quinta-feira, 26 de dezembro de 2019





















natal 2019 > upon this earth | david sylvian

a vida também é isso.
é sobretudo isso.
a nossa infância o sentirmo-nos protegidos... as nossas vivências... as nossas fraquezas e as nossas forças, se é que elas existem e até alguns sonhos para alguns...poucos.
a nossa juventude e as descobertas em catadupa as nossas ilusões e desilusões...
as nossas frustrações... 

esta é a época quando declaradamente nos sentimos mais próximos... expostos. fragilizados mesmo.
a ideia de comunidade... partilha... expectativa e vivência... altera-se, confrontando e confundindo o quotidiano. nosso. como igualmente o de todos.
são tempos de partilha... cumplicidade e proximidade... mas igualmente estranhos... porque tudo alteram no nosso quotidiano... nas nossas rotinas... na nossa vida.

o natal é sobretudo isso... uma ilusão... fugaz que tudo distorce... onde toda a gente surge atenta e disponível... complacente e cuidadosa...
essa é a miragem destes tempos festivos... que cumprem apenas e religiosamente a trégua deste tempo. 
existe durante esta quadra.
depois regressamos ao mesmo do nosso habitual mundo... 

sexta-feira, 20 de dezembro de 2019




colecção? qual colecção? > requiem again | the durutti column



por vezes é assim, também é assim...
por vezes é imperceptível... para a maioria das pessoas...
não é explicável. é inexplicável.

não, não é coleccionismo.
não, não se trata de fazer uma colecção... sim, eu sei... é difícil de explicar... a quem não tem ou sente essa necessidade...
é estranho... é um impulso... 
assim como algo que nos faz falta... que preenche um vazio que desconhecíamos... mas que efectivamente existia em nós...
sim, eu sei... é estranho. 
mas, não é uma colecção... não, nada disso... não se trata disso.
simplesmente é... algo que nos faz falta... e pacifica... 
e preenche e acompanha. sim, sobretudo faz companhia... muita companhia.
é como que um bom amigo... próximo, íntimo e mudo... que está ali omnipresente quando o queremos e desejamos ouvir.
e essa serenidade e certeza, traz segurança.

assim sendo vou ouvir requiem again... the durutti column... deste disco da minha colecção...
colecção?... qual colecção?...




nada de novo > prayer | the durutti column



ainda me lembro. de ter recebido este disco das mãos do meu pai...
e o olhar dele... o contentamento espelhado no seu olhar... por me ter conseguido dar aquele... e tantos e todos os outros discos que invariavelmente lhe pedia... em listas construídas em pequenos pedaços de papel... religiosamente organizados... por importância... 
sempre foi assim... sempre que ele viajava, dizia-me com a maior tranquilidade que alguém pode ter... e que imagino, estranhamente não herdei...
se queres que te traga algo, faz uma lista... que eu de antemão já tinha feita...
organizava tudo numa folha A4... muitas vezes escrita à máquina... por ordem decrescente de interesse... que não importância...
era diferente.
era mesmo muito diferente. compravam-se discos por vezes até desconhecidos... 
sobretudo por vezes, arriscava-se. sim, o termo é esse. arriscava-se.
havia um feeling... um sexto sentido que nos dizia que aquele disco ou aquela banda tinha estado associada a outras que gostávamos... ou simplesmente eram de uma mesma editora independente que religiosamente seguíamos...

era diferente, era mesmo mutio diferente.
e assim sendo ainda hoje ao ouvir o another setting dos the durutti column... recordo essa tarde desse domingo, em que o meu pai recém chegado de mais uma viagem a londres... me deu um saco e me disse simplesmente... isso foi o que te consegui encontrar... 
e vocês não têm noção... no meio de diversos discos... simplesmente estava também, religiosamente selado... o another setting...acabadinho de sair... nessa primeira edição que trazia um insert em cartão grosso... um stencil, para sobrepôr na capa... e que tão surpreendido e fascinado me deixou...

e aí... quando ainda incrédulo cuidadosamente manuseava a capa e colocava o disco no prato do gira-discos... o meu pai... com um sereno sorriso estampado no rosto simplesmente disse: afinal não foi assim tão difícil de encontrar esse disco que tanto desejavas...

vindo dele... assumo-o agora... não era efectivamente nada de novo.


quarta-feira, 18 de dezembro de 2019




nódoa negra > dedicated | minimal compact


dou comigo a escrever, assim apenas.
e logo eu que não sou... ou tenho pretensões de escritor.
escrevo, assim palavras soltas... pensamentos avulsos que se tentam interligar... com palavras, que tentam estruturar e construir um texto. articulado... lógico e coerente.
essa coesão por vezes não é precisa.
precisa de necessária... porque necessária.
precisa por necessidade... não por precisão.
precisa, porque necessária... não por exactidão.

são assim estes textos... carregados de palavras... por vezes sem coerência... mas que continuam a sedimentar-se... mesmo que sem grande nexo.
e isso é próprio dos que não têm pretensão a serem escritores...
simples amadores e amantes de palavras... frases... intenções e intuitos.
alimentando-se de letras... que se constroem e constituem palavras. 
e que acabarão por construir um texto. este.


sexta-feira, 29 de novembro de 2019




29 de novembro > breakfast | billy mackenzie 



faz hoje novamente anos... 10 anos para ser mais preciso.
que me deixaste...
recebi a notícia ao início da manhã... era sábado e estava um dia muito diferente deste mesmo dia 29 de novembro de hoje, dez anos depois...
estava sol, um sol morno... o céu muito azul... nesses dias de aproximação do inverno... mas muito radiosos... e ainda não muito desconfortáveis, porque muito frios.
não era nada que não se aguardasse... no entanto, confesso, colheu-me de surpresa...
esperava mais... esperamos sempre mais... nem que seja apenas porque... sim... porque queremos confrontar-nos com a natureza... e tentar ir sempre mais longe... ganhar mais tempo... simplesmente ficar... permanecer pormais tempo.
acredito que é uma condição de instinto... puramente de sobrevivência... 
simplesmente resististe até onde pudeste...
o tempo, esse já havia sido determinado...
imaginava contar com essa tua delicada doçura para com todos os outros, mais tempo... 
gostaria de ter tido o egoísmo necessário e possível... para contar contigo junto a mim...porque o desejo e o apego eram enormes... e ficar assim até ao fim.
e perdoa a eterna confusão acerca da música dos the associates na voz do billy mackenzie... na distância e na tua ausência, já não sei se era o breakfast... ou o those first impressions... ou até ambas...
e perdoa igualmentea a escassez de rosas brancas...

quinta-feira, 21 de novembro de 2019





rua abade faria 55 > empire of the senses | bill nelson

hoje vou falar da pequena casa no número 55 da rua abade faria.
inserida no bairro dos actores... era nesse rés-do-chão que invariavelmente nos perdíamos tardes inteiras em descobertas... musicais.
era nesse minúsculo quarto, invariavelmente na penumbra que descobriamos e devorávamos as mais recentes aquisições discográficas e nervosamente aguardávamos pela chegada das novas encomendas... processadas através de um grande armazém inglês... através de listagens enviadas por correio, às quais se seguiam 4 a  5 semanas de suspense e silêncio total... até se receber o tão aguardado aviso dos correios... para de seguida se ir levantar as encomendas aos correios...

não era stressante... era sobretudo mágico e desejável esse suspense que se criava em torno da encomenda que acabava de chegar. 
passo a explicar. aquando de de proceder a uma encomenda, havia que referir igualmente na folha de papel A4... duas ou três alternativas... caso os discos pretendidos... já não se encontrarem disponíveis... o tempo era outro... vivido e desejado de uma outra forma. 
havia um outro ritmo... onde tudo se enquadrava de um modo mais calmo. tudo era naturalmente vivido e preenchido de uma enorme tranquilidade.
os dias pareciam mais longos... as horas custavam a passar...

foi assim tardes, noites dentro... que apreendemos e absorvemos o melhor que se registava no início da década de 80... em casa do zé paulo... melómano pouco convicto... juntamente com o luís carlos e mais um ou dois amigos.
foi ali que também descobri as obras maiores do bill nelson... do richard jobson e dos the armoury show... dos the wake... mas igualmente dos the danse society... cocteau twins... crispy ambulance... the mighty wah!... entre tantos e tantos outros...

foi nesse sombrio quarto da rua abade faria que fiz o tirocínio... que me levou aonde estou hoje... distino e distante de quase todos os outros... fiel a uma descoberta de uma obra maior durante a minha adolescência...

terça-feira, 19 de novembro de 2019





every colour you are | rain tree crow


cheguei lá por volta das 7 horas... entardecia, caía a noite.
quando entrei no café, já ela lá estava... aguardava sentada numa mesa de canto... para onde o meu olhar logo se deslocou... dado ser a sua localização estratégica em lugares públicos, a que ela sempre preferira... e sempre me agradou essa vontade de discrição dela.
sentei-me, pedi desculpa pelo atraso... logo eu, que nunca costumo chegar atrasado...
segurava a chávena de café com ambas as mãos... aqueles dedos finos e longos... as unhas como habitualmente pintadas de um tom claro...
já não recordava... mas assim que lhe vi a chávena envolta nas mãos... recordei...
este era o seu processo familiar de aquecer as suas mãos... e assim envolta na sua chávena, sorriu...

absurdamente comecei por lhe referir... 
há duas músicas que me recordam sempre de ti... o straight line to the kerb dos departure lounge... que preenchia o vazio da tua ausência, e invariavelmente me levava até ti... e o upon this earth do david sylvian que me remete para as inúmeras e múltiplas viagens por aquelas estradas que se tornaram tão familiares... de grandes e volumosas camionetas em constante movimento... a clareira dos veados... na eminência de por vezes lá estarem... o vento na copa das árvores distantes... a estrada sinuosa e sempre em mau estado... as longas rectas... subidas e descidas...
mas igualmente o cheiro do café pela manhã... e esse teu olhar que jamais esqueço... e me acompanha e aconchega...
ao que ela calmamente se recostou no banco e serenamente respondeu...
foi divertido, mas eu nunca poderei ser a pessoa certa para ti... 
assim sendo abriu a carteira e deu-me um pequeno cartão branco que simplesmente tinha escrito a tinta preta...
why fall in love... if you can fall asleep...










quarta-feira, 13 de novembro de 2019
















tríptico sonoro > harold budd & clive wright


estes sons remetem-me para simplesmente estar deitado...
simplesmente estar quieto... a olhar o branco do tecto... olhos fixos no nada... simplesmente a ouvir os sons que estes discos emanam.
ouvir harold budd... requer alguma atenção...
não se deve desviar o olhar, a atenção...
ouvir harold budd exige total disponibilidade... concentração...
por vezes os sons que resultam... são tão singelos e frágeis... que se podem perder... e deixar de ouvir...

há uma trilogia de discos... consecutivos e até provavelmente sem relação... do harold budd em colaboração com o clive wright...
que são simplesmente arrebatadores...porque avassaladores.
percorre estes registos, uma singela delicadeza... por vezes tão ténue... quanto frágil...
é isso... a música do harold budd é tão distinta... delicada, mas sobretudo ténue e frágil...
como num tríptico... também esta trilogia emana, agrega... e desagrega... constitui-se e dissemina-se em partículas impalpáveis... porque demasiado delicadas...
o primeiro a song for lost blossoms datado de 2008... é genericamente harold budd em estado puro... muito atmosférico e calmo... numa serenidade ambiental que lhe é familiar e grandemente avassaladora. 
o segundo registo é igualmente uma colaboração... candylion... de 2009... porventura mais estruturada... num contraste vísivel com o seu antecessor. mais racional, onde derivam e divergem humores e pensamentos distintos... personalidades.
o último capítulo little windows data de 2010... é na sua génese, não tanto uma colaboração... antes peças individuais de ambos os compositores, logo menos coeso e estruturado...

ouvir esta trilogia, corresponde a estar no mais completo silêncio...imóvel... a contemplar o tecto de um quarto alvo... simplesmente deitado, como se um mundo lá fora estivesse parado.
totalmente parado, apenas a escutar...

segunda-feira, 11 de novembro de 2019

próximo da loucura > wrong french | piano magic





















próximo da loucura > (fazer-se acompanhar de wrong french | piano magic)

próximo da loucura existe uma porta...
próximo da loucura existe uma porta branca...
uma porta branca que se abre... e que não se abre...
próximo da loucura...
próximo da loucura existe uma porta branca que se abre e que não se abre...
uma porta branca... que se abre e permanece entreaberta...
próximo da loucura existe uma porta branca... que se aproxima...
e próximo da loucura existe uma porta branca que se abre... e que não se abre...
e contudo está... parece mais próxima...
próximo da loucura... existe uma porta branca...
uma porta branca que se abre e que não se abre...
e que no entanto permanece entreaberta...
próximo da loucura existe uma porta branca... muito branca... alva...
que parece próxima... mais próxima... cada vez mais próxima...
tão próxima...
próximo da loucura existe uma porta branca que se abre e que não se abre...
e entretanto parece entreaberta...
próximo da loucura existe uma porta branca... que se abre... e que não se abre...
próxima... cada vez mais próxima...
tão próxima que me parece poder tocar-lhe...
próximo da loucura existe uma porta branca que se abre... e que não se abre...
próximo da loucura existe uma porta branca que se abre...
tão próxima... cada vez mais próxima...
perto... tão perto que me parece poder tocar-lhe...
tão perto que apetece tocar-lhe... próxima... cada vez mais perto...
tão perto...  que parece ver-lhe a textura da própria tinta branca...
tão perto... próxima... cada vez mais perto... que apetece tocar-lhe...
porque próximo da loucura existe uma porta branca que se abre... e não se abre...
próximo da loucura existe uma porta branca que se abre...

e surge o vulto de um homem branco vestido com uma bata branca...
e que aponta na minha direcção e diz...
O PRÓXIMO!...

segunda-feira, 4 de novembro de 2019








profundamente preocupado > listen to the rain | james young



por vezes é assim. demasiadas vezes diria mesmo...
músicos... de uma música apenas.
os exemplos são muitos e multiplicam-se... 
os casos são mesmo imensos... inúmeros.
senão veja-se o exemplo dos what?noise... e de eventually...
o resto do disco não é mau, de todo... mas eventually é superior... soberbo. imaculado e irrepetível.

outro exemplo é o que passou com o james young...
não é que a sua discografia seja enorme, que não o é... mas o tema songs they never play on the radio... é paradigmático.
é um tema incontornável... sendo certo que existem outras belas músicas nesse disco... tais como listen to the rain... igualmente boas... mas o songs they never play on the radio, é inatingível e inigualável...
por vezes, demasiadas vezes é assim... pegamos num disco para lhe ouvir uma faixa apenas... e não sei mesmo a causa... apenas o efeito.
sei apenas que são discos desconexos... sem uma grande estrutura e coerência... uma espécie de best of... e não uma produção coesa e consciente... que parece não ter sido concretizada num período específico de tempo...
e reafirmo que não é o caso de songs they never play on the radio... com músicas consistentes... mas mesmo assim... existe uma que sobressai e suplanta todo o registo... e anula... porque se sobrepõe.
há discos assim...
porque há músicos assim.





domingo, 27 de outubro de 2019





















no topo > charlotte sometimes > the cure


surgiu uma surpresa... uma playlist de robert smith... com as suas escolhas pessoais das, na sua opinião... melhores músicas dos anos 80...
as grandes surpresas... na minha opinião são... as melhores que tanto me surpreenderam... e as surpresas no mau sentido... 
nas boas surpresas, a melhor mesmo é a eleição de tell me easter's on friday... dos the associates.
grande... grande... enorme surpresa.
se já a escolha dos the associates é uma bela surpresa... a nomeação dessa belíssima e difícil melodia, porque diferente melodia. nos the associates tende-se a dar grande destaque às músicas mais imediatas... e óbvias... esquecendo-se temas como q quarters e white car in germany... a matter of gender... a par do incontornável tell me easter´s on friday...
dito de outra maneira... não é uma escolha óbvia na vasta discografia dos the associates.
nem mesmo a nomeação, uma enorme surpresa.

o the eternal dos joy division parece mais consensual... apenas talvez ensombrado pelo decades... mas parece mais evidente. um clássico e uma referência do início dos anos 80.
também referida a mais que óbvia the killing moon dos echo & the bunnymen... outro clássico... o clássico como diria ian mcculloch...
de estranhar a ausência de qualquer tema dos the smiths... 
mas mesmo mais rude, inusitado e estúpido... é a referência de dear prudence... versão dos the beatles pela mão de siouxsie and the banshees... quando tão bons temas originais têm...  e onde o próprio robert smith militou num par de discos...
o mesmo se aplica aos soft cell com o tainted love... só que neste caso os bons originais não abundam...
quanto à maioria das outras eleições... algumas abstenho-me de comentar... de tão surpreendentes e desviantes que são...
cito apenas e com imenso pudor... abc...  bananarama... embora por lá igualmente passem citados os cocteau twins... daf, boa surpresa... the psychedelic furs... e os new order com everything's gone green.

não deixa de ser surpreendente que as escolhas pessoais de um músico influente e sólido constructor dos anos 80... refira-se apenas o seventeen seconds... faith e pornography... 
nunca esquecendo o charlotte sometimes... que a par de tell me easter´s on friday e um punhado de outros singles... são porventura o expoente máximo do que se desenhou musicalmente nesse prolífica década...

sábado, 26 de outubro de 2019



hesitação > england´s always better (as you´re pulling away) | piano magic


hoje decido-me a ouvir canções... meras e puras melodias, que não discos inteiros...
assim sendo tenho de pensar um pouco... são tantos os temas elegíveis... que hesito.
é que no meio de tanta hesitação... sinceramente já não sei o que ouvir...
hesito... hesito entre os curve... os black marble... os piano magic... os slowdive... e os the national...
alguns evito mesmo... mesmo quando hesito... para minimizar as escolhas, que por vezes não se tornam fáceis...
se me decidir pelos curve... estão a ver, novamente hesito... entre o signals and alibis... e o cuckoo...
nos black marble, aqui não há grande hesitação... não tenho grandes dúvidas...
a escolha recairá apenas sobre o a great design ou woods... mas também aqui a decisão não será fácil...
com os piano magic a complexidade aumenta... são tantos os temas possíveis... e passíveis de nomear...
wrong french delicada e soturna... o portento que é crown estate... a delicadeza de disaffected... i must leave london... frágil e vulnerável porque fria e violenta... música que tendo a associar ao filme irreversível, sendo este no entanto mais brutal...
you never loved this city... the blue hour mais agressivo e... o perturbante life has not finished with me yet... ou essa elegia chamada england´s always better (as you´re pulling away)...
com os slowdive passa-se exactamente o mesmo... a dúvida instala-se... a indecisão... ouvir a nova no longer making time... o incontornável clássico golden hair... machine gun... alison... when the sun hits... que raiva... tantos e tão bons temas... a quase totalidade de pygmalion...
os the national... até enervam... ter que decidir... eleger um tema apenas...
aqui não haverá grandes dúvidas... lugar para grandes hesitações... sorrow é impossível de bater... mesmo que existam temas como conversation 16... anyone´s ghost... afraid of everyone... so far so fast... quiet light... e light years... tão perto da perfeição de sorrow...
e sem me decidir... decido... ouvirei o silêncio de england´s always better (as you´re pulling away)... o sorrow dos the national e logo de seguida o no longer making time... slowdive novamente no apogeu.




quarta-feira, 23 de outubro de 2019

de rompante > into you like a train | the psychedelic furs



















de rompante > into you like a train | the psychedelic furs

podia ter sido ontem... mesmo anteontem...
aconteceu hoje...
recebi um telefonema inesperado pela manhã. inesperado, porque sinceramente não estava à espera... era um singelo e inusitado convite para beber um café... pouco usual em mim... ao qual estranhamente anui...

logo no nosso primeiro encontro a sós... surpreendeu-me. decidida e definitivamente, surpreendeu-me.
ainda os cafés tinham acabado de chegar à mesa... e já me confessava que tinha comprado uns sapatos novos... para a ocasião...
indagou o que eu achava, estendendo um pé na minha direcção...
sinceramente fiquei, sem palavras... não imaginava...
nunca atribuíra qualquer significado aquele casual encontro... 
nunca desejei demonstrar qualquer importância aquele telefonema... fora mera cortesia... uma questão de educação ter marcado aquele encontro ao final da tarde.

agora perante esta situação... e assim sendo, baixei o olhar e simplesmente disse que eram muito bonitas as sandálias novas... e ainda incrédulo... indaguei se não lhe faziam doer os pés...
sorriu...e disse, não!... um não afirmativo em que desejei acreditar...
em seguida disse-me onde as havia adquirido... o número que calçava... e chegou mesmo a  insinuar o preço...
num esforço para tentar mudar o rumo da conversa... abri o fecho da bolsa central da minha mochila... e do interior retirei um disco recém comprado... e depositei-o em cima da mesa... 
e confessei que aquele simples disco metálico estava a mudar a minha vida. desde há muito tempo que um amontoado de música, não tinha tanto significado para mim. era urgente simplesmente ouvir aquele registo...
e assim sendo depositei-o nas suas mãos, não sem antes referir... acho que também devias ouvir...
ao que ela respondeu...
efectivamente não conheço, mas se fôr tão bom como aquele que há alguns anos me emprestaste... sem dúvida que deve ser precioso...
sabes... nunca te confessei... mas o disco dos july skies... chegou mesmo a assustar-me...
a sério. passei noites em branco... simplesmente na urgência de o ouvir. repetidamente... não conseguia parar de o escutar... viciante mesmo de tão bom que era... e é ...
agora se me dizes e aconselhas este barrow dos cemeteries... sinceramente, hesito... ou evito.
não sei se estou disponível para uma nova experiência tão intensa.

sorrindo, levantou-se e calmamente disse...
para lá das ideias do certo e do errado, há um campo.
encontramo-nos .


em bicos dos pés > can you hear them sing? | cemeteries


perdoem a insistência...
creio que de outra forma isto não vai lá... não vai a lado nenhum.
conseguem ouvir? conseguem-nos ouvir...
basta alguma disposição... e sobretudo tempo.
não, não confundam... não é preciso persistência... tão pouco insistêcia...
algumas pessoas têm tendência a exagerar... a oferecer resistência.
não há como oferecer resistência... alguma, nenhuma. mesmo...

é como simplesmente começar a ouvir o victorialand dos cocteau twins... e deixar correr o disco... e fluir a música...
simplesmente as melodias do robin guthrie e do simon raymonde... verbalizadas na voz da elizabeth fraser... nesse portento registo do distante ano de 1986... e tudo se torna natural porque estes registos se fundem e viciantes se tornam parte de nós.
o mesmo se aplica ao gone to earth do david sylvian, curiosamente também nado no mesmo ano de 1986... ou ao translucence + drift music do john foxx e harold budd... registo de 2003...
com os cemeteries é igual... fundamentalmente igual...
é simplesmente deixar discorrer o álbum barrow... e isso mesmo... percorrer e vaguear naquelas sucessivas melodias... que acreditem, jamais as queremos ver interrompidas...
comecem pelo princípio... que é por onde se deve começar sempre... procession... que se liga a nightjar... e assim por diante... luna (moon of claiming)... lá está, can you hear them sing?... cicada howl, sucessivamente, i will run from you, empty camps... o incontornável sodus... para tudo terminar em our false fire on shore...
e tudo, tão pouco parece...

perdoem a minha resiliência...








urgência incontrolável > transit | pieter nooten



por vezes surgem... existem músicas assim...

por vezes iluminam-se as mentes... de alguns eleitos... sim, esses que vivem e passam ignotos pelo universo musical... e quem sabe... talvez algum dia, quem sabe... recebam o reconhecimento que creio sempre lhes foi merecido...

é o caso aqui também... o pieter nooten tem uma discografia simplesmente sublime... devotada a uma essência e a um existencialismo... muito próprio...
discreto na sua essência... tem vindo a aproximar-se de um registo próximo do universo do david sylvian... e até alguma fase do john foxx... muito etérea e ambiental... demasiado pessoal... para alguém poder reparar...
senão repare-se no percurso anónimo de bandas como os july skies... os epic 45... os snowbird... cemeteries... houses... still corners...i break horses... e tantos e todos os outros que incógnitos e ignorados atravessam o universo musical...
quem na realidade é conhecedor da vasta obra do howard devoto ou mesmo do vini reilly... anthony reynolds... robin guthrie...ou kyle j. reigle...
e fico-me por aqui, simplesmente para não ver ninguém corar.
por vezes a ignorância fica-nos bem... serve o propósito...
não é o caso aqui... 
existe uma urgência incontrolável para se descobrir e divulgar outras maiores como estas destes autores ignotos...

que de desconhecidos nada deveriam ter...





terça-feira, 22 de outubro de 2019









cerimónia > marry me (lie! lie!) | these immortal souls



um compromisso é um compromisso. sempre.
um compromisso é sempre um compromisso. para manter.
para respeitar.

um casamento é sempre um casamento... dizem alguns, dizem quase todos...
um casamento é antes de mais, uma celebração... uma cerimónia.
que se quer solene, eterna... para sempre...
enquanto há vida... ou muito simplesmente, enquanto durar.

as juras e promessas eternas... nem sempre resultam ou resistem...
o mundo é gigante e diverso... por vezes tentador e perverso...
assim sendo desenganem-se os que acham que enganam...
simplesmente equivocam-se... simulam e aceitam o engano.
um casamento é um cerimonial... humano, logo diverso e nem sempre convergente...











sexta-feira, 18 de outubro de 2019






















talvez > maybe someday | richard butler


a princípio não parecia.
mas o nosso encontro casual, foi frio... seco... muito formal e distante... morno na melhor das hipóteses, especialmente para o tempo entretanto passado em não mais nos contactámos...
imaginei-a tensa... expectante... pouco faladora.
estava de uma elegância altiva, que sempre teve... mas um pouco cansada, talvez... e aparentava agora o peso da passagem dos anos...
imaginava... desejava que tudo se tivesse desenrolado de outra forma... mais cordial, mais pessoal... 


sim, já se tinha passado algum tempo desde a última vez em que a encontrara... e confesso... não nas melhores circunstâncias...
havia mudado de emprego... de rotinas e mesmo de cidade.
diferente... indiferente confessou-me que todos...
todos haviam seguido em frente... cada um o seu caminho, sem grandes ilusões... sem grandes desilusões...
talvez um dia, talvez...
talvez um dia... quem sabe...


a solidão torna-se um hábito... e habita, ou simplesmente ensandece...
são as duas maiores probabilidades... 
se a solidão se aceita e nos conforta e se rotina... aí já não nada a fazer...não há lugar...
agora se tudo se torna desconforto e confronta... aí reside a possibilidade. 

no espectro humano essa é a regra...
as pessoas ou se escondem e desaparecem...
ou estão constantes e permanentes a toda a hora... em todos os lugares...

quem sabe, um dia...
um dia talvez...