesmo sem o sabermos...
a solo, foi desde o primeiro registo... desde o primeiro momento... acima de tudo mais calmo... mais tranquilo. 
que não passivo.
amadureceu com o passar do tempo... e afastou-se de nós... passou a ser sobretudo ele próprio. que já o era.
mas deixei de se preocupar tanto connosco... centrou-se mais nele mesmo.
essa serenidade é audível em todos os seus registos em nome próprio...
senão oiça-se each man kills the thing he loves... shag tobacco... mas sobretudo catholic...
este último que é também o seu último registo... chega a ser desconcertante...
pela tranquilidade... pela calma.
pelo acto introspectivo mesmo...
e pela distância... da raiva tumultuosa que sempre caracterizou o princípio dos virgin prunes... sempre muito inquietos... incrédulos mesmo...
e era essa desconcertante capacidade que os caracterizava... e nos maravilhava...
surpreendentes sempre... a cada novo registo... uma nova surpresa invariavelmente surgia.
inconformados... endiabrados e jovens... tornaram um enorme... abismal distância... entre as melodias inquietas e irregulares dos distantes anos 80... à passiva serenidade de a song that hurts de 2011...
será da idade... da maturidade... ou simplesmente da indiferença... 
actualmente o gavin friday publica regularmente fotos familiares dos seus 5 cães nas redes sociais... em grande contraste com as indumentárias que envergava aquando das seus travessuras em parceria com guggi...
não é apenas o tempo que medeia entre os vestidos costurados pela sua mãe e que envergava nos concertos... até aos collants rasgados e as cabeças de porco que enfeitavam o palco... em contraste com as imagens caseiras dos seus felizes cães...
não é apenas a idade que distorceu a forma de ver o mesmo mundo...que já não é o mesmo...
é sobretudo a mentalidade... e provavelmente o vigor, que já não serão igualmente os mesmos.
as melodias surpreendentemente, ou não... serenaram... acalmaram.
mas a magia e a qualidade estão lá... intactas. 



imaginar a imagem > wherever there is light | no-man


imaginar a imagem...
que também obrigatoriamente passou por aqui.
os no-man também fazem parte desta história... minha... tua, nossa...
imagino que jamais esqueças... estas melodias, mas sobretudo um disco em especial...
sim, esse mesmo... o returning jesus... onde repousam essas melodias que continuamente ouvíamos... recordas ainda?...
only rain... slow it all down... all that you are... e todas as outras também...
sabes, confesso-te aqui... segredo-te, agora...
tive consciência da nossa cumplicidade quando ouvi um amigo comum dizer que havias passado a noite a ouvir o disco que te havia dado... e senti tudo mais próximo... sobretudo possível... nessa impossibilidade gigantesca que nos impedia de aproximar... mais...
até essa manhã... desse dia...
também os no-man fazem assim parte dessa história... 
assim sendo fico a imaginar a imagem...
essa mesma imagem desse quarto na penumbra... onde as músicas enchiam o espaço e tudo diziam...
e se o ambiente e a atmosfera eram essas... serve a presente melodia para preservar a recordação... e avivar a memória...
oiça-se então wherever there is light... no-man.
e preserve-se a memória... imaginando-se a imagem...




domingo, 3 de maio de 2015















preia-mar > wine destroys the memory | at swim two birds



andava à muito arredado deles... mais propriamente de quigley...
eu explico, passo a explicar...
quigley é também at swim two birds... e igualmente the montgolfier brothers...
e para quem não saiba... os irmãos montgolfier foram os inventores franceses, que no longínquo ano de 1783... elevou aos céus o primeiro balão tripulado do mundo...
mas, adiante...
os montgolfier brothers... são provavelmente a mais óbvia encarnação de quigley...
porque a melhor... a mais acessível, se assim me posso atrever a chamar-lhe.
porque nada aqui é imediato... acessível ao comum mortal.
é música distante... distinta mesmo. apenas para alguns.
quigley e at swim two birds... torna-se por vezes mais díficil... inacessível, mesmo.
são partes distintas... de um todo indistinto.
explico... passo a explicar...
o exorcismo é comum... assim como a introspecção.
existe... assiste-se aqui a um exercício... uma meditação se assim lhe posso chamar... um expurgo... 
reconheço, reconheço-o gora...
uma medicação. um remédio para sarar... esquecer até...
como se fosse uma partida, uma despedida...
e quem parte tem muito a enterrar...
e é disso mesmo que se fala aqui...
talvez até porque como diz a canção... o vinho destrói a memória...


























por vezes > you don't need me to tell you | piano magic

deixa que te diga... 
deixa-me dizer-te assim...
claro, a imagem não corresponde... não é essa a intenção...
é indiferente.
mas deixa que te diga...
por vezes gostava que não fosses tão bonita... tão bela, mesmo.
não, não é receio algum... nenhum.
é antes pelo contrário... um receio... esse receio de não merecer... de não te merecer...
como diz a melodia dos piano magic de que em conjunto nos habituámos a gostar...
sim... não precisas que te diga... porque di-lo-ei sempre...
ainda recordas... esse tempo... este tempo.
em que a música entrava e preenchia também ela a nossa cumplicidade...
esse quarto branco... na sombra de um tempo que corria... nessas músicas que acompanhavam a mútua descoberta...
perry blake... os piano magic... and also the trees... tu sabes... todos e tantos outros... 
esses outros que aprendemos a gostar...
nunca é demais dizê-lo... recordá-lo...
as músicas... os concertos... discos... longas e longínquas audições...
e... deixa que te diga... nunca é suficiente dizer-te
por vezes é díficil para mim... por seres assim... tão bonita...
e recordando esse... este mesmo tempo, oiço agora... 
you don't need me to tell you... piano magic... esses mesmo.