terça-feira, 13 de dezembro de 2016





















algo de anormal > second to none | electronic


deixem-me que diga isto. a sério.
deu-me para aqui, para isto. agora.
para algo de anormal. de popular. de óbvio.
para músicas assim... sujeitas a serem expostas... pornograficamente consumida por uma qualquer rádio local...
e... logo eu que sou tão adverso a isso...
a exposição... em demasia...
a audição... consecutiva...
a repetição... repetida... e repentina...
esgotando assim a própria música...
as famosas playlists que se apoderaram das rádios de hoje em dia...
e a obrigação da divulgação... exaustiva... obsessiva...
que destrói a possibilidade de qualquer... melodia...
e o tempo marca... e desgasta... fixando a música num determinado momento...
e são tantas e tão poucas as bandas que a isso sobreviveram...
pese embora o facto de o inverso parecer realidade...
mas... porque é que estou para aqui a dissertar acerca... da popularidade alheia... que sempre pouco... ou nada me motivou... 
sou partidário... do sucesso que nunca chegou a chegar.
tal e qual como as super-bandas... que invariavelmente todas as décadas se formam e resistem... e desvanecem... e extinguem e desaparecem...
retiro o compact disc da caixa acrílica... e introduzo-o no leitor e primo o botão de play...
os primeiros acordes de second to none dos electronic que se ouvem...







o ano de todos os desvarios > when I die | lush


não pode ser assim.
não devia. não devia poder ser assim.
retirarem-nos tanto em tão pouco...
é sufocante... não deixa nada... ninguém tranquilo...
nunca a morte esteve tão presente...
esse espectro que neste ano se abateu sobre o universo musical...

nunca havia sido assim... como agora...
não podia. 
tantos e todos partem... e esfumam uma adolescência que sobretudo aqui se alicerçava...
esventram as memórias... deixando, nada.
nada resta... quando já nada existe...
é todo um universo que se esvai... toda uma vida que a morte extrai...
neste ano terrível... e absurdo...

existe agora um pudor com o dia de amanhã... um receio mesmo...
quando consecutivamente tanto desaparece... restando nada.
as memórias de um tempo que assim também ele deixa de existir...
resta o som que agora ecoa e percorre este vazio que se instala...
logo... when I die... lush...

terça-feira, 22 de novembro de 2016

















peixes e autores > program for light | section 25


peixes?... e autores?...
o que significa isto afinal?...
provisionally entitled the singing fish do colin newman eu já ouvi falar... aliás oiço com frequência... é um belo álbum... 
agora peixes e autores, sinceramente...
o miguel esteves cardoso... algures num tempo já remoto referiu-se a uma ementa... aquando de uma crítica dos section 25...
será que os section 25 jamais se irão dissociar da ideia do pargo e do robalo?...
é que para peixe na ementa já basta o colin newman e a malka spigel... se é que me faço entender... senão veja-se o rosh ballata e o my pet fish...

os section 25 sempre estiveram... um passo atrás no tempo... no seu tempo...
foram durante muitos anos a sombra retardada dos... joy division... dos new order...
aliás cometeram a suprema gafe de se deixarem produzir por ambos... o que diga-se em abono da verdade... não abonou nada em favor deles mesmo...
e esse deslize teve custas... sobretudo teve muitas custas...
foi-lhes totalmente inconveniente... o tempo assim o demonstrou...
para os seguidores dos joy division... o always now mais não foi, que um disco... menor. um closer em segunda-mão...
para os amantes dos new order... o from the hip... apenas foi uma derivação do power, curruption & lies e mesmo do low-life...
e a atenção derivou...
porque para todos os outros, os section 25 significaram, nada. muito pouco.
até porque sempre foram uma trapalhada familiar... no bom sentido...
a mãe... a tia... o pai... o irmão, a irmã... a cunhada... a filha... a prima... não sei se estão a ver.
não é todos os dias que na capa de um disco surge uma foto de uma criança... que anos mais tarde se torna na vocalista... dessa mesma banda...
adiante...

os section 25... sempre viveram uma vida, paralela...
nunca, para ser honesto... foram eles próprios...
inicialmente, como tantos outros... tentaram ser os joy division...
e logo depois... os new order... os kraftwerk... e até mesmo os the wake... que igualmente se distraíram do seu propósito... e tentaram também eles ser... os joy division... os new order... os section 25...
e construíram uma obra por poucos reconhecida... onde foram pouco... eles próprios.
e quando digo isto... digo que afinal sempre foram bons... por vezes mito bons mesmo.
o always now chega em momentos a suplantar o próprio closer... o from the hip é a espaços muito superior ao power, corruption & lies... e mesmo os kraftwerk que se acautelem...
nunca foram sublimes como decades... nunca atingiram o grau de sumptuosidade de leave me alone ou mesmo your silent face... o que não deixa de ser irónico... porque já nesta última, os new order estavam também eles a tentar ser os kraftwerk...
e kraftwerk, por kraftwerk, vou ouvir o program for light dos section 25...

peixes?... e autores?... e peixes e cantores...






















nada de novo > alone | joy of life

porque se gosta...
porque se gosta tanto... interrogar-se-ão alguns.
simplesmente, porque sim... digo eu.
não é preciso haver razão alguma... nenhuma razão em especial.
tudo tem uma razão de ser.
tudo tem uma sequência. existe uma essência que a tudo assiste.
e tudo se consolida e concretiza.
a cultura que nos move... é um fruto, sequencial...
a cultura constrói-se... e consolida-se.
solidifica-se... momento após momento...
e essa conjugação de elementos... também ela, constrói a nossa essência. e síntese.
porque cheguei aqui...
como cheguei até aqui...
isso eu sei. é fácil. demasiado fácil.
o primeiro grande momento... porque a ele tudo se deve... é numa juventude inocente e conturbada... a simples audição nocturna de king crimson... van der graaf generator e até genesis... entre outros.
estes no entanto, fundamentais.
porque moldaram a minha forma de ouvir... o mundo.
e esse passou a ser também o meu mundo...
e tudo se tornou fácil... a partir daqui... a partir daí...
a in the court of the crimson king e godbluff... sucederam-se... foxtrot... e a minha primeira verdadeira aquisição. nursery cryme. dado não ter tido acesso fácil ao foxtrot...
mas o  in the court of the crimson king seria o próximo... e assim sucessivamente iniciava-se a descoberta... e a sequência... e a construção de uma, cultura diria até...
posso sem qualquer dúvida afirmar que a partir daqui... a partir da audição destes registos... a música passou a fazer parte integrante... a ser definitivamente importante na minha aproximação a esta condição que alguns chamam de existência...
e pouco depois vieram os punks... e tudo agitaram... e abanaram... e derrubaram.
o robert fripp e o peter hammill resistiram... bem como o bowie...
todos os outros passaram a ser uma dúvida permanente... e o que daí resultou... foi sobretudo produto de uma já amadurecida e consistente audição de múltiplos registos.
se o movimento punk veio abanar a estrutura... não derrubou no entanto algumas convicções...
e tudo o que novo emergiu... fazia afinal parte da mesma família...
era não só parte integrante de um mesmo universo... mas sobretudo partilhava-se aqui os mesmos objectivos e influências...
diria mesmo que todos fomos ouvintes passivos e activos dos mesmos referenciais...
e tudo se tornou fácil... mais fácil ainda.
oiço agora alone dos joy of life... como poderia estar a ouvir david sylvian... peter hammill... the cure... echo & the bunnymen... joy division... death in june... teardrop explodes... dead can dance... lowlife... e tantos e todos os outros...
afinal são todos produto de um mesmo universo... mesmo que a distância entre o in the court of the crimson king e o diminuendo pareça abissal... 
que, verdadeiramente não o é.
simplesmente porque se gosta.





sexta-feira, 18 de novembro de 2016




no céu... e no inferno > disco inferno



e se um disco se ouvir no inferno...
se um disco fizer eco no inferno?...
será essa a música dos disco inferno?...
os disco inferno sempre quiseram ser o futuro... dos joy division... como tantos e todas as outras bandas que também o desejaram...
e quando surgiu o d. i. goes pop...era novamente mentira... tudo mentira.
nada de pop, nada fácil... 
sobretudo a audiência... que não a audição... tornou-se mais difícil... porque rarefeita...
confesso. os discos tornaram-se menos fáceis. menos acessíveis.
nada acessíveis. contrariando assim o dito inferno...
estranhamente os mais estranhos... não os álbuns...eram sobretudo os singles... 
que se sucederam em catadupa... single of the week em várias publicações à época...
culminando nesse portento it's a kid's world... de tão cacofónico e rarefeito... que para muitos rotulado de inaudível...
o que mais se deseja num single e se anuncia... it's a kid's world... contrariava...
negava mesmo... 
era a antítese do single... 
nos antípodas.
esse o encanto dos disco inferno... e inesperado... mesmo quando desejado...
as melodias... e será que lhes posso chamar assim, de melodias?... foram-se afastando de um público já de si pouco extenso... e trilharam um caminho... muito próprio...
e secaram tudo à sua passagem... ensurdecendo todas as possíveis melodias...
e tornaram-se assim mesmo... maiores...
esse o paradigma dos disco inferno... 
criarem eles próprios um novo mapa celestial...
porque aqui dificilmente o inferno resiste...

















a calma e a tormenta > q quarters | the associates

no-manreturning jesus.
assim só.
é um disco de retirar o fôlego. todo.
que inquieta, pela calma.
sobretudo pela tranquilidade das palavras.
por uma serenidade que parece já não poder existir... mais.
e assim incomoda. e assusta.
mas creio que não concordarão comigo.
porque provavelmente nunca o ouviram... e acima de tudo porque nunca escreveram acerca dele.
mas o que faço eu aqui... a falar do returning jesus dos no-man, quando deveria estar (segundo o título) a falar dos the associates e desse portento que dá pelo nome de Q Quarters... assim mesmo, com letra maiúscula...
existem 3... sim três singles... ou maxi-singles dos associates... que se destacam... o white car in germany... este q quarters, e o tell me easter's on friday... não por acaso a primeira música que deles ouvi...
o q quarters e o white car in germany são 12 polegadas típicos dos anos 80... apenas atípicos... porque igualmente pouco comerciais... a ombrear com o bela lugosi's dead... o charlotte sometimes...  o eye of the lens... o atmosphere... e todos e tantos outros registos que surgiram no primeiro cartel da década de 80... 
e poderia aqui inumerar tantos... tal foi a qualidade e a proficuidade da época...
o tell me easter's on friday... é mais estranho... mais esquizóide... até talvez mais associates... nessa esquizofrenia que sempre os rodeou e envolveu...
não minto, se disser que os associates... se foram afastando de uma beleza impar e despojada... e inequivocamente se foram aproximando de um blues... de um gospel... e de um mainstream indesejado diria eu...
ao tornarem-se populares... oiça-se heart of glass... country boy ou take me to the girl... e confira-se. e isto para não falar de pior, mesmo. foleiro mesmo.

no fim... no fim, não...
o billy mackenzie agigantou-se... 
beyond the sun... ainda que não totalmente seguro... de safe mesmo... percorre já outros caminhos... mais serenos... mais próprios... e sobretudo próximos... de uma morte que já se anunciava...

quinta-feira, 17 de novembro de 2016















por vezes o silêncio > and then silence | trembling blue stars


por vezes o silêncio.
muitas vezes o silêncio basta.
a menos que se instale... e se torne irreversível...
mas o silêncio faz parte... e por vezes muito... tudo diz.
o silêncio é revelador...
seja este silêncio que também agora escuto... em and then silence dos trembling blue stars...
ou até na sua forma mais virulenta e raivosa... so this is silence... gritam os and also the trees a plenos pulmões...
prefiro o primeiro... o silêncio tranquilo com quem sabe bem coexistir...
porém compreendo o outro... o raivoso... incómodo... desesperado até... 
como aquela curta música do glen johnson que por vezes tudo revela e sintetiza...
I love you too (but I'm watching a film)... 

algumas vezes o silêncio.
tranquilo, sereno e calmo como o silêncio deve ser...
não aquele silêncio soturno e aflitivo... que apenas tudo incomoda e distancia...
quebra... e instala o desconforto...
e surge a ruptura... e quanto maior o silêncio...
maior a distância... e a inevitabilidade... de um improvável retrocesso...
cante-se e oiça-se então esse silêncio tranquilo... que tudo acalma... e serena.

quarta-feira, 16 de novembro de 2016



segredos, sinais e ameaças > all wishes are ghosts | snowbird


por vezes é assim, também é assim.
a música tem esse poder. de sedução. 
de educação até, talvez...
a descoberta de novos sons... aliciantes e viciantes...
aqueles sons que não nos largam... e sem os quais tudo se torna mais difícil...
aqueles sons que perduram... e consistentes atribuem significado...
podia estar aqui a falar dos the durutti column... podia falar dos felt... dos coldharbourstores... doa july skies... ou simplesmente dos no-man... eyeless in gaza... cemeteries... ou até talvez dos piano magic...ou epic 45. ou the montgolfier brothers...
mas não, refiro-me aos snowbird...
sempre associei o simon raymonde... a música séria... delicada... independente, porque não dependente de nada... porque desinteressada... que não desinteressante.
fosse pelos cocteau twins... em nome próprio... em outras encarnações, como esta agora em dueto... os snowbird... sempre lhe reconheci uma seriedade... uma sobriedade muito evidentes...
música que se quer que exista... sem a qual não se pode ou consegue resistir... ou existir.
tal e qual como na literatura... no cinema... nas relações pessoais...
música que existe e se divulga... apenas e sempre que necessário...
apenas deve existir no momento certo... 
a impossibilidade de não deixar de gostar de algo assim... sério... seria uma catástrofe...
esse o sentido, desinteressado... que não desinteressante.

terça-feira, 15 de novembro de 2016



penumbra > rain forest (variation N16) | howard devoto

sim, eu sei. isso eu sei.
nunca ninguém dedicou muita atenção ao howard devoto...
apenas alguns... sobretudo os menos distraídos... e mais atentos...
o esquecimento é voraz... mordaz...
tudo consome, tritura e torna... invisível...
os magazine provavelmente já não existem... que senão apenas em alguns pequenos e recônditos lugares... e memórias.
é que no caso do howard devoto não é apenas a música... mas sobretudo a lírica... a prosa.
sei o que digo... tenho tanta estima pelos seus escritos e líricas... como pela sua música... e, acreditem... possuo alguns livros e escritos seus...

os magazine a seu tempo... sempre foram atentos... mordazes...
sobretudo críticos... de uma sociedade... pouco sociável...
a atenção de devoto a tudo o que o rodeia... é espantoso... essa sua astúcia... essa argúcia presente nas letras... na música... até mesmo o seu desassombro... essa subtileza mordaz... que penetra mesmo a tela... em momentos até por vezes estranhos e confusos... senão atente-se ao 24 hour party people... e a estranheza instala-se...
em formato magazine... em nome próprio... em formato luxuria... ou simplesmente na versão shelleydevoto... é fácil constactar essa perspicácia perante a existência humana...
hoje... hoje decido-me pelo seu registo mais ignoto e avanço para rain forest (variation N16)... a que se seguirão tantas e todas outras...





terça-feira, 8 de novembro de 2016




call center > some will pay (for what others pay to avoid) | howard devoto


tive neste início de semana, uma nova experiência. diferente.
pelo menos de tudo aquilo a que estava habituado... que me era familiar.
pela amável disponibilidade de uma ex-aluna... agora colega... foi-me proposta uma entrevista inicial para tentar trabalhar na área comercial...
o primeiro contacto foi sobretudo estranho... porque curto.
o que imaginei... não augurava nada de bom...
de um leque de cinco pessoas... fui o último a preencher uma ficha de dados pessoais... e assim sendo, igualmente o último a ser chamado para uma entrevista.
mas igualmente o primeiro a ser dispensado... porque efectivamente a duração da mesma não foi muito além de uns escassos minutos...
a mesma realizou-se num open space onde imperavam sobretudo jovens raparigas... e onde, num universo de talvez umas 50 pessoas... para além de mim apenas avistei mais um ser do sexo masculino... o que imaginei... poderia não ser um bom presságio...

dessa entrevista surgiu a possibilidade de uma "dinâmica de grupo"... que se efectuou na tarde de ontem mesmo.
surgi no local combinado... à hora marcada.
e aguardei. e imaginei. num edifício onde tanta gente transitava e se cruzava... com os cartões e os torniquetes sem qualquer descanso... 
imaginei, mas estava errado... 
a dita dinâmica iria ser processada com apenas sete, sete participantes... e incluiria duas formadoras... nove pessoas no total.
a sala para onde nos levaram era distante e verde... e demasiado impessoal... mesmo que pela decoração se pretendesse exactamente o inverso... mas, adiante...
havia um entusiasmo gritante... com a filipa invariavelmente a dar as boas vindas sempre que alguém se apresentava... num tom de voz até um pouco incómodo... irreal... e obviamente, artificial e forçado...
descobri que com todo o grupo à minha frente... entraram na sala antes de mim... 
erro crasso... ao não haver mais lugares na fila da frente... optei pela rectaguarda... e fiquei deste modo... isolado na segunda fila. 
os meus seis "colegas" ocuparam integralmente a primeira fila... tendo duas raparigas pousado as malas e casacos nas duas restantes cadeiras... pelo que não me restou outra opção... 
má estratégia inicial... 
durante a apresentação individual... pude aperceber-me... da realidade que ali imperava...
uma rapariga da arruda dos vinhos a ana, que vendia planos energéticos de porta em porta nos subúrbios... o pedro... um rapaz de setúbal que (confidenciou ter 40 anos)... e que já não era a primeira vez que ali colaborava... demasiado gordo e demasiado popular (pude verificá-lo in loco aquando da visita às instalações (entusiasticamente cumprimentado pela generalidade dos funcionários)... que vivia só com a velha avó... agora atirada para uma instituição que sempre reconheci como, um lar... e que segundo o próprio... lhe trouxe algum descanso...
a patrícia... uma loira fictícia e tatuada do pinhal novo... com grandes dificuldades em conciliar os horários dos transportes públicos... e que trazia como experiência... "o contacto com o público" e ter trabalhado no forum montijo ou seria o forum barreiro...
a catarina, uma rapariga engraçada de almada, de apenas 19 anos... nervosamente à procura do primeiro emprego... e cujo sonho era ingressar na gnr... onde este verão havia prestado provas... e sido reprovada... ciente de que voltaria a tentar... 
outra ana.. uma rapariga do funchal... assistente social... cuja maior virtude confidenciou ser... muito manipuladora... e que percebi... com igual dificuldade em se manter calada...
e outra falsa loira... um pouco mais velha e de quem não recordo o nome... com diversas experiências em "shopping"... tendo como referências a zara e a intimissimi... e que segundo ela, a sua maior qualidade era estar sempre acima dos objectivos comerciais que lhe propunham... tendo sempre recebido prémios monetários, acredito eu... pelos parâmetros alcançados...

a isto acresce a presença mais discreta das duas "formadoras"... a filipa... mais entusiasmada... aparentemente mais empenhada... e até um pouco mais histérica... e a ana luísa... num registo mais low profile... que registava integralmente tudo o que se dizia... numa espécie de moleskine...
afinal estava desvendado o mistério... era um gigantesco call center... onde de imediato me apercebi que iria ter sérias dificuldades de adaptação... quer pelo formato... mas sobretudo pelo produto a apresentar a futuros clientes a contactar... e convencer...
a proximidade da época natalícia creio, pode inicialmente favorecer... mas sempre duvidei das minhas capacidades para o desempenho da função...
creio, foi mais fácil... tudo ficou mais fácil... de decidir... quando matreiramente me perguntaram quais as minhas expectativas perante a função... na empresa sempre apelidada de "família"...
aí, creio, efectivamente sucumbi...
disse ter... nenhumas...
o meu percurso... a minha área de conforto... a minha idade... não me permitia ver-me a singrar numa estrutura assim... apenas a cumprir as tarefas que me exigissem... 
fui honesto. demasiado.

embora desde sempre estivesse alerta...na verdade tinha-me sido dito para mostrar vontade e motivação... 
e percebi... 
assim sendo... creio ter descoberto uma realidade com que nunca antes me havia deparado...
a ausência de estudos numa juventude próxima da que sempre me habituara a coabitar... e as suas reais dificuldades e pobres ambições... se assim as puder apelidar...
e hoje pela manhã ao ouvir some will pay (for what others pay to avoid) do howard devoto... recebi a mensagem em falta...
um breve agradecimento... mas que não havia passado à próxima fase do processo.








quinta-feira, 3 de novembro de 2016















no tempo  > in a lonely place | new order

a minha memória é um cemitério...
a minha memória transformou-se num cemitério...
por conta do tempo... que não culpa.
o tempo está aí, constante... e nós por lá passamos e existimos...
o tempo não tem culpa alguma... nenhuma.
o tempo aí está constante... determinante...
a culpa... se é que assim lhe posso chamar... reside em nós.
somos efémeros... frágeis... demasiado voláteis...
o nosso tempo é... será sempre curto... finito...
o tempo existe em nós... desgasta, desgasta-nos... 
envolve-nos e transforma-nos.


e com o passar do tempo a memória esvai-se e esvazia-se...

mas permanecem momentos... pessoas...
a minha memória tornou-se assim num cemitério...
reconheço que conheço mais pessoas que já não existem...
do que aquelas que ainda existem.
e às quais dedico e presto atenção...
foram muitos os que reconhecidamente já não existem...


onde estão todas as pessoas que um dia também eu conheci...

para onde foram todas essas pessoas que tão familiares me eram...
estão... habitam em mim por alguma razão em si...
a minha memória é um mistério...
a minha memória é um cemitério...


e onde quer que estejam ou existam... como para mim...

vou ouvir esta estranha melodia... in a lonely place... new order... ou será joy division...
ou será o que seja... 
apenas sei que também ela um dia foi nossa contemporânea e ecoou num tempo nosso...
e que ressoa neste lugar aflitivo que também os new order inventaram... de uma grandeza de espaços abertos... mas abafado...e intransponível.






quarta-feira, 26 de outubro de 2016













como memórias > october man | bill nelson


o quarto era pequeno... escuro...
imagino que a casa também o fosse. pela dimensão do inexistente hall...
o comprimento e a largura do corredor.
aquele pequeno prédio ao início da rua... no bairro dos actores... onde costumávamos ficar horas a ouvir... mexer e remexer nos discos entretanto importados...
e na ânsia da escolha das próximas... e as dúvidas...
número 55 creio... o número da porta... e aquelas escadas... de acesso ao rés-do-chão...
e o caminho curto e familiar que invariavelmente conduzia aquele quarto onde se passavam horas de plena escuta... e descoberta...
assim surgiram os crispy ambulance... os dead or alive... o bill nelson... os the wake... os wah!... entre tantos outros... que até hoje perduram...
ainda recordo o nervosismo nas minhas mãos ao pegar pela primeira vez no harmony... e no the plateau phase... 
até mesmo a primeira vez em que levei para casa the love that whirls... emprestado...

o quanto todos gostávamos dessas descobertas... e de nos pormos a imaginar... assim só na distância... no desconhecimento... até mesmo na ignorância...
até mesmo as revistas e fanzines da época eram por nós devorados e consumidos... na ânsia de tudo tentar perceber...
imagino que não saibam... alguns não podem mesmo saber... sequer entender...
o silêncio... o desconhecimento... pela distância...
por vezes surgiam rumores assim só... de que estava para sair o disco tal... que já tinha saído o single... 
e tudo o que nos pudesse simplesmente transmitir informação... no fundo a maior das simplicidades actualmente... o estar informado.
assim igualmente comprávamos as revistas... que existiam...
as mais colaterais... as mais divergentes... afinal estávamos todos em busca de música independente...
ainda guardo alguns desses pobres fanzines... e as revistas da época...
por vezes ainda regresso a algumas entrevistas contidas nelas...
e retenho na memória os pequenos sete polegadas que o zé paulo tanto gostava de adquirir... 
era um gosto muito próprio... mas que quer a mim e ao luís carlos tão bem soube...
pois foi apenas aqui que ficámos a conhecer tantos e todos aqueles lados B... improváveis ou impossíveis de encontrar em mais algum lado...
sim, porque os lados A dos sete e doze polegadas divergiam pelas versões... mas sobretudo pela sua respectiva dimensão... igualmente os lados B ou 2 por vezes também não coincidiam...
e eu que sempre fui um adepto fervoroso dos maxi-singles... 
mas isso já há muito que foi dito... tantos e todos o sabem...


terça-feira, 25 de outubro de 2016

2016: tudo a extinguir-se > in time | the names

tem sido um ano estranho... musicalmente falando.
logo no início o desaparecimento do bowie...
depois seguiu-se o alan vega... e pouco depois o steven young... igualmente durante o verão... 
a notícia da morte da caroline crawley... surgiu já no outono... e agora desaparece o pete burns...
claro, ouve mais... infelizmente muito mais... recordo o prince...
mas estes... neste fatídico ano de 2016... fazem... fizeram parte da minha juventude e muita companhia faziam...
com o david bowie cresci... cresci com ele... e com essa magnífica trilogia que jamais viria a igualar... obrigado brian eno... obrigado berlim...
low... heroes e lodger...
o low trouxe-me muito... trouxe-me tudo...
o low sobretudo trouxe-me o warszawa... os warsaw... os joy division... trouxe-me tudo...

o alan vega e os suicide... o que dizer...
cheguei a vê-los ao vivo... mas tenho especial carinho pelo segundo álbum... o segundo registo... homónimo...o que dizer de diamonds, fur coat, champagne... mr. ray... fast money music... touch me... ou be bop kid... confinado às paredes brancas do meu quarto térreo... quanta companhia estas melodias me fizeram...

o steven young... reconheço que foi mais esporádico... apenas em alguns trechos dos colourbox... e dessa editora memorável que dava pelo nome de 4AD...
sleepwalker... the moon is blue... you keep me hanging on... arena... e até as duas versões de tarantula... preencheram tardes... noites dentro... apenas quando a popularidade transbordou e tudo invadiu... eu me afastei... 
pump up the volume... nos rádios incessantes... recordam-se?...

com a caroline crawley apanhei um choque...
acreditava que os anjos morriam nunca... 
nunca morreriam... 
é falso. sei-o agora...
com o desaparecimento da caroline crawley... definha e desaba mais um pedaço da 4AD...
se na sua banda original... de seu nome shelleyan orphan... a sua voz estranha e melódica tudo preenchia... foi sobretudo nos this mortal coil que se tornou eterna...
oiça-se  late night... mr. somewhere... ou simplesmente, the lacemaker... e help me lift you up...
assim apenas... acreditei que os anjos nunca morrem...

agora o pete burns... nos antípodas... 
não podia estar mais distante... 
mais afastado da doçura de caroline crawley... carrega apenas o ano da sua morte...
os dead or alive foram um misto... de paixão e ódio...
a fase inicial... mais bauhaus... cult e danse society... foi a melhor... foi soberba...
a fornada de singles que teve início em I'm falling... prosseguiu em number eleven... the stranger... e teve o seu apogeu em it's been hours now... esse obscuro maxi-single que ombreava com qualquer outro na sua época... e que continha essa pérola denominada de nowhere to nowhere... 
seguiu-se misty circles... e com what I want... não apenas se instalou a confusão... reinou a pop e a decadência... e eu, assim só perdi-lhes o rasto...
do auge ao cadafalso foi apenas um pequeno passo... que não um lapso...
fica assim a música mais só... e esses míticos anos 80 desse século XX... mais pobres e mais vazios.


quarta-feira, 12 de outubro de 2016
















na distância > the nostalgist | piano magic


a estrada não a reconheço...
porque já tanto tempo passou... e não a conheço...
a estrada parece infindável... interminável na invisibilidade...
o nevoeiro denso e extenso... que não permite ver, perceber a distância...
e o hugo que se queixa e põe o capuz... e os pés frios nas primeiras horas da manhã...
como se a saudade não fosse já imensa... e o carro avança... no sol que custa em surgir...
e nas placas que anunciam a distância... que parece não diminuir...
e o tempo que passa e urge... e tarda em chegar... a esse destino...

revelo-o agora... simpatizei com a terra... com o complexo da escola... sobretudo a materialidade e a tranquilidade da paisagem envolvente...
a escala... o espaço envolvente... o território...
as casas que visitei... desagradáveis e claustrofóbicas...
sujas e caóticas... anárquicas. e velhas.
não a imaginava assim, a povoação... tão... desnivelada.
de onde surgiu um território tão acidentado... numa tão vasta e imensa planície...
como é num terreno tão plano surge uma povoação tão íngreme... e solitária...
a vista... é a perder de vista... o sol lá no alto... ao longe no horizonte...
e segredo aqui...
custa tudo mais... sobretudo por ser assim repentino...
sem tempo para nos ajustarmos... nos consciencializarmos...
essa tomada de consciência... é, deverá ser importante, digo eu...
e sobretudo solitária...

na distância instala-se um vazio... mas estranhamente a companhia permanece...
porque o pensamento é mais recorrente... 
e assim nestas viagens imensas e imaginárias, aproximo-me da estante e retiro um disco dos piano magic, que introduzo na gaveta do leitor de cd... 
o som familiar que logo se inicia e tudo preenche... the nostalgist...
apenas para tentar abafar e afogar esse pensamento que permanece... e se fixa... desconfortável e duro... frio e seco...
e que alguém em algum momento apelidou de saudade...



segunda-feira, 19 de setembro de 2016















ao longe > every town | cranes

creio.
creio que sintetiza bem o sentimento.
a saudade.
a saudade é sobretudo dos vivos.
a ausência dos mortos é definitiva.
sem solução, sem retorno.
é definitivo.
mas dos vivos... presentes... ainda que ausentes, não.
a saudade é eterna... 
é um aperto que está... que fica... em permanência.
a mente que retorna sempre... a esse mesmo momento... e retoma...
num tempo que custa mais a passar... e parece preso... lento...
seja em que lugar for... seja em que tempo for...
a distância permanece... e afasta...
a vida numa outra vida... que não esta que se vive aqui...
e a música que preenche... tenta preencher esse vazio...
o som nesse vácuo que se instala... every town... cranes...