sexta-feira, 17 de maio de 2019




o segredo mais bem guardado > eyeless in gaza


chiu... façam silêncio.
chiu... não digam nada a ninguém...
fica aqui entre nós... fica aqui, só para nós.
toda a discografia dos eyeless in gaza é uma preciosidade...
toda ela. integralmente. toda mesmo.
por isso guardem silêncio... guardem segredo, porque simplesmente pode ser o segredo mais bem guardado de sempre...

chiu... não digam nada a ninguém...
não revelem nada... nem um único ou ínfimo som...
não. reduzam tudo ao silêncio. assim, apenas.
esta calmaria... esta tranquilidade que se experimenta quando se ouvem os eyeless in gaza... entranha-se... e tudo sossega... repousa.
há aqui uma discreta discrição... uma mudez mesmo implícito nestes sons... que tudo ao redor cala... e pacifica.
esta serenidade que é transversal a toda a sua obra, proporciona uma paz... que poucas bandas nos conseguem transmitir...
talvez os the durutti column... talvez até em alguns momentos uns felt... os houses... no-man... john foxx e os the montgolfier brothers...
obviamente david sylvian... the late cord... july skies... e tantos outros...
mas o que é excepcional nos eyeless in gaza... é que todos os seus recursos apontam neste sentido...
uma sensibilidade e sensatez muito próprias... mas extraordinárias, porque omnipresentes e constantes.

chiu... façam silêncio.
chiu... não digam nada a ninguém...
é segredo.


sexta-feira, 10 de maio de 2019

 

notas soltas > my most meaningful relationships are with dead people | the late cord

há músicas assim... discos assim...
viciantes... hipnotizantes... que seguem em loop tardes... noites dentro.
comigo sempre foi assim... sempre o será...

este vício a que me refiro é obviamente bom... é uma virtude...
não tem que ser um mau hábito... um mau princípio...
nem sequer uma dependência... de todo.

simplesmente é um ciclo... um motivo... porque hipnótico...
de tão tranquilas... serenas, tudo acalmam... e ouvem-se em contínuo...
é assim o disco que agora mesmo oiço... 
lights from the wheelhouse... dos the late cord...
todas as melodias se encaixam... e unem... simplesmente calmas... de uma serenidade avassaladora...
oiça-se lila blue... ou my most meaningful relationships are with dead people... ou hung on the cemetery gates... 
porque não chains/strings... 

como poderão imaginar estamos perante um registo magistral.
a espaços faz lembrar this mortal coil... até mesmo os houses... cocteau twins... dead can dance... eyeless in gaza... the apartments... paul buchanan... até mesmo a vasta imensidão dos no-man...
existe aqui uma candura...um cuidado com a serenidade...
que por vezes torna a audição assustadoramente próxima de um qualquer fim...
há aqui melancolia... há aqui igualmente uma enorme saudade...
que nos remete para tudo e todos os que já nos deixaram...
aqui, assim sós... apenas na companhis de discos e melodias como esta a que agora mesmo regresso... my most meaningful relationships are with dead people...
e toda a verdade que simplesmente esse mesmo título encerra.


quarta-feira, 8 de maio de 2019
















filhos, enteados e sobrinhos > a descendência dos kraftwerk


nunca uma banda deixou... tanto rasto...
nunca uma banda deixou e promoveu tantos descendentes...
obviamente que falo dos kraftwerk... 

pais... pioneiros do rock alemão... 
onde também se inscreveram os seguidores do krautrock... nos idos anos 70 do século XX... tais como can... neu!... tangerine dream... klaus schulze... kluster... dieter moebius... roedelius... conrad schnitzer... obviamente conny plank... faust... amon duul II... edgar froese... peter baumann... christopher franke... brian eno...
deixaram um longo rasto... a imensa cauda de um cometa chamado rock alemão... que partiu das premissas da electrónica ambiental... e de uma certa descendência dos psicadélicos pink floyd de boa memória.
o cruzamento com o minimalismo bauhausiano da art of noise... gerou a facção kraftwerkiana... a outra mais distinta e ambiental... deixou decendência em eno... explosions in the sky... slowdive... mogwai, entre tantos outros passíveis de nomear...
os kraftwerk são únicos... porque inimitáveis...
mas temporalmente sempre todos se lhes tentaram comparar...
fossem os new order de blue monday... os electronic descarados de until the end of time... os os inesperados shelleydevoto em a world to give away...

e os enteados... filhos e afilhados... filiados... honrosamente encabeçados por john foxx... gary numan... ultravox... joy division... cabaret voltaire... throbbing gristle... stereolab... einsturzende neubauten... e a facção degenerada e populista dos visage... ultravox... human league... b.e.f.... heaven 17... e ficaríamos aqui o dia todo...

mas não fico.






domingo, 5 de maio de 2019


presos por um fio > memory one | the wave room



tempos... em tempos...
foi assim... provavelmente sempre o será...
apenas temos memórias do passado... mesmo que vivamos o presente...
vivemos o momento presente... sendo que tudo imediatamente se torna passado...
existe e deixa de existir no passado...

quando iniciei este texto... que agora já pertence ao passado...
não tinha noção do que escreveria... porque caminhava para o futuro...
assim sendo não temos vislumbre senão agora... do presente...
o futuro ausente... porque ainda não aconteceu...
o presente é esse contínuo... ínfimo... que simplesmente conecta o futuro com o passado.
tudo é então presente, porque o momento em que sempre estamos... em contínuo... mas igualmente ínfimo porque não consubstanciável... sendo-nos impossível fixá-lo... pará-lo...
o passado é tudo... porque uma vez vivido... tudo se torna memória... 
o presente esfuma-se constante... a todo o momento...
o passado é onde tudo jaz e resta... 

prevemos... projectamos o futuro... com incertidão...
e se vivemos o presente... constante presente...
ele apenas é um frágil laço que une o futuro com o passado...

sexta-feira, 3 de maio de 2019




porquê? > eventually | what?noise



porquê?... perguntaram quase todos...
simplesmente, porque sim.
não há como evitar... não há como lhe fugir...

descobri o eventually dos what?noise nos idos anos 90 do século passado...
logo na entrada da década... o álbum fat onde reside esta faixa que inclusive abre o disco... data de 1990...

porquê? perguntarão ainda alguns distraídos...
simplesmente porque quando se trabalha com os melhores... provavelmente é-se um deles...
aconteceu com o chris nagle... parte integrante dos what?noise... juntamente com a julia adamson... que foi tão só a primeira mulher engenheira de som dos famosos strawberry studios em stockport, subúrbio de manchester... por onde quase todos os grandes dos anos 80 passaram... fossem os joy division... os new order... os section 25... crispy ambulance... the wake... the durutti column... the psychedelic furs... sobretudo a nata da factory records em peso...
não sei se estão a ver... martin hannett incluído... e que trabalhou em diversas ocasiões em parceria com o chris nagle... produção e mistura...
a julia adamson integrou inclusivamente os the fall de 1995 a 2001... e foi assistente do martin hannett de 1981 a 1983... 

o chris nagle... colaborou com os joy division... os new order... compôs com o vini reilly... produziu o the wake... os crispy ambulance... omd... section 25...
pelas suas mãos passaram melodias e discos inteiros, tais como... harmony... the plateau phase... another setting... lips that would kiss... flight dos a certain ratio... unknown pleasures dos joy division...e acho que basta... não será necessário nada mais.
talvez apenas referir o magic, murder and the weather dos magazine, igualmente produzido nos strawberry studios com produção e mistura do martin hannett e assistência de chris nagle...
ou não tivesse ele sido engenheiro desse mago chamado martin hannett...


porquê?... perguntam ainda alguns...
simplesmente porque sim.
bastará ouvir eventually dessa ignota banda que dava pelo nome de what?noise... para logo de início se perceber...

não há como evitar... 

porquê?...
simplesmente porque sim...








 


quase verão > girls of summer | arab strap


vem aí o verão... sente-se.
pressente-se... 
sobretudo nas mulheres... é mais fácil de detectar... de intuir...
há toda uma intuição... um desejo até...
que o calor e os dias infindáveis de luz e sol... finalmente cheguem...

quem não teve já essa mesma ânsia...
de ver o verão chegar... 

quem não teve já esse entusiasmo...
de imaginar uma nova paixão... em um novo verão...
quem não teve já um desejo... que tudo nessa estação se concentre e concretize...

quando somos jovens... adolescentes...
como dizia o andy warhol... 
quando somos jovens temos o nosso corpo, nada mais interessa...
na ausência de cultura...informação...interesses...
refugiamo-nos nessa nossa carapaça inviolável...
que de tudo nos protege... e a tudo nos guia...

pressente-se... que vem aí o verão.