quarta-feira, 23 de junho de 2021

o que se passa aqui? > where does a body end? | swans




o que se passa aqui? > where does a body end? | swans


minha senhora, desculpe.
porque razão o babete dele é plissado e o seu não?
interrogo-me... questiono..

é no mínimo estranho... mas imagino haverá alguma razão...
tem de haver alguma razão... de outra forma ambos os babetes seriam idênticos, iguais mesmo.
e já agora, minha senhora... o porquê da  utilização dos babetes enquanto adornos?...
e já agora, não estamos a falar de crianças... mas sim adultos...

o que raio se passa aqui, questiono...

alguma dúvida > here comes everybody | the wake






















alguma dúvida > here comes everybody | the wake

se ainda alguma dúvida houvesse... já não há.
não existe. porque não é possível. nenhuma.
tenho consciência de que oiço parcialmente alguma da melhor música que se fez e faz no mundo...
e não, não é presunção alguma... nenhuma mesmo.
até porque não tenho responsabilidade alguma sobre essa mesma música. 
apenas a oiço... e desfruto...

seja através dos lowlife... dos wire... magazine... the wake... bill nelson... wim mertens... the durutti column... mesmo até de franjas mais periféricas e obscuras, que não radicais... 
tais como homem em catarse... virgin prunes... swans... no-man... eyeless in gaza... hania rani... sol invictus... 
e aqui teremos que concordar... nem todos são dos mesmos universos ou consensuais...

agora mesmo me delicio com o here comes everybody dos the wake... antes simplesmente ouvi glass de hania rani... e penso já em seguida ouvir the great annihilator ou the burning world ambos registos dos swans...
não parece muito coerente, dirão alguns... 
mas certamente estamos a falar de um mesmo predicado comum... 
a qualidade subjacente a todos estes registos...

quinta-feira, 17 de junho de 2021

ensaio > see no more | swans









ensaio > see no more | swans


como explicar... como te explicar.
não é fácil explicar a  nossa infância... rever as nossas memórias...
nunca é fácil tentar explicar o que se viveu... e transportar as outras pessoas até esse tempo... esses acontecimentos. sobretudo as pessoas e esses lugares.
como te poderei tentar explicar a luz do fim do dia na varanda de casa da minha avó na beira?
como poderei explicar as massas de nuvens altas e escuras que desencadeavam grandes trovoadas em pleno verão?
como te poderei descrever a pele das cadeiras altas em redor da enorme mesa da sala de jantar?

como te poderei descrever o que eram os serões ao final da noite nas salas enormes...
como te poderei revelar o cheiro que pairava no ar, fruto dos candeeiros a petróleo que todos utilizavam... dada a ausência de electricidade...
como te poderei falar acerca das casas de pedra despojadas... e da sua unidade e força implícita...
como te poderei mostrar o negro do céu noite dentro... e a imensidão de estrelas que existem e ninguém se delas apercebe...
como te poderei transmitir a serenidade da voz do meu pai a descrever histórias imemoriais da sua infância naquela mesma aldeia da beira baixa...
como te poderei mostrar a tranquilidade de lugares e tempos assim... numa infância feliz e despreocupada... livre e sádia...
como?...
simplesmente diz-me como.

em viagem > pêndulo da sé | homem em catarse










em viagem > pêndulo da sé | homem em catarse


quem me conhece sabe que não poderia ser de outra maneira.
apenas esta.
esta última carta escrita na máquina de escrever... naquela velha e genial olivetti lettera 32 de que tanto te falei e elogiei...
antes minha... agora tua.

considero esta, uma missiva minha, provavelmente a última... uma carta minha para ti...
todos invariavelmente dirão que era uma nota final de suicídio...
não acredites. nunca acredites no que te dirão...

é apenas uma forma pessoal de te dizer o quanto grato estou de ti... e sobretudo orgulhoso...
nunca imaginei de outro modo. porque sempre acreditei na tua tenacidade e inteligência...
desde muito novo que era possível ver, assim estivessemos atentos...
e isso chega-me... sobretudo porque justifica a minha existência... 
a tua vida e o teu sucesso justificam plenamente todos os meus erros e desenlaces... todas as minhas falhas e faltas... e apenas isso já fez valer a pena. 

não é que não tenha tentado, não, tentei. tentei... por vezes arduamnete até... no entanto...
nunca esteve na minha génese esse sonho... esse crer...
sempre foi minha filosofia viver... dia a dia... nunca vi para lá do amanhã...
nunca desejei... nunca imaginei que poderia concretizar...
talvez tenha sido fraco... banal... 

agora vou dobrar a carta e inseri-la num envelope branco que te é destinado...
e vou arrumar a minha... desculpa, tua olivetti lettera 32... e tomar aquela enorme caixa de comprimidos que alguém, algum dia me receitou... e tanto jeito me irá dar agora...
e sentado... beberei igualmente uma ou duas cervejas... bem frias como sempre gostei... e ficarei a aguardar... não sem antes pôr a tocar esse disco que me acompanha e aligeira também... sete fontes... homem em catarse... e que será um consolo esteja lá onde eu estiver...

vou ali, volto já...
até já.




quarta-feira, 16 de junho de 2021

insónias > bad light | the paradise motel




insónias > bad light | the paradise motel


esta noite dormi.
dormi. continuamente, sem interrupções. do sono.
mais do que dormir, descansei. sinto que descansei.
não estive como em tantas outras noites simplesmente acordado, no escuro da noite.
e não estive a pensar, a rever... a rever-me a mim... a ti... a nós.
não. esta noite dormi, realmente dormi e descansei... sinto que repousei.
e quando acordei, acordei mais do que sobressaltado. acordei sobretudo surpreendido pelo sono contínuo... e descansado.

não pensei em ti. 
muito menos pensei em mim. não pensei em nós.
não pensei em nada. 

simplesmente adormeci e dormi... como há muito tempo não me recordo...



segunda-feira, 14 de junho de 2021

calem-se > this'll never be like love | the psychedelic furs













calem-se > this'll never be like love | the psychedelic furs


calem-se!...
cala-te. calem-se...
isto nunca será como o amor...
isto será sempre o mais perto de estar próximo. 
será sempre um sentimento estranho e ambíguo...
diferençiado... partilhado... cúmplice, mas nunca amor...
e pretendo que o entendam... que compreendam. só assim sobreviveremos.
isto será sempre o mais perto que imagino, este envolvimento. sem demais desenvolvimentos...
nunca amor. 
apenas um sentimento ambíguo e perseguidor... que nos entretem e aproxima. e ilude e fascina.

fico. calado.
simplesmente a ouvir orchestra terrestrial... low definition alpine d  r  if t...

mas sinceramente, e para fazer justiça ao título... deveria mesmo era ouvir o último álbum dos the psychedelic furs... e essa mesma melodia chamada this'll never be like love...




sexta-feira, 4 de junho de 2021

no princípio > betweenspace | blaine reininger



no princípio > betweenspace | blaine reininger


no princípio. o fim.

no início... mesmo antes do princípio, já se nota.
existe uma predisposição... o vislumbre de uma hipótese... 
uma suposição, diria mesmo...
não há propósito ainda...
apenas um tremor... uma inquietação... que não nos larga e persegue.
nunca existe uma proposta autêntica... efectiva.
existe uma ideia... um pensamento abstracto que se pretende concretizar.
tornar concreto. real.

assim... aqui a tentação é enorme.
intensa e imensa. 
é impossível fugir... fugir-lhe.
não há como escapar... dessa perseguição...
tudo se torna inquietação... uma constante e sufocante inquietação.
porque igualmente uma imensa satisfação...

no princípio... do fim...

actos e factos > beginnings | houses




actos e factos > beginnings | houses


por vezes não se medem as consequências. dos actos. 
dos nossos actos. ou dos outros.
ou simplesmente medimos... mas mesmo nós, não acreditamos que por vezes venham a suceder.
mas sucedem, acontecem.
e isso por vezes atrapalha... e acarreta consequências... 
e tudo complica. porque muito implica.

por vezes torna-se complicado... as coisas ficam complicadas.
torna-se difícil... improvável recuar.
pelo desafio. 
e perante a impossibilidade de retroceder... sobretudo no imaginário. nosso.
que nos propõe... e dispõe a avançar... 
somos aliciados... perante a possibilidade de sermos deliciados... ou simplesmente silenciados.
nunca imaginamos. o pior.
sempre nos propomos, o melhor.
até porque bem vistas as coisas, as intenções nem sempre são más. apenas distorcidas.
e diversas. da realidade.

por vezes não se medem as consequências dos actos...e surgem novos factos.


quarta-feira, 2 de junho de 2021

o filho da professora de francês > a private view | bill nelson




o filho da professora de francês > a private view | bill nelson


aparentemente tímido.
reservado, sem dúvida. quase sempre observador e constantemente calado.
é assim que o recordo.

aparentemente bem educado... muito perspicaz e observador.
demasiadamente pouco interessado... em determinados assuntos.
muito, mas mesmo muito reservado... sobretudo atento...
e educado. 
perspicaz e atento... sempre atento... que não sinónimo de interessado. ou interessante... interessante, pouco. vulgar diria mesmo...
interesseiro... e sempre atencioso, porque interesseiro...

era assim o filho da professora de francês... sempre atento e atencioso, pronto e disponível para auxiliar os outros... que não ajudar.
e creio, pouco amigo de devolver as chamadas telefónicas que recebia... e tantas recebia...
introspectivo... por vezes até solitário... media bem as palavras... e provavelmente antevia já as respectivas consequências...
assim sendo... assim o foi...