para o meu pai > sixth sense | eyeless in gaza
nem todos os pais são assim... eu sei.
eu sou.
aprendi contigo...
o meu melhor aprendi contigo... o pior, sinceramente não sei... é apenas meu.
foi talvez a forma como vivi a vida... que para aqui tenha sido encaminhado...
encurralado diria eu... mas adiante... não é de amargos e ânimo leve que quero aqui falar...
quero falar dessa tranquilidade que sempre de ti emanava...
fosse em que situação fosse... e que inveja tenho...
já que cada vez mais "fervo" em pouca água...
e tem tendência a agravar-se, confesso-te...
mas é de ti que quero recordar...
desse doce sorriso com que invariavelmente me contemplavas... sempre que me presentavas... com um monte de discos das minhas eternas e infindáveis listas...
acredito agora que por vezes não te terá sido fácil... encontrá-los.
verdade seja dita... nunca te pedia algo muito comum ou popular...
como a mãe uma vez me confessou... numa das tuas triviais viagens... percorrias tempo interminável na busca... nessa procura que eu sei, nunca seria óbvia e fácil...
mas esse teu gosto... em me ver feliz... levava-te a palmilhar... eu sei, herdei-o de ti... faço provavelmente o mesmo...
e também de ti herdei... ponho os outros sempre antes de mim... confesso... por vezes até mesmo de mim me esqueço... quando se trata do pedro e do hugo... e da carla... e quando era da mãe...
é vício meu... eu sei... mas aprendi contigo... essa felicidade de ver os outros felizes...
agora mesmo oiço o caught in flux dos eyeless in gaza...
e isso mesmo recordo...
quando chegavas de mais uma viagem... cansado... não descansavas enquanto não vias o meu entusiasmo com o que me presenteavas... na verdade, o que te tinha sido possível encontrar de entre as listas improváveis ou mesmo impossíveis que eu te entregava...
esses sacos recheados de discos quadrados de vinil... eram a minha exaustão... e a tua serena observação...
fossem os eyeless in gaza... os test dept... os virgin prunes... ou outra qualquer banda marginal e difícil de aceder... a verdade é que nunca me decepcionaste...
regressavas sempre com tudo o que tinha sido humanamente possível encontrar... e imagino, porque o sei... as dificuldades por que terás passado...
mas dizia-lo tranquilamente que tinha sido até fácil...
e isso, creio tem um nome...
que todos os filhos sabem e reconhecem...
quando se tornam pais também...
nem todos os pais são assim, eu sei.
tu sempre o foste... e para mim sempre o serás...