terça-feira, 28 de abril de 2020





a ausência de assunto é o assunto em si mesmo > death in june

violo o branco do papel para dizer que a partir deste momento, de agora passarei a escrever com uma caneta bic laranja (preta) de escrita fina. E que estarei sempre presente e disponível pelas 21 horas no largo do conde barão, envergando uma t-shirt igualmente preta e com um disco dos death in june que me foi oferecido por el-rei D. Dinis, aquando de um almoço que tivemos no castelo de leiria, para abordar a criação do pinhal de leiria. 
mas isso são outras estórias... para outras histórias.
e para outras idas ao referido largo.
e sempre grato como de costume, senhor john balance

nota:
atesto que este documento foi escrito com uma caneta bic laranja fina, e que as testemunhas por mim designadas, atestam o mesmo - ou MAL delas.

segunda-feira, 27 de abril de 2020





















6 março 2010 > stay away from the accordion girl | and also the trees

nada. ninguém.
nada, mesmo nada. nem alguém.
foi assunto perdido... mas que assunto.
não é todos os dias que os and also the trees passam por cá... aliás era a primeira vez... se é que há uma primeira vez para tudo.
mas nada... ninguém... 
ninguém foi ver... ouvir... simplesmente assistir.
e digo a todos... tudo foi bom... inesperado.
e logo eu que não concordo facilmente... 
a sério... foi um assunto sério.
e no fim até deu para falar com o justin jones e com o simon huw jones...
o que mais poderia desejar...
mas infelizmente nada, nem ninguém.





















memória > love lasts forever | virgin prunes

isto hoje... isto agora está uma desgraça...
já chega, já cheira a bafio...
mas não consigo controlar... é descontrolado... é incontrolável...
é, diria mesmo, incontornável...
e sigo... prossigo... e é... sim, eu sei... é uma desgraça...
uma verdadeira desgraça... mas isto hoje está descontrolado...
que não controlo... não consigo controlar...
parece... é mais forte...mais forte do que eu...
e apenas me resta render...
e ficar a ouvir no birds to fly... virgin prunes de boa má memória...




nada, nada mesmo > nada | death in june



em que estás a pensar?
que pergunta mais estúpida!
sempre que abro esta merda desta página do facebook, aparece esta merda!
em que é que estás a pensar?
não estou a pensar em nada! nada mesmo! ouviste? nada!
estou aqui assim sentado. só isso. 
isso mesmo, estou aqui só sentado!
com esta pergunta estúpida sempre a observar-me.
nada! não estou a pensar em nada! estou apenas aqui sentado a ouvir uma música, que pode ser esta mesmo. agora. 
para reforçar tudo o que acabei de dizer... o nada dos death in june...







para aqui à espera > lowlife apenas




apenas e apesar.
estou... estava a ouvir, e estava a pensar...
se alguém gosta dos and also the trees... provavelmente também deve ou irá gostar dos... lowlife.
bem, esperem... é mera especulação... não é bem a mesma coisa... sendo que também o é.
confusos?... não fiquem. é igualmente bom.
assim, obscuro... a voz, principalmente a voz cativa... e o som... envolve. o som que nos envolve, tudo envolve...
estava a ouvir, bem... confesso. não estava a ouvir... os lowlife... apenas me lembrei... que quem gosta dos and also the trees... também deve... pode gostar dos lowlife.
e, confesso... estava... estou agora a ouvir os cocteau twins... calma.
tenham calma, aqui é tudo muito calmo... 
isto não é fácil... não é assim tão imediato.
bem, não é nada fácil... mesmo não sendo difícil.
é apenas estranho e diferente... consoante a disposição... diversa.
por vezes é brilhante... assim como quando tocam seekers who are lovers... ou lazy calm... mesmo the thinner the air...
sim, eu sei. não são fáceis todas estas melodias.
custam a familiarizar... a entranhar.
os lowlife não. ou se gosta ou simplesmente não. 
os cocteau twins são mais suaves e delicados...
talvez apenas em garlands destoem...
porque o will heggie tocou em ambas as bandas... foi parte integrante da primeira formação dos cocteau twins... e moldou indelevelmente o seu som... em garlands e lullabies...
disso não tenho a menor dúvida.
mas, para que é que estou para aqui a falar simplesmente disto...







ainda > cadenza | andrew poppy


ainda.
aqui. parado.
porque confinado, a este espaço.

ainda. aqui encerrado...
circunscrito... provavelmente proscrito.
limitado.
isolado.

ainda aqui confinado...
desterrado... afastado.
remoto.

e neste modo... de remoto controle dedico-me a ouvir em loop... nesse modo gritante e enervante... esse disco do andrew poppy que tanto se poderá chamar de the beating of wings... como também, the seating of kings... ou ainda the cheathing of things.
escolham... a decisão será vossa...
ainda e sempre vossa.

quinta-feira, 23 de abril de 2020




a aproximação do silêncio > cathedral oceans | john foxx

condicionado.
confinado a este reduto a que chamamos casa.
confesso. não me custa. nunca me custou. embora goste deandar ao ar livre, simplesmente percorrer as ruas da cidade anónima e aleatoriamente.
sim, mas não me custa estar em casa. 
hoje decidi-me por uma passagem integral dos cathedral oceans do john foxx...
o cathedral oceans (mais tarde apedidado de I, dado existirem agora o II e III) foi o mais surpreendente, porque menos óbvio. 
inesperado diria mesmo.
o john foxx, após anos de uma electrónica compassada e fria, retirou-se e surgiu como que do nada, sim, sempre foram doze anos de ausência... esse o tempo que mediou entre o in mysterious ways e este cathedral oceans...
musicalmente foi uma ruptura em todos os sentidos...
abandonou-se uma pop electrónica refinada e fantasmagórica... que sempre muito deveu aos kraftwerk, desde o início dos ultravox...
e resurgiu em modo igualmente electrónico... mas aqui numa proximidade ao movimento denominado de rock alemão... com ausência constante de ritmo... num experimentalismo e ambientes serenos... a lembrar uns tangerine dream planantes...
mas a grande novidade foi sobretudo a introdução de um cântico... simbólico e religioso... que tentava tirar partido sobretudo da sua semelhança ao canto gregoriano... ampliado e amplificado pelo espaço que o rodeava... e pela reverberação e delay próprios da própria acústica dos espaços religiosos de grande escala... onde o eco se faz sentir e intensificar na projecção da voz humana...

não o sabia... soube-o mais tarde... o próprio john foxx fez parte integrante de um coro na sua juventude... tendo daí tirado as ilações relativas à projecção da voz, consoante as especifidades e espacialidade do espaço e materialidades do mesmos...
referia-se simbolicamente que esta trilogia existia na sequência de pretender sobretudo ouvir. de preencher um espaço com qualquer coisa calma e luminosa... que iradiasse uma serenidade que a música comum não conseguia transmitir... encher um espaço de infinitas dimensões...
simplesmente atribuir a essa mesma música a impressão de uma serenidade que se experimenta na música litúrgica... em oposição à nossa vivência do quotidiano febril,,, acelerada e ruidosa...
havia um desejo de calma e continuidade... em melodias imensas e enormes no tempo e igualmente no espaço... 
e essa vontade e experiência está patente e reflectida nesta tranquila trilogia que tanto gosto de tenho e de possuir, com a vantagem de igualmente ter um dos vídeos dedicados aos cathedral oceans...


terça-feira, 14 de abril de 2020





edward hopper > colony | joy division



esta distância que nos ditaram... e a que nos votaram.
o isolamento a que nos circunscreveram... o confinamento a que estamos devotados... relembra... em tudo lembra uma iconografia do isolamento... cuja banda sonora pode e deve passar pelo isolation e disorder dos joy division... mas sobretudo recorda o imaginário da pintura de edward hopper... e as imagens desoladas e desérticas do fotógrafo gregory crewdson...
comum a ambos essa distância e isolamento a que devotam as suas imagens e imaginários... que em tudo lembra este confinamento de agora. 
este distanciamento social a que estamos devotados... é em tudo semelhante a imagens do universo de edward hopper... com seres humanos solitários... em ambientes e atmosferas desoladas e onde impera a solidão e o silêncio.
existe em hopper um desmembramento social... em que todos se apresentam distantes e isolados... onde impera uma tranquilidade aparente... mas onde igualmente se antevê a tensão da solidão a que estas personagens são devotadas.
o mesmo critério se aplica ao imaginário imagético de gregory crewdson... com paisagens familiares truncadas e autistas... onde igualmente se joga a solidão e o isolamento... mas sobretudo a falta de comunicação... como a principal razão e causa da existência. esta.
e ambos os artistas nos rodeiam de ambientes inóspitos e solitários... mas sobretudo expostos a um tempo tardio e nocturno, onde o silêncio e a solidão mais imperam e fazem valer as suas valências e dimensão...
de tão distantes e ausentes, chagam a parecer desumanas...

quinta-feira, 9 de abril de 2020





hesito > forever never | robin guthrie

hesito. 
invisto. 
ou desisto...

tenho estas três opções.
hesito, como sempre... hesito.
invisto ou desisto?
por norma e como refere a letra daquela música dos piano magic em que tanto me revejo...
anything can happen in life
especially nothing, mainly nothing
once you know that you're fine
once you know that you can retire...
...finish nothing you start
and start nothing you think you'll continue...

mas aqui, e excepcionalmente agora... não desisto.
convoco todas as minhas energias... todas as minhas forças e fraquezas e defesas e resisto.
invisto...
apenas hesito entre ouvir o haven do pieter nooten... pérola sombria e soturna, que tantos e todos descuram...
ou o intangível fortune do robin guthrie... que serenamente nos mostra esse lado sublime da tristeza...
e que perpassa pelas suas singelas melodias... sequenciais... e apenas as consigo apelidar de supremas... porque soberbas...

hesito... 
invisto?... ou desisto?...






poucas palavras > killing for company | swans

as palavras não conseguem descrever... o sentimento que me atravessa... ao escutar este monstro pela centésima vez...
as palavras não são suficientes para expressar tudo o que me percorre e perpassa... nesses sons inesperados... meio desvanecido... altas horas da madrugada...
nada, nem ninguém me havia preparado para isto... simplesmente porque nada ou alguém me poderia preparar para algo assim.

por vezes já havia aflorado semelhante experiência sónica...
mas nunca nada desta dimensão... ou intensidade.
atingiu-me assim, vindo de nenhures...
e revelo... já ouvi este disco dúzias e dúzias de vezes... mas a sensação e o impacto são sempre os mesmos... 
brutal... carnal... seco e duro.
impenetrável, frio e ausente...
simplesmente as palavras não conseguem descrever.





terça-feira, 7 de abril de 2020















limonada > so long dead | the wolfgang press



um limão ao lado de uma laranja, deixou de ser um limão. não é mais um limão.
a laranja não é mais uma laranja.
eles tornaram-se fruta...





pandemia: texto 11 > playing warp for the fishes | wire



por vezes, às vezes imaginámos algo assim. tantos filmes no-lo propuseram.
mas nunca assim. tão próximo, porque real...
mesmo os mais imaginativos e ficcionais... versaram virus... epidemias, pandemias... seres contaminados e contagiados que apenas ambicionavam a resolução do problema. 
seu e de todos... e ao ser de todos é igualmente e sobretudo nosso. de nós enquanto indivíduos.
como agora.

uma coisa é certa. o isolamento, o distanciamento social... a desertificação das cidades e a tomada dos nossos espaços familiares pela natureza e demais espécies... como os filmes antecipavam... está igualmente lá. e aqui. em todo o lado.
tal e qual como agora.

a defesa e a estratégia face ao desconhecido é essa, sempre essa mesmo.
o isolamento, a condição solitária, separado de tudo o resto... desintegrados socialmente... ainda que conectados artificialmente e virtualmente. essa é igualmente a nossa condição. consequência de algo que não dominamos... e que invade e faz perigar a sociedade...
contemporaneamente não sabemos viver sem os outros... dependemos uns dos outros... nessa reciprocidade irracional que nos conecta, mas igualmente condiciona. 
tornámo-nos especialistas... de uma condição só. a nossa tarefa. que executamos com maior ou menor destreza... e não olhamos ao nosso redor. quase nunca.
a não ser como agora... que efectivamente dependemos sobretudo tantos de tão poucos...
e isso por mais absurdo que pareça e seja... nos fez e faz aproximar como nunca antes.
neste isolamento estamos todos unidos...
agora.



segunda-feira, 6 de abril de 2020













chegar > der abschied | pieter nooten


não sei como aqui cheguei. mas cheguei.
não sei mesmo como até aqui vim, aqui cheguei... mas, cheguei.
não sinto cansaço algum... nenhum.
dói-me o corpo todo... numa dormência... uma dor que adormece... e desgasta...

não sei como aqui, como até aqui cheguei.
apenas sei que cheguei.
e estou.















confinados: texto 10 > transit | pieter nooten



continua. 
o isolamento. a ausência.
este distanciamento que nos foi imposto... a separação... objectivamente torna tudo muito mais escasso, ainda... e muito, creio, não aguentarão.
não existe esse hábito no ser humano... hoje em dia, cada vez menos...
não há na sociedade contemporânea essa necessidade... de reclusão... de ausência... escassez e inexistência. não prevalece actualmente a vontade de carência... 
as pessoas tendem a evitar o isolamento... a solidão...a privação... porque geralmente lidam mal com elas próprias.
é difícil permanecer isolado... distante de tudo o resto... simplesmente estar, existir isolado.
só. em qualquer circunstância...
estas melodias que acompanham e ajudam os dias, encerram em si mesmas esses princípios.
foram compostas por pessoas em reclusão propositada... e esse isolamento determinou a construção destas magníficas composições... sejam elas do robin guthrie... harold budd... john foxx... david sylvian ou simplesmente esta que agora mesmo oiço, sobreposta à chuva que se faz sentir lá fora... 
e ela é transit do pieter nooten.
.
será presença?... será ausência?...

quarta-feira, 1 de abril de 2020





















em memória > nothing without you | skin


não te preocupes. ninguém mais vai entender.
e também, qual será o problema. é um assunto nosso, que apenas a nós diz respeito.
só nós o testemunhámos e vivemos.
e esta fotografia que ilustra este pequeno pensamento... é, digo-o eu... a fotografia tu a, que eu mais gosto... e não gosto.
confesso, nunca gostei. 

passo a explicar.
é sobretudo a que me é mais familiar...
a mais comum. infelizmente a que se tornou rotineira.
a tua eterna disponibilidade e boa disposição... esse sorriso que me habituei a reconhecer... caracteristíca dessa tua boa personalidade... e bondade mesmo. 
segundo, a eterna presença de um livro nas tuas mãos... que igualmente me habituei a reconhecer, especialmente estes das colecções de ficção científica... que nos acostumámos igualmente a apreciar...
esse vício e gosto feliz que nos transmitiste e que igualmente nos contagiou...
e essa cama, que também infelizmente se tornou familiar... demasiado familiar.
era... sempre foi cíclico... invariavelmente todos os invernos adoecias... com as fragilidades que te reconheciamos... e que abusivamente foste acumulando desde a tua juventude. 
hoje lamento o tempo perdido.
e sei, porque via-se no teu olhar... igualmente te arrependeste desse tempo gasto... e que não nos permitiu mais tempo junto.
não vale agora a pena lamentar isso. 
vale, isso sim, recordar o que vivenciamos e partilhámos em conjunto. 
e agora tudo isso vive feliz comigo...

e assim sendo celebro essa nossa vida, que obviamente agradeço porque parcialmente me foi possibilitada por ti. e oiço nothing without you dos skin...
desculpa, eu sei que provavelmente não é a música mais adequada... mas simplesmente o seu nome era demasiado óbvio, para me passar despercebido. e verdadeiro.
o resto passa, isto permanece.





a luz > the house | nyam nyam


ninguém veio... nem mesmo a luz.
faltou a luz e na sua ausência, aqui no escuro, reflicto.
virá certamente uma tempestade, com chuva forte intercalada de aguaceiros dispersos.
choverá intensamente durante a noite. toda a noite.
as nuvens cobrirão o céu todo...  o vento forte empurrá-las-á  para sul... rápidas e baixas...
existe agora um novo céu... como um extenso manto baixo, integralmente preenchido de nuvens escuras e carregadas... que se deslocam rápidas, invadindo outros territórios, até aqui mais radiantes e luminosos.

ninguém virá. em tempos assim.
sente-se a falta das pessoas... impera o silêncio.
apenas a voz de um locutor anunciando as últimas notícias numa televisão velha e pequena, na parede ao fundo da sala, agora que se restabeleceu a energia eléctrica...
levanto-me e vagarosamente introduzo o compact disc no leitor... hope of heaven, esse disco intemporal dos nyam nyam... pressiono o botão shuffle... e aliatóriamente a música que se inicia... the house...

ninguém veio... resta a música...