quarta-feira, 25 de outubro de 2023

calmo > air france | blueboy













calmo > air france | blueboy

hoje está tudo mais calmo, muito mais calmo...
e isso reflecte-se... mesmo no que oiço.
comecei a manhã com a companhia sonora do mark kozelek... a que se seguiu the future crayon, uma tranquila compilação dos broadcast.
de momento não hesito e invisto em if wishes were horses dos blueboy...
mas aqui já existe, já reside uma relação... racional.
deparei-me ontem com a edição de singles 1991-1998... vinil duplo onde reside a integra dos singles dos defuntos blueboy... estranhamente editado por uma jovem editora australiana chamada de a colourful storm... que creio é uma espécie de sarah records da actualidade... e onde recuperam e reinam registos pop marginais, de qualidade... e esta edição dos singles dos blueboy é igualmente o pretexto para a primeira edição em cd, dado que até aqui todo o catálogo é integralmente preenchido por edições e reedições em vinil...
um pouco também à maneira da shinkansen recordings...
e igualmente estranho... o que é estranho.
porque terei hoje elegido duas bandas cujos membros mais importantes das mesmas, respectivamente compositores e vocalistas, que já faleceram... estou a falar de keith girdler dos blueboy e trish keenan dos broadcast... o que hoje em dia parece inviabilizar, pouco... a continuidade das mesmas... 

pois é... hoje está um dia mais sereno... 
por aqui está tudo mais calmo...


quinta-feira, 19 de outubro de 2023

doador de orgãos > der abschied | pieter nooten










doador de orgãos > der abschied | pieter nooten


por vezes esqueço.
simplesmente não me recordo. esqueço.
como é o caso destas melodias escondidas neste registo.
este disco é uma pérola... como são tantas outras composições do pieter nooten.
já pessoalmente lhe o referi...
que com a idade estava musicalmente mais sereno e próximo de outros seus contemporâneos... até fisicamente se assemelhava com o brendan perry... o que ele entendeu e bem, como um elogio...

recomecemos então...

este disco é basicamente uma pérola... um tesouro ignorado por tantos e quase todos...
reformulo. estes discos são uma pérola... o que torna tudo ainda mais delicado e delicioso... já que estamos a falar não de um registo... mas sim de dois álbuns.  
e o mais estranho mesmo, é que quando se trata de dois discos... normalmente um é melhor que o outro... o que torna essa assimetria em registos menos coerentes e fortes.
não é o caso aqui. o primeiro compact disc é tão bom como o segundo e vice-versa...

de seu nome haven... é um manancial de melodias calmas e maduras... de uma tranquilidade assustadora... músicas belas e serenas... que não se deixam corroer pelo tempo que passa...
e assim sendo, nesta fase de registos em nome próprio... é sem dúvida o pieter nooten quem sai a ganhar... com discos sólidos e consolidados... e o brendan perry menos prolífero refira-se igualmente... tem melodias soberbas... mas menos consequentes do que as do pieter nooten...

se falarmos nos seus registos anteriores e respectivas bandas... aí os dead can dance são claramente superiores, por serem um pouco melhores (e menos acessíveis) do que os clan of xymox...
creio que com a idade... (brendan perry um pouco mais velho do que o pieter nooten)... ambos se tornaram mais seguros... serenos... auto-suficientes e solitários... se bem que o brendan perry desde há muito que vivia isolado numa igreja, que simultaneamente lhe servia de abrigo e estúdio, a quivvy church... situada no extremo norte da irlanda.

em jeito de conclusão, posso sem dúvida afirmar que estas são as melodias ideais para estes dias chuvosos e de tempestade neste início de outono... e nada melhor do que fazer redescobertas...
e eu por vezes esqueço...


quinta-feira, 12 de outubro de 2023

para a carla > duas simples fotografias | breathless










para a carla > duas simples fotografias | breathless


o tempo passa...
tu sabes, bem sabes como o tempo passa... passa depressa...

tenho agora presente na minha memória duas fotografias. duas fotografias nossas.
a primeira tirada logo no início... junto ao mar, em leça da palmeira... aquando da nossa primeira visita à casa de chá da boa nova...
estamos ambos serenos... cúmplices... creio...
creio nunca termos tido outro registo fotográfico tão próximo e com tamanho entendimento e serenidade como esse...
até agora... até aqui.
duas simples fotografias separadas no tempo... sobretudo em tanto tempo.

volvidos 21 anos, registei com o meu telefone uma sequência fotográfica... onde estranha e novamente surgimos nessa outra dimensão... numa dimensão que nem sempre está ao alcance de alguém... de ninguém... ao nosso alcance...
e igualmente o registo foi junto ao mar... na orla da mata da costa da caparica...

e deixa que te diga... estranhamente estás muito próxima da idade que eu tinha aquando do nosso outro registo... 
o que sendo estranho, não deixa de ser delicioso... sobretudo precioso após todo este nosso tempo conjunto...
começam agora a notar-se os teus primeiros cabelos brancos... o meu está quase integralmente branco... 

a melodia que decidi adicionar a este registo é nem mais nem menos do que you can call it yours dos breathless... mais que não seja, por ter sido companhia assídua em viagens solitárias... e assim provavelmente também ter ajudado a decidir... e a consolidar...

e esta não é apenas mais outra fotografia que empalidece com o tempo... ou irá ser amarrotada numa qualquer impressão ocasional...
esta é uma fotografia nossa... não apenas mais uma fotografia nossa.

e o tempo passa... está sempre a passar...
o tempo inevitavelmente passa...
e nós ainda aqui...

a felisbela > hidden among the leaves | death in june





a felisbela > hidden among the leaves | death in june


não fazia sentido algum, não passar por aqui. nenhum.
seria mesmo uma injustiça... que deveria ser reparada. em tempo.
tem que lhe ser feita justiça...
falo obviamente da felisbela

obviamente não a nossa empregada doméstica a tempo inteiro... mas sim essa nossa familiar... e não estaria a exagerar se a ela me referisse como a suplente da minha mãe.
sempre presente, e quando digo sempre presente... é mesmo sempre presente... 
falo de outros tempos... as mesmas boas pessoas...
tempos em que algumas empregadas domésticas faziam em plenitude parte integrante das famílias... e não eram meras empregadas, criadas de serviço como na época se lhes costumava chamar...

pessoas que connosco partilhavam a plenitude dos dias.. viam televisão... partilhavam as férias e integravam mesmo as refeições de natal.

nunca lhe ouvi um lamento... uma queixa por mais pequena que fosse...
e isso era uma das suas características. a discrição.
e já que em boa verdade estamos em raro tempo de elogio... de referir que tudo o que ela fazia, e fazia tanto... era realmente muito bem feito.
a excepção era na cozinha... onde não sei porque artes mágicas fosse...a felisbela se excedia.
ainda hoje e duas gerações passadas... quem se cruzou com os seus rissóis de camarão... croquetes... favas com ovos escalfados... mesmo o cozido e o caldo verde que nunca apreciei... mas o confeccionado por ela... comia sem hesitação... e tantas outras delícias e doces... fosse na forma do bolo ministro (devo confessar, sempre com a mão indelével da minha mãe)... o pudim flan... mesmo as papas de milho com a casca de limão... 
as omoletas de espargos verdes... o esparregado de espinafres... e as outras delícias sazonais, das quais obviamente tenho de destacar as filhoses de natal...

essa mesma anónima felisbela que teve de carregar com todos os meus invariáveis disparates de uma juventude provavelmente ainda mais disparatada...
essa mesma anónima felisbela sempre disponível para resolver situações... e refeições anómalas, fora de horas de refeições...
essa mesma anónima felisbela que teve de suportar o volume das minhas estranhas opções musicais... impossíveis de combater com o seu pequeno transistor de plástico... 

haverá maior elogio do que a memória trazer de volta tudo o que de bom algumas pessoas nos proporcionaram... sem nós termos à época noção da dimensão desse valor e entrega... 

ou simplesmente percebermos o quanto a nossa vida foi melhor por se ter cruzado com pessoas como a felisbela...  

fica aqui o eterno agradecimento... e o reparo tardio dessa mesma injustiça...
devo-lhe afinal muito... que não tudo...

 

havia esquecido > runway doubts | departure lounge

 










havia esquecido > runway doubts | departure lounge


é estranho. é mesmo muito estranho.
isto não costuma acontecer comigo... muito menos nesta área.

simplesmente havia esquecido o quão bons são os departure lounge.
é que simplesmente não dá para duvidar... muito menos esquecer.
hoje estive a arrumar discos que tirei de caixas vergonhosamente fechadas... há demasiado tempo. demasiado mesmo.
o meu tempo já não se compadece com esta inacção... tenho de ser mais célere e... acelerar...
tenho de desfrutar de todas estas e outras melodias presas ainda no tempo... nesse tempo que já se perdeu e passou... 

e o quão bons são mesmo os departure lounge... será que já o havia esquecido, ou simplesmente apenas não o recordava...
oiço agora desgovernado, e em catadupa... equestrian skydiving... runway doubts... too late to die young... beyond the beltway... charles de gaulle to belleville... obviamente o straight line to the kerb... entre tantas outras melodias...

descubro que houve um regresso tímido em 2021... que gerou o transmeridian... registo que desconheço e irei tentar ouvir... e que creio, não passou despercebido apenas a mim...
mas para já fico-me pela redescoberta dos registos que me são familiares... e que tão bem assentam nestes primeiros dias de outono... 

ou será que a eterna persistência deste calor não permite que o outono este ano exista?...