quarta-feira, 21 de outubro de 2015






















uma vez > crown estate | piano magic

uma última vez.
é a última vez que aqui venho... prometo.
como igualmente prometo falhar... neste meu desígnio. da escrita.
de escrever... tentar escrever...
uma vez... é o que essa música me lembra...
uma primeira vez... em que também senti... a ausência... pela distância.
e foi nessa mesma distância que compreendi... a importância... pela ausência.
costumava ter uma melodia sempre associada a esse vazio... era uma obrigação mesmo...
sempre que partias, eu recorria... ouvia straight line to the kerb... dos departure lounge... 
mas sobretudo associava a presença pelos piano magic... crown estate...
que celebrava essa mesma memória...
houve tempos... em que a memória remetia... sempre remetia para only rain dos no-man...
feliz surpresa quando descobri que ambos a escutávamos noite dentro...
mas crown estate é mais singular...
porque mais triste e dura.
é uma música solitária... que preenche toda a solidão...
uma última vez.

quinta-feira, 15 de outubro de 2015


















parece mentira > my desire | interpol




parece mentira... mas não é.
vou falar dos interpol... sem interposta pessoa. eu, mesmo eu...
regressei aos interpol... 
sim, eu sei... parece estranho. talvez seja...
mas este último registo elpintor acidentalmente seduziu-me... 
e eu regressei... voltei a ouvir os discos...
especialmente os três últimos álbuns... que sinceramente são os que menos me atraem...
porém a música também tem destas coisas... talvez daí o fascínio maior...
agora que estão reduzidos a um trio... a eficácia das guitarras parece melhor do que nunca...
praticam uma música nervosa... tensa... densa... sempre alterosa... que por vezes chega até a irritar...
este elpintor... é absurdamente mais nervoso ainda... raivoso até... mas igualmente delicioso.
se o disco anterior era mais sereno... se é que os interpol alguma vez podem ser apelidados de sossegados...
mas como dizia... o registo anterior era uma sombra de sons de tempos idos... onde surgia uma certa maturidade, imaginava eu... eis que perante este último... a contundência regressa em força... e até uma certa rebeldia própria de uma juventude... à muito terminada. para isso bastará ouvir my desire... ou tidal wave...
parece mentira... sim, eu sei.
mas não o é.




quarta-feira, 14 de outubro de 2015















sempre agora > always now | section 25



desta vez é sério... a sério.
pretende ser mais sério... se é que o será...
falo do always now e dos section 25... porque falar dos section 25 é indissociável do always now.
sim... eu sei... os section 25 foram no início uma sombra... dos joy division... dos new order...
até chegaram a partilhar músicos... produtores... e no limite até... o vocalista...
também os the wake tiveram inicialmente um percurso similar... ou não partilhassem todos eles a mesma editora... a factory records de boa memória...
mas o caso dos the wake foi diverso...
ainda que o primeiro álbum vivesse povoados dos fantasmas de closer... o certo é que o segundo registo divergiu... e afastou-se na experimentação.
os section 25, não.
a proximidade do always now a closer era... perigosa.
que não preocupante...
ambos sublimes... se bem que um tenha existido antes... primeiro.
dito de outra forma... sem o closer o always now não teria sido possível... de existir.
mas o que os torna efectivamente mais perigosos do que estranhos... é que a espaços... o always now se superioriza a closer.
que não sempre. mas a génese de algumas canções embora que com parecenças... são maiores... são melhores...
a promiscuidade tem destas coisas.
o bastardo ser mais belo do que o legítimo... assim só, sem preconceitos...
não há obviamente nenhum decades em always now... ou mesmo algum the eternal ou mesmo twenty four hours...
do mesmo modo que não nenhum new horizon em closer... ou até talvez... e exagero à parte... babies in the bardo...
e se os section 25 ainda ensaiaram um afastamento em the key of dreams... o certo é que o registo seguinte, o from the hip... surgia já colado à estética entretanto ensaiada pelos new order... numa electrónica mais acessível e dançável... pop mesmo, porque não dizê-lo.
os section 25 não eram ainda pop... porque não grandes o suficiente... mas mais tarde e com a sucessão trágica de geração... aí haveriam de chegar... como os new order já o haviam anteriormente feito...
será o blue monday assim tão distinto de colour, movement, sex and violence...
será o hiato temporal que os separa... trinta anos... suficiente para definitivamente os afastar?...
ou será que na música o que conta é ser sempre e para sempre agora...



 por vezes > eno+byrne | mea culpa


por vezes é assim...
existem discos assim... fora do tempo... fora do seu tempo.
intemporais mesmo.
é este o caso...
o my life in the bush of ghosts do brian eno + david byrne é um desses exemplos...
não que o david byrne não fosse já um especialista em música superior e intemporal... mas sobretudo o brian eno e todas as suas encarnações e mutações...
esta dupla camaleónica, desde sempre produziu música pouco acessível a todos... porque a música que geravam sempre foi música inteligente. isso mesmo, inteligente.
logo, ao alcance de poucos...
acredito agora que os seus percursos estavam destinados a cruzarem-se algures no caminho...
e este registo soberbo... diria mesmo, sublime, é disso o maior exemplo...
eno sempre foi um mestre da experimentação... visual e sonora... e o byrne quando surgiu nos talking heads era já o ser pensante da banda. visual e sonoramente.
performances num tempo que não estava preparado para os receber... ambos fazem de my life in the bush of ghosts... um portento experimental e até digo eu... acidental...
o auge fica para the carrier e sobretudo mea culpa... sendo o resto do álbum preenchido com músicas também elas maiores... porque experimentais e globais.
talvez seja este o primeiro registo onde se cruza etnia e globalização...
ou não fossem os seus autores conscientes cidadãos do mundo...
o que traduzido de outra forma, demonstra que por vezes... é também assim...

















um, dois (avulso) > treasure | cocteau twins


1.
não é possível viver num país onde está sempre a chover... disse o ministro.
sim, tem razão, senhor ministro... anui eu...
efectivamente não deve ser fácil viver num país onde está constantemente a chover...
e dito isto... apertou-me a mão e partiu em direcção ao carro preto que o aguardava ao fundo da longa escadaria...


2.
o meu encontro com febo moniz decorreu tranquilamente em leiria...na véspera da sua partida para um encontro com filipe II de espanha.
falámos do estado do reino... e do diálogo com espanha... confidenciando-me igualmente que o clero tencionava mandar uma nova delegação ao papa...
ao almoço comemos peixe seco de entrada... ao qual se seguiu um maravilhoso prato se javali com espargos selvagens e codornizes do tamanho de berlindes... que me disse serem das mais saborosas de todo o reino.
antes de partir e quando nos despedimos... presenteou-me com uma adaga com o punho de prata incrustado de pedras preciosas...
eu, por meu lado ofertei-lhe uma caixa acrílica contendo no seu interior uma rodela metálica de gravação digital... que febo moniz fez questão de desembrulhar... logo treasure, cocteau twins... 1984....


segunda-feira, 12 de outubro de 2015



sem nome mesmo > die mauer is no more | the names


era inevitável.
desta vez era inevitável. e diferente.
que não indiferente. porque estamos a falar dos the names.
e os names são belgas... e produzem música parca. muito parca mesmo.
três... quatro álbuns se considerarmos a cassete postcard views de 1985... em 33 anos não se pode dizer que seja muito.
quatro singles dignos de registo. o the astronaut não é uma música ao alcance de qualquer banda. é superior à mediania.
e ssa modestia gerou álbuns coesos e homogéneos... íntegros... e um pequeno séquito de seguidores atentos...
o swimming muito marcado pela época... no auge das bandas independentes... muito marcado pela secção rítmica... olá echo & the bunnymen... olá joy division... olá the cure...
o monsters next door foi o... regresso. 
vinte e sete anos depois...
tem melodias conseguidas... mas vale sobretudo pelo regresso, que já não era de todo aguardado.
este stranger than you... é esquisito... confesso.
confesso que não estava à espera.
é estranho, difícil de explicar...
tento, passo a explicar...
tem músicas que já habitavam na compilação in time, do ano passado... mas igualmente temas inesperados. de entre todos saliento nowhererians... lights... the days... the state i'm in... e o portento denominado die mauer is no more.
trinta e tal anos depois existem aqui sons e razões tão intemporais como os que já habitavam em swimming...
era inevitável não falar deste regresso dos names... e da discreta música que sempre produziram no tempo. que não o seu.

terça-feira, 6 de outubro de 2015














não devia ter vindo (2) > music complete | new order


não devia estar aqui, não devia ter vindo... assim.
nem devia ter chegado, aqui.
mas a verdade, é que aqui estou.
e assim sendo, aproveito... 
aproveito para falar... e fico até um pouco incomodado... desconfortável até, talvez.
porque não falar de música, ao invés...
é sempre fácil partilhar, adicionar links... mais fácil, mais rápido. menos comprometedor...
é no entanto, mais interessante falar, dizer o que nos vai na alma...
é que não é costume. na música não é costume... falar.
falar-se assim de música e do seu silêncio também contido.

falo então dos newOrder... e das deliciosas melodias que produzem...
e não é fácil falar dos newOrder... embora por vezes pareça.
porque estarei a musicar a fala...
e nos newOrder toda a música nos absorve... porque tudo sintetiza.

o que dizer... o que posso dizer... desde o primeiro single o ceremony, que os acompanho.
os primeiros registos são serenos e até sofridos. que não sofríveis.
existia aqui uma serenidade intangível... soberba...
uma tranquilidade que por vezes se imagina e deseja...
assim na distância. destes 35 anos que entretanto se passaram muito aconteceu.
e alguma música resistiu, sublime.
o novo disco já não era aguardado... 
após tantas incidências... tantas dissidências... surge agora.
confesso. não é de longe um grande disco.
mas já os seus antecessores também não o foram.
desde technique que os newOrder já não mostravam um apuro...
existiam sim... melodias soltas... pontualmente interessantes.
o get ready é um bom exemplo disso...
mas, e o que dizer de music complete...
é estranho. o baixo do peter hook já lá não está... tentando estar...
as músicas soam estranhas... por vezes roçam até o disco-sound... com coros tipo supremes... mas também há melodias maiores... povoadas com os fantasmas dos kraftwerk... fortes... e seguras. eficazes mesmo.
o imaginário permanece lá... mesmo com a erosão do tempo...
a trilogia unlearn this hatred... the game... superheated... é disso exemplo.
e perante a mudança de editora, permanece o design do peter saville... que se mantém fiel a si mesmo.
a capa é tudo menos anónima... aliás como todas as capas dos newOrder de peter saville...

mas não digam nada, eu sei...
sim, eu sei. não devia ter vindo.
não devia estar aqui.




















não devia ter vindo > above the flood | library tapes


não devia estar aqui, não devia ter vindo... assim.
nem devia ter chegado, aqui.
mas a verdade, é que aqui estou.
e assim sendo, aproveito... 
aproveito para falar... e fico até um pouco incomodado... desconfortável até, talvez.
porque não falar de música, ao invés...
é sempre fácil adicionar links... 
é mais interessante falar, dizer o que nos vai na alma...
é que não é costume. na música não é costume...
falar-se assim de música e do seu silêncio também contido.

falo então dos library tapes... e das deliciosas melodias que produzem...
e não é fácil falar dos library tapes... porque estarei a musicar a fala...
e nos library tapes toda a música nos absorve... porque tudo sintetiza.
existe aqui uma serenidade intangível... 
uma tranquilidade que por vezes se imagina e deseja...
como quando se olha e contempla o mar... assim, na distância.
haver música assim... frágil... serena e delicada é um privilégio...
haver quem a faça... isso já é apenas um privilégio...
mas não digam nada, eu sei...
sim, eu sei. não devia ter vindo.
não devia estar aqui.

sexta-feira, 2 de outubro de 2015





existe lá coisa assim > runway doubts | departure lounge




hoje deu-me para aqui...
e, já mesmo ontem.
fixei-me nos departure lounge de tim keegan e ouvi... e oiço...
assim indiscriminadamente em loop... contínuo...
essa catadupa de melodias melancólicas... de onde destaco o jetlag dreams...
num frenesim ininterrupto de música... 
e são todas tão belas... porque serenas e tristes... acima de tudo, isso. tristes.
serena e secamente tristes... como toda a música que agora me apetece ouvir...
e sem me conseguir decidir... decido.
opto por eleger runway doubts... e ainda cheio de dúvidas, oiço...
too late to die young... igualmente assustadora... 
é o medo... será a solidão que me empurra para aqui... para estas melodias que de tão belas e simples... assustam...
acreditem... chegam a assustar... sobretudo porque fazem companhia... e não deixam lugar... a nada.