quarta-feira, 22 de novembro de 2023

os sonhos impossíveis > nothing at all | brighter










os sonhos impossíveis > nothing at all | brighter


os sonhos são improváveis. os sonhos são impossíveis.

os desejos não. 
os sonhos que sonhamos são imaterializáveis... são assim como nuvens densas e penetráveis... que não se conseguem conter.
os sonhos que sonho, quando sonho, são igualmente impossíveis de captar...

sonho que me sonho nessa praia distante e deserta... quando avisto um vulto que se aproxima e dirige até mim... calmo e luminoso... tão sereno que chega a assustar... e reconheço nele algo familiar... 
mas a consistência é inconsistente... e chego a duvidar mesmo no próprio sonho, do próprio sonho...
nos sonhos tudo é enorme e tangível... e no entanto inalcançável... 
embora tudo pareça real e concreto...

por vezes sonho...
e quando sonho... sonho sobretudo com quem já me morreu...
e isso eu certamente sei... 
o que me devolve e torna os sonhos impossíveis... porque inconcretizáveis.
os desejos esses não.



quarta-feira, 8 de novembro de 2023

voltar > miranda | slowdive










voltar > miranda | slowdive


vão dizer que vais voltar atrás...

mas podes escolher seguir em frente... tu decides.
e enfrentar o lamento. 
lamento, o lamento. 
e detesto a partida.
embora tolere a distância... e não desgoste da ausência...
e até goste de pausas e retorno.

hão-de dizer que ainda vais voltar...



por vezes > 20210310 | ryuichi sakamoto









por vezes > 20210310 | ryuichi sakamoto

por vezes questiono-me...

porque é que as nuvens não caem do céu... não caem sobre nós?
não se abatem sobre nós...

agora que começo a sentir que o tempo já se esgota... convem lembrar...
os lugares por onde também vivi e passei...
as pessoas com quem vivi e que irremediavelmente já perdi...
as músicas intermináveis que em solidão igualmente ouvi...

lembro as tardes quentes de fim de verão na aldeia da beira baixa... a casa grande e alegre da minha avó... cheia de recantos e história... e pessoas...
a doçura da família ao redor da mesa em jantares infindáveis... e as estórias que se deixavam contar... e que fazem parte desta história de memórias... 
a azáfama da preparação das refeições... a cozinha imensa e alta...
no piso térreo a zona da despensa... com os diversos compartimentos e os alqueires... o cheiro a cereais... 
e do lado oposto da entrada principal, a eira... o azeite e o tonel...
a escada de acesso ao primeiro piso... íngreme, demasiado íngreme para tudo e todos... e assim sendo, no topo da mesma, uma corda que permitia abrir a porta sem recurso a qualquer deslocação...
e o assomar à varanda do segundo andar... apenas permitido na companhia de adultos... para ver as luzes dos carros que se aguardavam na distância... o fim de uma exaustiva viagem desde lisboa...
as luzes lá ao longe simulando a sinuosidade da estrada... 
mas igualmente as braseiras... a grafonola e as espingardas penduradas na parede da escada que nos levava ao sótão proibido...
eram assim os finais de verão nessa aldeia escura e calma...
silenciosa e ingénua perdida nos confins a caminho de espanha... 
quando o tempo era ainda outro... vagaroso e carinhoso para connosco...
distante dessa realidade que invariavelmente atravessa a nossa vida... e a altera para sempre...

por vezes questiono-me...
porque é que o tempo não pára para nós?...


em companhia > them | nils frahm






em companhia > them | nils frahm

há um momento em que também tu terás de aprender a usar a dor para crescer... ou simplesmente usar a dor para sofrer. 
porque a dor está lá, esteve sempre lá, desde o momento em que nascemos.
apenas a começamos a entender a partir no momento em que acontece. algo acontece. que quebra o quotidiano e a rotina.
e então tudo se torna irreversível. creio, é prática comum. 
segue-se o vazio... um vazio incrédulo que não permite respirar... e em que nada se entende e acredita... a saudade surge, cresce e assusta... ganha dimensão.
torna-se insuportável... torna-se uma imensidão...
ganha uma proporção até aqui desconhecida... e resta um enorme vazio... oco. onde não existe sentido, para nada.
o tempo torna-se lento... vagaroso... difícil de passar... de enfrentar.
esse é sempre o momento de convivência da vida no confronto com a morte...
esse é o estar com a ausência...
o saber viver com a falta de presença...
o eleger da memória e a saudade...

é o confronto... já não existe conforto...
então... há um momento em que também tu terás de aprender a enfrentar esse momento... e usar a dor para crescer...




segunda-feira, 6 de novembro de 2023

coerência > i had no dream | bing & ruth



















coerência > i had no dream | bing & ruth


coerência. a coerência existe.
temos... devemos ser coerentes. todos, todos nós.
mas nem sempre... 
muitos hesitam... outros tantos deixam-se cair nas malhas da tentação... 
e aí se desvanece a coerência. 
verdade seja dita... é corrente, a generalidade não é coerente... 
provavelmente nunca o foi... jamais o será.

coerência, a coerência existe.
assim como a falta de personalidade... 
que grassa mundo fora...
só assim se poderá entender a massificação dos produtos... dos objectos... dos tempos.
não falo de gosto... o gosto é muito subjectivo...
o desgosto já nem tanto...

porque ao não serem coerentes... 
as pessoas não têm, deixam de ter poder de decisão...
a decisão está tomada... é o que a maioria decidir...
essa é a regra... da modalidade em voga, a moda...
trinta anos depois repetem-se os aos oitenta...
quarenta anos volvidos repetem-se os anos setenta...
essa é a sentença, provavelmente ditada por uma minoria.

detenham-se e tenham um pouco de vergonha.
um pouco mesmo, por muito pequena que seja essa mesma vergonha...
é possível que surja algum vislumbre de pudor... de embaraço... 
de pejo de ser livre e deixar de existir em multidão...
despersonalizados... automatizados e uniformizados conforme a sociedade pretende e propõe...

eu por mim vou ficar aqui a um canto a observar...
e posso simplesmente ouvir o 12 do ryuichi sakamoto... derradeira investida em vida, quando infelizmente já se adivinhava condenado a um minúsculo período de existência... disco maior e provavelmente introspectivo acerca desta nossa passagem e breve existência terrena...
ou optar pelo no home of the mind de bing & ruth...  
porque a seguir irei certamente ouvir species igualmente de bing & ruth...

em qualquer dos casos ficarão bem entregues...
e certamente distantes de uma qualquer incoerência...

sejam coerentes, a coerência existe... 
ou simplesmente... há lá coerência possível...