segunda-feira, 30 de outubro de 2017





















no alinde do deslumbre > time in minutes | cabaret voltaire 

sempre foi assim... 
com os cabaret voltaire sempre foi assim. 
ouvir a música dos cabaret voltaire equivale a aprender a nadar no lado mais fundo da piscina.
esse o encantamento... esse o deslumbre.
esse o nervosismo e a adrenalina.
é assim porque sempre foi assim. 
os sons que se ouvem e sucedem... são drásticos... dramáticos mesmo.
são sons que se sucedem... atropelam e colam... cosem e constroem uma identidade muito própria, a destas melodias... se assim se podem chamar.
são linhas de montagem frias, secas e cruas... demasiado cruas para o comum ouvinte...
e no entanto... constroem... cozem feridas e mesmo deixando cicatrizes e feridas abertas... não demasiado encantadoras para serem omitidas.
esse modo de existir... tal e qual aprender a nadar num mar sem fundo aparente... não só deixa marcas... como sobretudo jamais se poderá esquecer.
equivale a uma decisão drástica... tal como preparar-mo-nos para surfar uma onda gigantesca que se avista no horizonte... mas que não sabemos o desfecho.
essa a beleza... essa é a magia.
é aí que reside o poder... e apenas ficará quem assim o decidir.


quinta-feira, 19 de outubro de 2017

















ímanes na porta do frigorífico > do right | cabaret voltaire

tradicional... ímanes na porta do frigorífico...
imagem tradicional...
a porta do frigorífico pejada de ímanes. típico.
sem ordem ou razão aparente. sobretudo sem significado...
a anarquia que reina em algumas cozinhas...
nomeadamente nas laterais... e sobretudo nas portas dos frigoríficos... é inexplicável.
porque não se explica. 
na sua génese, creio... serviam para afixar notas ou recados... até talvez receitas de culinária, assim mesmo, ali à mão...

mas... o que leva as pessoas... sim, o que leva as pessoas a tais atitudes...
será o simples facto dos ímanes agarrarem e funcionarem bem na chapa dos frigoríficos...
ou tão simplesmente a dimensão das mesmas... ou tão só a sua nudez...
será que as pessoas não podem ver coisas simples... lisas... serenas e tranquilas...
terá de existir sempre um reino do caos em cada um de nós...
e será essa desorganização fruto de uma desatenção... de uma inatenção própria da maioria dos seres humanos...
ou haverá mesmo por implícita necessidade, lugar à desordem... 
essa vontade caótica que se gera e reina em todos e cada um de nós.
será necessidade?... será vontade?...
mera desatenção?... 
simples desordem... inatenção... ou falta de organização?...
o que leva as pessoas a gerar um caos em todas e cada cozinha...
penso... penso... repenso e não tenho resposta... não obtenho resposta. alguma. nenhuma.
assim sendo vou... e refugio-me em do right... esse eterno e familiar som dos cabs...




quinta-feira, 12 de outubro de 2017




tenho 73% de chances de terminar este texto > see no more | swans


tenho 73 por cento de hipóteses de terminar este texto... creio.

talvez... não sei bem... creio... acredito.
tento... vou tentar... continuando...
se continuar... provavelmente conseguirei...
acredito que consigo.
assim só... assim mesmo. bastar-me-á continuar...
nunca hesitar... nunca parar...
e se não parar de escrever... o texto há-de crescer... e concluir-se... imagino.

e crescendo... há-de fazer-se... assim mesmo...
não hesitar... nunca parar... de escrever.
escrever assim só... mesmo sem algum sentido... sem sentido nenhum mesmo.
e assim até aqui já cheguei. talvez 30 a 40% da coisa esteja feita. realizada. concretizada.
e assim sendo vou falar... porque tenho mesmo que continuar.
e se os new order não fossem tanto os new order... por vezes até poderiam ser os kraftwerk... que eles por vezes tanto ambicionaram ser...
e se ouve alguém que não desejou ser mais do que ele próprio... ele mesmo, esse mesmo personagem tem nome... chama-se michael gira... e encarna igualmente os swans... de tão restrito culto... ou os skin... ainda mais restritos porque mais... desconhecidos... e tantas outras encarnações a que se tem dedicado...
e os swans foram... e são... mas foram... 
os carrascos dessas melodias intrépidas... que todos imaginaram... mas poucos ou nenhuns ousaram construir.
sobretudo o inconformismo de gira e jarboe povoou toda uma geração de registos... até a idade lhes trazer um inevitável afastamento e um falsa serenidade. talvez apenas cansaço.
se em the burning world michael gira canta... 
when, when we were young, we had no history
so nothing to lose meant we could choose
choose what we wanted then
without any fear or thought of revenge

será cansaço... será da idade...
será ilusão... será da desilusão...
apenas se inverteu todo uma linguagem... mas sobretudo amansou-se... o processo.
a raiva... a distância... a diferença... mesmo a frontalidade... estão, continuam presentes.
apenas a raiva se digeriu e amestrou...
num processo doméstico que tornou o animal manso...

e agora sim... creio já estar próximo...
já ter atingido os 72  ou 73%... os setenta e três por cento a que objectivamente me propus.
e assim sendo... retiro-me...











segunda-feira, 2 de outubro de 2017



prometo nada > the promise | the paradise motel


nada prometo... não posso.

prometo nada... nada possuo.
existirá coisa mais banal... e desinteressante... do que isso... do que eu...
quando ouvi nesse distante ano de 1981... o a promise... dos echo & the bunnymen... prometi a mim mesmo...
que o haveria de ter... de o adquirir... depois de o ter contemplado... e ter tido nas mãos esse 12"... e ter visto nas montras da HMV o 7"...
prometo nada... 
nada prometo... nem a mim mesmo...
esse disco... confesso... nunca o tive... nunca o adquiri...
não passou de intenção... de promessa vã.
e assim como tantas e todas as outras promessas...
que ficaram por realizar... por cumprir.
um dia disse a mim mesmo que haveria de te falar...
de te telefonar...
de te beijar...

e verdade seja dita... fui habituado... a... não alimentar aquilo que não é recíproco...
sendo certo que tudo fica melhor com um beijo...

















a tristeza > subtext | john foxx + harold budd

a tristeza também é assim... é sobretudo assim.
como esta melodia que agora mesmo oiço e tudo reduz... 
porque tudo torna assim triste... somente.
esta melodia tudo intensifica... porque tudo neutraliza...
esvazia. deixa apenas o sentido... mas sobretudo a melancolia...
e na distância tudo amplia... e torna impossívelmente oco.
subtext ou adult são o espelho e o reflexo disse mesmo... 
dessa solidão... dessa melancolia... desse estar assim só, suspenso num vazio... estranho e contínuo... que a espaços também propõe espaços...
a infindável calma que se retira e experimenta nessa longa e vasta solidão...
é como nos discos dos breathless... onde igualmente existe... essa sensação... esse sentimento de impotência... perante o tempo... perante... desesperante.

a tristeza também é assim... sobretudo assim.
solitária... e sufocante...
vazia... demasiado vazia... oca...
tão vazia... que tudo enche, preenche...
e tudo asfixia... e esmaga.
as melodias do john foxx para isso mesmo servem...
para lembrar... para nos recordar que a solidão e o sofrimento existem...
e estão sempre mais perto... do que imaginamos...
e a falta que tudo e nada nos faz... 
sobretudo tudo... quando já nada há...