quarta-feira, 21 de julho de 2021

familiar > truenorth | no-man
















familiar > truenorth | no-man

nunca esqueci.
esse o cerne da questão.
o facto, o simples facto de nunca ter esquecido...
e fico sem palavras... como a minha memória ainda recorda esse dia.

lembro esse mesmo dia, até o sereno tom de voz...
a minha avó aproximou-se de mim... durante aquele jantar de família, e simplesmente disse...
és o neto mais parecido com o teu avô...
e simplesmente não desenvolveu, não materializou...
e eu mudo perante tal afirmação... estupefacto... tanto que ainda hoje o recordo...

o que nunca soube... era se esse facto em si... era positivo... ou antes, negativo...
dado que não houve sequência a essa conversa... na dúvida fiquei e permaneço... 
até porque agora a probabilidade de poder ser esclarecido, é na realidade nula.
já ninguém desse tempo existe... e assim sendo, resta-me pensar que poderia ser um elogio... ou uma simples constactação... em comparação...
igualmente nunca soube se teria a ver com traços fisionómicos... personalidade ou carácter.

pouco importa. 
importa apenas a recordação desses momentos felizes e fugazes que por vezes sempre ficam e acabam por nos escapar...



sexta-feira, 16 de julho de 2021

ler > late night | this mortal coil





















ler > late night | this mortal coil


há quem simplesmente não leia. não leia livro nenhum ao longo da vida.
mas isso não me deve servir de consolo. 
não me deve servir como desculpa, alguma. nenhuma.
reflicto e penso que li pouco. ultimamente pouco li, leio. devia ter lido mais. sobretudo desejava ter lido mais, ao longo da vida.
mas não, tenho de confessar que li pouco... menos do que o desejável.
sim, eu sei... existe essa desculpa, de que actualmente já pouco se lê. pouco me importa.
desejava ter lido muito mais. sobretudo alguns escritores e pensadores que sempre imaginei fundamentais. 
gostaria de ler mais bacon... mesmo duras que falhei alguns livros e pensamentos... sophie calle obviamente, livros difíceis de encontrar... mesmo baudrillard e ballard
mcluhan genial a que obviamente deveria regressar. 
sagan que sempre evitei.
beckett pela profundidade... pessoa que sempre hesitei e me escapou... e debord.
cocteau li diversos, talvez os mais significativos, não tenho a certeza... 
mas constant, reconhecidamente não li o suficiente.
e igualmente zizek. que recentemente descobri.
woods li profissionalmente, sempre me encantou. virilio devorei a generalidade da obra.
artaud li casualmente, como kafka...
devia ter aprofundado mais a leitura de kurt schwitters... e da sua obra em torno de merzbau. não o fiz, lacuna minha...
mas imagino que para além destas lacunas... muitas outras haverá.
li algumas monografias... recomendo sobretudo a do brian eno
mas imperdoável mesmo é ter adiado sistemáticamente a leitura de alguns clássicos, mas sobretudo não me ter debruçado na leitura atenta da bíblia... integral... velho e novo testamento.
e isso com o passar dos dias... de todos os dias...
e isso inquieta e atormenta...

segunda-feira, 12 de julho de 2021

podia > your ghost | piano magic


















podia > your ghost | piano magic


podia ter-te proposto ir ver o pôr-do-sol...
mostrado o rio visto aqui do cimo  da serra...
podia ter sugerido irmos beber um café tarde dentro... ou mesmo uma exposição de fotografia.
não. optei por te desafiar numa audição de discos que me prendem e tanto dizem, significam para mim...

o café ficará para mais tarde... a vista do pôr-do-sol igualmente prometida... e porque não outras iniciativas, assim sejam desejáveis, e desejadas...

quanto aos discos... podemos começar por algo particular e íntimo... algumas músicas avulsas dos no-man...  mesmo dos eyeless in gaza, que desde tão cedo me acompanharam... mas creio serem mais difíceis de enfrentar numa primeira audição... ou mesmo os piano magic e as palavras sábias de glen johnson...
posso igualmente sugerir-te uma qualquer melodia dos the paradise motel... sobretudo o drive ou the promise... o the promise é fantástico, hipnótico mesmo... viciante como o what does not destroy me dos piano magic. ficaria horas, tardes inteiras a ouvir estas melodias em loop...
acredito que irias gostar de ambas, são assim... música que se ouve em solidão... que connosco constroem afinidades e se tornam companhia. e companheiras.
ouve, imagino que vás gostar... creio, fará o teu género de música ficar suspenso, na dúvida... em cheque mesmo.

podia ter-te proposto ir ver o pôr-do-sol... o rio ao longe que corre em direcção ao mar...
ter ido aquele calmo jardim e bebido um café naquela pacata esplanada...
poderia ter-te mostrado o mundo...

optei pelo silêncio do som...





terça-feira, 6 de julho de 2021

pop mais pop > this brilliant evening | in embrace










pop mais pop > this brilliant evening | in embrace


como cheguei aqui perguntarão alguns...
faz tempo, digo eu...
nos idos anos 80 do passado século costumava ouvir rádio... era um hábito comum e sobretudo muito meu... ouvia programas meticulosamente seleccionados... tais como aqui rádio silêncio... dois pontos... o som da frente... a radar... e muito noite dentro a bbc e os programas tardios do john peel, e tudo o que se podia ouvir e descobrir por lá.  e por cá, justiça lhe seja feita, ao antónio sérgio... grande divulgador nacional... mas sem o critério selectivo do john peel...
sim, disse bem, por lá. 
a música que se fazia por outras terras... distantes e intangíveis nessa época.
agora democratizou-se tudo... agora está tudo mesmo ali, na distância de um simples computador.
lembro-me perfeitamente da primeira vez em que tive essa noção.
tinha estado com um grupo de amigos a beber um café... e invariávelmente falou-se de música... e eu entusiasticamente referi os piano magic... e os seus diversos e diversificados registos... todos muito bons na minha perspectiva...
e nem uma semana decorrida, eu que vinha adquirindo os discos cronológicamente e sempre que os conseguia encontrar... porque por vezes eram edições muito restritas, logo caras e difíceis de encontrar... descobri que um dos amigos que se tinha entusiasmado com a ideia e música dos piano magic... já tinha mais discos deles, do que eu mesmo... dado ter ido para a internet e comprado rigorosamente tudo o que encontrou... sem critério algum, que não esse, serem discos dos piano magic... escutados assim ao acaso... 

e isto a propósito de quê, dirão alguns...
porque não imaginam a árdua tarefa de chegar a discos como estes, que esporádica e acidentalmente se cruzaram comigo em programas solitários de rádio...
e cujos nomes ficaram registados num caderno ou numa simples folha de papel... para mais tarde tentar a eles chegar...
assim igualmente foi com os in embrace... e essa melodia melosa... this brilliant evening... que acredito está na linha genética e familiar do que todas as bandas da sarah records, viriam a produzir uma década mais tarde...
fica a memória... de uma pop mais pop, do que a própria música popular...

sexta-feira, 2 de julho de 2021

sexto sentido > see red | eyeless in gaza




















sexto sentido > see red | eyeless in gaza

hoje estou decidido.
vou ouvir o caught in flux de fio a pavio. começo com o sixth sense e vou por aí adiante. até ao fim. até terminar keytone inertia, registo já pertencente ao 12 polegadas the eyes of beautiful losers...
a sorte da versão em compact disc é que não é preciso mudar de lados ou mesmo de disco... como na versão em vinil. 
o vinil tinha dois discos... um álbum e um maxi-single de 12 polegadas denominado the eyes of beautiful losers... em edição única. também é verdade que nunca saiu em muitos países... creio, apenas na origem... inglaterra e à época apenas uma edição em espanha. saiu agora reeditado em itália.
pelo meio existem três edições em cd... sendo a mais recente integrada numa caixa que contem os quatro primeiros registos dos eyeless in gaza...

sempre achei este registo dos eyeless in gaza, como um dos mais consistentes e coerentes que eles alguma vez editaram. 
não sendo propriamente um disco fácil... não o é... é no entanto muito íntegro  e sólido... a fazer lembrar esse registo muito inusitado e cru dos young marble giants... o colossal youth... que estranhamente teve muito mais projecção e sucesso. do que este. e onde posso igualmente colocar o the return of the durutti column... primeiro registo dos the durutti column... igualmente um objecto estranho, demasiado estranho diria mesmo... surgido nessa mesma época. 1980 e 1981, certo que o colossal youth teve uma primeira edição em cassette em 1979... edição essa de autor, que chegou a muito pouca gente e não despertou a curiosidade que o vinil lançado pela rough trade viria a ter...

ambos e todos carreguei no início dos anos 80 cuidadosamente e com algum orgulho, confesso... como três das melhores pérolas esquizóides da sua época...
o caught in flux em cd é melhor para uma audição contínua... sem interrupções, sem distracções... até porque o maxi-single é um disco gémeo perfeito... que não destoa em nada do álbum principal, se é que lhe posso chamar assim...
quanto ao grafismo... aí estamos conversados... a edição de vinil é incontestavelmente superior... com as fotografias da capa muito mais nítidas e fieis... e digo-o desde já, merecem-no. no interior nota-se sobretudo a ausência de diversas imagens, que descaracterizam a empobrecem a edição original.
as fotografias a preto e branco são especiais... muito coerentes com a atmosfera dos discos... e lamento apenas a ausência de diversas delas na edição em cd... que tiram alguma da integridade à edição original... e ao excelente trabalho de james wolf... o responsável gráfico deste registo. 
não se pode ter tudo, digo eu... pode.