quinta-feira, 31 de dezembro de 2020














2020 e o seu fim > often a bird | wim mertens


enfim. seja.
esta será certamente a última vez que escrevo em dois mil e vinte.
ano que agora... que hoje termina.  
e que estranho ano foi e ainda o é...
vamos lembrá-lo com alguma mágoa... como alguma excepção... mas sobretudo iremos recordá-lo com alguma admiração.
por tudo o que aconteceu e se tornou... mas sobretudo pela perplexiadade.
e pela reacção. inesperada. 
humana, reacção humana em cadeia... e que permitiu, imaginamos estes avanços científicos improváveis... a tão breve prazo.
essa a melhor notícia... senão mesmo a única.

agora aguardemos por 2021 e esperemos alcançar alguma normalidade... 
seja lá o que isso fôr...

segunda-feira, 28 de dezembro de 2020



exactamente > to obey | wim mertens


faz assim.
sim, faz isso.
faz exactamente como eu te digo...
faz exactamente como eu faço...
faz. faz exactamente.
faz.




o outro lado > a sandy shore | wim mertens


o outro lado de tudo.
nada.
tudo começa com pouco. ou mesmo nada.
nada apenas.

sim eu sei.a música de orquestra é uma coisa complexa... escrever música assim é deveras complexo.
mas o tempo o dirá... o tempo tudo dita...
e aproxima... destes mesmos lugares e sons...
e o que resta é isso mesmo. apenas isso.
apenas esse pouco... quase nada... e no entanto muito.

fico. permaneço aqui. assim. 
apenas. e oiço... a sandy shore... wim mertens.

domingo, 27 de dezembro de 2020










inquérito indirecto (parte dois) > hania rani


envelhecemos. sem dúvida.
dia a dia, envelhecemos. sem consciência.

envelhecemos com o decorrer do tempo...
ou seja, todos os dias... sem sobressaltos diários...
nota-se evidente com o correr dos anos... não dos dias.
fisica, mas sobretudo mentalmente.

deixei de ter disponibilidade para tantas aventuras... tantos disparates e futilidades que já tão feliz me fizeram... e o quanto me diverti e feliz eu fui, apenas eu o sei.
deixei de ter tempo para aberrações e improbabilidades...
o tempo corre agora demasiado depressa para o poder desperdiçar...
o tempo corre sobretudo... contra mim...
bem vistas as coisas, sempre correu... apenas não tinha essa consciência... da sua passagem rápida e efémera...
agora tudo tem outro valor... outro significado.
wim mertens ainda existe em mim... esse mesmo wim mertens desses verões carismáticos e descontraídos... descontrolados até... em que em conjunto fomos eternamente felizes... mesmo sem o saber.
esse mesmo wim mertens que agora mesmo oiço... e que carrega em si toda a nostalgia do tempo... que invariável passa... e me deixa menos tempo.
o tempo não me permite mais tempo... antes pelo contrário... segundo a segundo, simplesmente esgota o meu tempo... e aproxima-me da sua ausência.

no entanto muita dessa mesma música acabou... extinguiu-se no seu tempo... agora inevitavelmente sem sentido, que não a melancolia e a memória...
wim mertens como alguns outros... sobreviveu. 
a sua música resistiu... ao tempo, ao seu tempo e tornou-se imtemporal.
e assim igualmente surgiram outros sons... outras músicas a que até aqui não tinha prestado a devida atenção. 
provavelmente pela sobriedade... pela sua sinceridade.
demasiado diversas para uma juventude que se queria... rebelde e diferente.
mas esta mesma melancolia é diferente... porque boa... profunda e duradoura...
que faz do tempo que urge... a sua importância... porque não se esgota a cada instante e momento...
e sobrevive. 
seja na voz do robin guthrie... do harold budd... do wim mertens... do philip glass... do john foxx... do riri shimada... dos cemeteries... ou tão simplesmente afagada por hania rani...
simplesmente porque tudo o que ela faz e constrói... é majestoso e magnânimo. 
e sim, é natal...

inquérito indirecto















inquérito indirecto > glass | hania rani

por vezes há discos assim, música assim.
de que preciso... que me fazem falta.
como este agora, que escuto agora.
os discos do harold budd são quase todos 
assim... indispensáveis... comprometidos. comigo.
e isso representa a falta que me fazem.
o quanto deles necessito.
não é uma dependência... antes uma necessidade. uma essência.
da qual não é preciso fugir.
antes... para onde é imperioso ir.
torna-se assim essencial e indispensável estar... permanecer. 

o mesmo se aplica a toda a constelação musical criada por hania rani... essa pianista e compositora de melodias infindáveis... que tal como robin guthrie e harold budd... ou kyle j. reigle... constroem melodias de uma dimensão inatingível... 
e que invariavelmente se tornam imtemporais e inesgotáveis...
 e às quais se torna imprescindível retornar sempre...



quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

uma questão de volume > virgin prunes













uma questão de volume > virgin prunes


por vezes é apenas uma mera questão de volume.
e que tanto significa. tudo significa.
seja na música dita erudita ou clássica... seja na mais pura electrónica ou mesmo rock...
o volume conta. e conta muito.
por vezes conta tudo.
não me imagino a ouvir um qualquer registo dos kraftwerk no volume 1um ou 2dois do meu amplificador...
muito menos dos clan of xymox... lowlife... ou sobretudo dos virgin prunes
não faz sentido algum. nenhum.
o volume serve para isso mesmo... para se ouvir e ser ouvido. melhor. mais alto.
o volume serve para libertar... e tudo tornar mais visível e audível... e rebelde.
faz parte de uma determinada idade... 
e forma de estar e entender... que provavelmente estamos aqui.
digam-me quem iria escutar uma qualquer orquestra sinfónica no volume 1um ou 2dois... de um concerto presencial... em que certamente toda a magnificência e amplitude se diluiriam... e essa mesma majestosidade simplesmente não se faria ouvir... exactamente por tudo por vezes se resumir a ser uma questão de volume.


chuva > the banality of evil | nine horses


chove, chove lá fora.
chove constantemente lá fora... uma chuva miúda... que se tem mantido ao longo de toda a noite... durante todo o dia.
gosto. confesso.
gosto destes dias, assim... em casa.
por vezes vou à janela e fico a observar... a chuva a cair incessante... e metódica.

gosto da chuva... gosto sobretudo de ouvir a chuva lá fora... agreste e forte... na copa das árvores... nos vidros da janela.
mas gosto ainda mais, noite dentro... aquelas noites intempestivas e descontroladas... e eu assim só. deitado e alerta... tentando perscrutar todos os seus sinais e ruídos. minuciosamente... e meticulosamente.
e aqui... recolhido, simplesmente observo.
o mau tempo lá fora... através do dia cinzento, escuro e molhado... e do vento... e da música que lenta discorre e vagueia... the banality of evil... nine horses.

terça-feira, 22 de dezembro de 2020




a trilogia encantatória > the wolfgang press


sejamos exactos, sejamos correctos.
o scarecrow foi o primeiro a sair... ainda em 1984...
concretamente em agosto de 84... e o número de catálogo bad 409.
seguiu-se-lhe o water, em março de 1985... número de catálogo... bad 502...
o sweatbox remonta a julho de 1985... bad 506.
existem todos em versão de 12 polegadas apenas com uma única edição inglesa.
talvez por isso tenham sido posteriormente compilados em novembro desse mesmo ano de 85 num álbum cujo número de catálogo é cad 514... e que dada a dimensão dos máxis... mas sobretudo a limitação do vinil... deixava para trás dois temas... concretamente the deep briny constante de water... e muted de sweatbox.
chamava-se the legendary wolfgang press and other tall stories... e era graficamente igualmente concebido por alberto ricci... pintor amigo de michael allen dos tempos da escola de arte... e que concebeu as 4 capas destes magníficos discos...

esta trilogia... estranhamente pouco visitada ou sequer conhecida pela maioria... é no entanto uma obra notável de coesão... dado que foi construída em pouco tempo... e cujo álbum não deixa transparecer qualquer falta de coerência e consistência.

costumo revisitá-la com frequência, assim como todos os restantes registos dos the wolfgang press... e apenas estranho o silêncio a que michael allen... mark cox... andrew gray e afins sempre foram devotados...
adiante...














 ouvir > betweenspace | blaine reininger

propositadamente. a imagem.
esta imagem aqui. 
quando o propósito é a audição... simplesmente escutar... ouvir.
quando se ouve e escuta uma pessoa... e se tentam absorver e tirar ilações... 
por vezes demasiado distantes ou mesmo erradas. da realidade.

não é o valor intrínseco da imagem... do que se vê, antecipa ou imagina.
não. é o escutar. 
simplesmente ouvir atentamente alguém.
para se tentar perceber e descortinar. 
alcançar... entender.
chegar a uma fusão... de pensamento... e concordância.
tal e qual como quando se ouve música.
o simples acto de ouvir música.
perscrutar. ouvir atentamente. minuciosamente.

ou dito de um outro mesmo modo... ouvir.
prestar atenção... e sentir.
como neste caso concreto. e actual...
betweenspace... blaine reininger...













escrever > forever never | robin guthrie

por vezes é assim.
muitas vezes é assim. não preciso dos outros para nada.
sou... sinto-me auto-suficiente.
e isso basta. basta-me.

nem sempre é fácil escrever... ou torna-se fácil. parece apenas.
não, por vezes é difícil... tudo parece e se torna demasiado difícil.
nada é fácil... efectivamente.
se tudo fosse fácil e tangível... qual o seu verdadeiro valor, questiono...

o acessível é assim, como que efémero... porque atingível...
o inatingível é o propósito... para alguns. 
para mim, neste momento basta-me esta melodia que agora mesmo oiço e cujo discorre da aparelhagem que liguei... e que contem demasiadas pérolas para serem esquecidas...
assim sendo...  fortune... robin guthrie...


 

quarta-feira, 16 de dezembro de 2020









how to make love (volume I) | jacques


nunca sei. a sério, nunca sei, hesito sempre.
nunca sei qual ouvir primeiro... de qual gosto mais...
se dos jack... ou dos jacques... ou simplesmente do anthony reynolds e de todos e de tudo.

verdade seja dita, conheci os jacques através dos jack. logo através do anthony reynolds.
o pioneer soundtracks teve um grande impacto em mim...
sobretudo pela estranheza... das suas composições...
e assim sendo assimilei os singles... onde igualmente pululavam uma mão cheia de melodias estranhas... 
e isso estranha-se... e agrada... e entranha-se.

os jacques vieram em sequência... logo no ano seguinte... em 1997, logo a seguir ao pioneer soundtracks... 
how to make love (volume I) também não é um disco fácil... talvez...
talvez mais acessível, sobretudo mais electrónico...
mas igualmente cativante e hipnotizante...
mais doce e clean...
talvez mais próximo de tudo o que o anthony reynolds sempre pretendeu e ambicionou... que foi estar ali, perto... próximo, mesmo muito perto dos seus japan de que tanto sabe e fala... e sobretudo escreve. e bem.
ainda bem.


terça-feira, 15 de dezembro de 2020


um dia >  din glorious | virgin prunes

não sei de quem partiu a ideia, acho que foi dos dois... já não recordo...
mas sei que jantámos naquele restaurante barulhento à beira da estrada...
não falámos muito, falámos estritamente o essencial... estávamos com pressa... de chegar ao destino.
a viagem ainda estava a meio... e o dia esse, chegava ao fim.

ao regressar ao carro pensei... que contamos os dias e nem nunca sabemos quantos dias faltam...
como podemos levianamente deixar passar o tempo assim só, por nós?...
todos os dias que entretanto se passam... e nos passam... e por nós passam,  é menos um dia que nos falta... e não sei se não nos fará falta...
todos os dias... um dia a mais... 
um dia a menos.



quarta-feira, 9 de dezembro de 2020


harold budd > todas as músicas


hoje morreu o harold budd
hoje ou ontem. 
já não sei bem.
eu soube hoje, soube-o à pouco.
mas num obituário diz que foi no dia de ontem. dia 7. não 8, o dia de hoje.
pouco importa. o dia.
importa a morte.
importa e releva sobretudo a pessoa, o músico...
importa a música, mas essa ficará... permanecerá sempre por aí...
acessível a quem algum dia a quiser escutar. 
como sempre. para sempre.
faltará o harold budd...  o músico e a pessoa... e que falta fará...

sexta-feira, 4 de dezembro de 2020






o supervisor > small metal gods | david sylvian


um quiosque... 
e não um... mas diversos mapas pendurados, amarelecidos pelo passar do tempo.
um jornal matutino... e na solidão do interior do espaço... uma velha vendedora, reza...alheia ao bulício da rua.
cá fora... duas raparigas brasileiras que comentam os preços... mas sobretudo os descontos... na montra de uma loja...
um par de botas brilhantes e castanhas... 
as pernas magras através das meias pretas...
a tarde que começa a findar... nestes dias que já deixam adivinhar o começo do inverno.
no alfarrabista que fica situado no beco... gravuras esbatidas... e a surpresa de um livro, uma barragem contra o pacífico da marguerite duras... em muito bom estado de conservação...
e ali de pé, simplesmente a observar as lombadas de todos aqueles livros antigos... simplesmente questiono-me...
porque não poderão as coisas e as pessoas brilhar e durar para sempre?...

parte extra...
desta extra parte...