call center > some will pay (for what others pay to avoid) | howard devoto
tive neste início de semana, uma nova experiência. diferente.
pelo menos de tudo aquilo a que estava habituado... que me era familiar.
pela amável disponibilidade de uma ex-aluna... agora colega... foi-me proposta uma entrevista inicial para tentar trabalhar na área comercial...
o primeiro contacto foi sobretudo estranho... porque curto.
o que imaginei... não augurava nada de bom...
de um leque de cinco pessoas... fui o último a preencher uma ficha de dados pessoais... e assim sendo, igualmente o último a ser chamado para uma entrevista.
mas igualmente o primeiro a ser dispensado... porque efectivamente a duração da mesma não foi muito além de uns escassos minutos...
a mesma realizou-se num open space onde imperavam sobretudo jovens raparigas... e onde, num universo de talvez umas 50 pessoas... para além de mim apenas avistei mais um ser do sexo masculino... o que imaginei... poderia não ser um bom presságio...
dessa entrevista surgiu a possibilidade de uma "dinâmica de grupo"... que se efectuou na tarde de ontem mesmo.
surgi no local combinado... à hora marcada.
e aguardei. e imaginei. num edifício onde tanta gente transitava e se cruzava... com os cartões e os torniquetes sem qualquer descanso...
imaginei, mas estava errado...
a dita dinâmica iria ser processada com apenas sete, sete participantes... e incluiria duas formadoras... nove pessoas no total.
a sala para onde nos levaram era distante e verde... e demasiado impessoal... mesmo que pela decoração se pretendesse exactamente o inverso... mas, adiante...
havia um entusiasmo gritante... com a filipa invariavelmente a dar as boas vindas sempre que alguém se apresentava... num tom de voz até um pouco incómodo... irreal... e obviamente, artificial e forçado...
descobri que com todo o grupo à minha frente... entraram na sala antes de mim...
erro crasso... ao não haver mais lugares na fila da frente... optei pela rectaguarda... e fiquei deste modo... isolado na segunda fila.
os meus seis "colegas" ocuparam integralmente a primeira fila... tendo duas raparigas pousado as malas e casacos nas duas restantes cadeiras... pelo que não me restou outra opção...
má estratégia inicial...
durante a apresentação individual... pude aperceber-me... da realidade que ali imperava...
uma rapariga da arruda dos vinhos a ana, que vendia planos energéticos de porta em porta nos subúrbios... o pedro... um rapaz de setúbal que (confidenciou ter 40 anos)... e que já não era a primeira vez que ali colaborava... demasiado gordo e demasiado popular (pude verificá-lo in loco aquando da visita às instalações (entusiasticamente cumprimentado pela generalidade dos funcionários)... que vivia só com a velha avó... agora atirada para uma instituição que sempre reconheci como, um lar... e que segundo o próprio... lhe trouxe algum descanso...
a patrícia... uma loira fictícia e tatuada do pinhal novo... com grandes dificuldades em conciliar os horários dos transportes públicos... e que trazia como experiência... "o contacto com o público" e ter trabalhado no forum montijo ou seria o forum barreiro...
a catarina, uma rapariga engraçada de almada, de apenas 19 anos... nervosamente à procura do primeiro emprego... e cujo sonho era ingressar na gnr... onde este verão havia prestado provas... e sido reprovada... ciente de que voltaria a tentar...
outra ana.. uma rapariga do funchal... assistente social... cuja maior virtude confidenciou ser... muito manipuladora... e que percebi... com igual dificuldade em se manter calada...
e outra falsa loira... um pouco mais velha e de quem não recordo o nome... com diversas experiências em "shopping"... tendo como referências a zara e a intimissimi... e que segundo ela, a sua maior qualidade era estar sempre acima dos objectivos comerciais que lhe propunham... tendo sempre recebido prémios monetários, acredito eu... pelos parâmetros alcançados...
a isto acresce a presença mais discreta das duas "formadoras"... a filipa... mais entusiasmada... aparentemente mais empenhada... e até um pouco mais histérica... e a ana luísa... num registo mais low profile... que registava integralmente tudo o que se dizia... numa espécie de moleskine...
afinal estava desvendado o mistério... era um gigantesco call center... onde de imediato me apercebi que iria ter sérias dificuldades de adaptação... quer pelo formato... mas sobretudo pelo produto a apresentar a futuros clientes a contactar... e convencer...
a proximidade da época natalícia creio, pode inicialmente favorecer... mas sempre duvidei das minhas capacidades para o desempenho da função...
creio, foi mais fácil... tudo ficou mais fácil... de decidir... quando matreiramente me perguntaram quais as minhas expectativas perante a função... na empresa sempre apelidada de "família"...
aí, creio, efectivamente sucumbi...
disse ter... nenhumas...
o meu percurso... a minha área de conforto... a minha idade... não me permitia ver-me a singrar numa estrutura assim... apenas a cumprir as tarefas que me exigissem...
fui honesto. demasiado.
embora desde sempre estivesse alerta...na verdade tinha-me sido dito para mostrar vontade e motivação...
e percebi...
assim sendo... creio ter descoberto uma realidade com que nunca antes me havia deparado...
a ausência de estudos numa juventude próxima da que sempre me habituara a coabitar... e as suas reais dificuldades e pobres ambições... se assim as puder apelidar...
e hoje pela manhã ao ouvir some will pay (for what others pay to avoid) do howard devoto... recebi a mensagem em falta...
um breve agradecimento... mas que não havia passado à próxima fase do processo.