quinta-feira, 27 de janeiro de 2022

existo ou evito > robin guthrie & harold budd




existo ou evito > robin guthrie & harold budd



hesito e evito.
hesito... como sempre hesitei ao longo da vida.
de toda a minha vida.
e igualmente evito... evito muito... 
evito muitas coisas... muitas situações... muitas desilusões.
muitos lugares... demasiadas pessoas...

evito e simplesmente existo... e hesito.
e se há melodias que possam sarar todo este processo, sem dúvida...
halloween e twilight... ambas contidas no mesmo registo, mysterious skin... essa pérola pertencente a essa dupla de excelentes compositores... que com tanta mestria até agora se completavam...
robin guthrie e harold budd...

aqui, seguramente não evito nem hesito... 
e existo.

casa dos pequenos pássaros | homem em catarse





casa dos pequenos pássaros | homem em catarse


foi propositado. 
foi de propósito. não atribuir título algum a este pensamento. nenhum.
apenas tem o nome do registo que agora oiço. 
casa dos pequenos pássaros... de homem em catarse.
apenas isso. simplesmente isso... porque me basta. 
de momento chega... 
chega... porque de tão simples e despojada tudo preenche.
e aconchega.

e existe um vazio... um vazio enorme que merece ser preenchido...
porque impensável... difícil de entender...
e agora, sobretudo agora... de tudo se duvida... tudo se questiona.
e esta melodia assim seca e crua... ajuda a sarar...
de tão minimal e simples... ajuda a reflectir...
porque obriga a sentir... e faz sofrer mais... mais, ainda mais.
e tudo aqui se torna impróprio e despropositado...

sábado, 22 de janeiro de 2022

às vezes > cut the tree | the wolfgang press






















às vezes > cut the tree | the wolfgang press

por vezes apetece-me isso...
por vezes apetece-me isso mesmo... gritar aos sete ventos de que os wolfgang press são a melhor banda do mundo... mesmo não o sendo.
os wolfgang press são desconcertantes... são impróprios... são improváveis... mesmo com todas as probabilidades.
são impróprios... simplesmente por serem eles próprios.

o michael allen por vezes faz lembrar o glen johnson dos piano magic... e isso basta. 
é provavelmente o melhor elogio que se lhes pode fazer... a ambos.

e por vezes apetece-me isso...
apenas isso.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2022

se > my truth | cocteau twins




se > my truth | cocteau twins


e se eu morresse hoje.
morresse agora... morresse já.
o que perderia?... 
o que se passaria?...
que mais aconteceria?...
como tudo seria?...
como ficaria?...

a luz > seekers who are lovers | cocteau twins




a luz > seekers who are lovers | cocteau twins


tudo se move porque tudo está quieto.
tudo está quieto em constante movimento.

aqui não há tempo como o reconhecemos.
não há dia, nem noite.
existe um vazio constante onde todos nos movemos. e interagimos.

aqui não há lugar ao tempo. não há  tempo como o conhecíamos.
não há dia... tão-pouco noite.
há um vazio contínuo que tudo preenche. e penetra.
existe uma imobilidade contínua e eterna.

a luz do dia em segunda-mão.



terça-feira, 18 de janeiro de 2022

seja lá o que isso fôr > bap de la bap | the associates




seja lá o que isso fôr > 
bap de la bap | the associates



isto também pode ser música...
e vir da escócia... seja lá onde isso fica.
música escocesa vem naturalmente da escócia. esta, mais concretamente de dundee.
os the associates são oriundos de dundee... essa terra muito a norte... banhada pelo rio tay.
e andaram juntos com os the cure no início... e cujo baixista transitou dos the cure para os the associates em 1981... 
assinaram com a mesma editora, a fiction records... lançaram discos inusitados e diferentes... ficando sempre indiferentes...
o núcleo duro assentava no billy mackenzie... e no alan rankine... mais reservado e menos prolífico do que o vocalista... sendo que igualmente bom músico, ou melhor... como ficou espelhado nos trabalhos de ambos a solo...
o billy mackenzie fez imensas parcerias... algumas menos interessantes e dignas... mas o seu auge foi também o seu fim... com grandiosas melodias melancólicas...cinzentas e pouco populares... logo ele que sempre viveu muito interessado no estrelato. interessante.
o alan rankine demonstrou com a sua curta carreira a solo, que era igualmente genial... e que muitas melodias doces e pop do universo dos the associates, a ele pertenciam.
mais reservado... esta segunda linha criativa da banda, foi fundamental na construção dos alicerçes e pilares dos the associates
white car in germany... matter of gender... q quarters... têm inequivocamente o seu selo distinto.
e esta música também pode ser isso...









plágio > músicas assim (são de saudar)


plágio > músicas assim  (são de saudar)


por vezes parece que já aqui estivemos. um déjà vu.

como se em algum momento já ali estivéssemos estado. 
vivido, vivenciado aquele lugar em algum momento. algum outro momento.

a música segue a mesma lógica... a mesmíssima lógica. 
ou será plágio, questiono-me por vezes eu... 
é que ouvir algo de novo... e parecer-nos que já anteriormente aquilo conhecíamos... 
e aparentemente reconhecemos... é isso mesmo... 
a memória a funcionar e a dizer-nos isso mesmo... que aquela melodia já faz parte integrante do nosso léxico... e é-nos familiar...
e porque falo eu disto aqui... agora. porque terminei exactamente onde isto começa.
sara dale's sensual massage dos coil... é um mistério... 

sara dale's sensual massage dos coil... é efectivamente um mistério... 
é para mim um mistério.
simplesmente porque quando a ouvi... pareceu-me familiar... demasiado familiar.
e bastaram-me poucos acordes... para eu mesmo acordar.
moments in love dos art of noise... é um parente pouco, mesmo muito pouco afastado deste sara dale's...
tem mal?... não, não tem. 
sobretudo porque são ambos belíssimos... e isso é que importa...
se um tem data de 1985... o sara dale's sensual massage surgiu em discos de 2019 e 2020... mas é obviamente material com alguns anos, até porque o duo integrante deste projecto... há muito que não existe, e assim sendo, são melodias que carregam tempo...
john balance morreu em novembro de 2004... peter christopherson em novembro de 2010.
o quanto baste... resta a música... 



lápis brancos > sara dale's sensual massage | coil










lápis brancos > sara dale's sensual massage | coil


é tudo uma questão de matemática.
no universo tudo se rege por quesões matemáticas.
conversava ele enquanto bebiam um café, ali sentados naquela mesa de pedra... naquele pequeno café de esquina...
as montras altas deixavam antever o bulício lá fora nas ruas amplas e luminosas.
o café estava cheio, apinhado... o barulho era imenso... assim como o movimento de empregados... num frenesim frenético... tentando acudir a todos os clientes naquela hora... ao final da tarde de mais um dia de trabalho...

então ela, até aqui em silêncio... aproximou o tronco da mesa e calmamente interrogou...
não tem aliança...
ao que ele surpreso, retorquiu...
tive. 
já não tem?... questionou novamente ela...
não. respondeu ele.
deu-lhe um desgosto... inquiriu de seguida ela... parecendo muito interessada nesta mera quimera... 
não, deu-me ela a mim... respondeu novamente ele, indiferente à curiosidade que ela aparentemente demonstrava por aquele assunto, para si há muito encerrado...
e assim dito, aproximou lentamente a chávena dos lábios... e deu um pequeno gole de café...

apetecia-me sair daqui... retorquio ele...
está demasiado barulho e confusão aqui...
ao que ela simplesmente questionou...
para onde? 
para onde imagina ir?
ao qual ele respondeu... 
para um qualquer lugar... para um qualquer outro lugar que não este...
e ficar simplesmente a ouvir melodias infinitas e infindáveis... como esta que agora mesmo relembro e é... sara dale's sensual massage... coil.




terça-feira, 11 de janeiro de 2022

deixem-se ficar > primeiro amor | samuel beckett















deixem-se ficar > primeiro amor | samuel beckett

deve ser por isso.
deve ser sobretudo por isso mesmo...
deve ser por isso que eu gosto tanto do samuel beckett.
delicio-me com os seus textos e livros por vezes desconcertantes... 
a quem a maioria evita de ler... por achar demasiado invulgar, digo eu...

dos seus livros... um dos que mais me marcou foi sem dúvida o primeiro amor.
e quanto mais o procuro... leio e releio... acabo por chegar sempre à mesma conclusão...
o seu início, sobretudo os dois primeiros parágrafos.

dizem tudo. 
sintetizam tudo...
é sobretudo estranho, mesmo demasiado estranho... porque dizem o que eu nunca disse... mas igualmente pensei, sempre pensei... 
e deste mesmo modo agi.
igualmente "costumo associar, com ou sem razão, o meu casamento à morte do meu pai, no tempo. que haja outras ligações, a outros níveis, entre estas duas coisas, é possível. já me custa bastante dizer aquilo que eu acho que sei."

e isto é em mim tão verdade... que chega a arrepiar.
deve ser talvez daí a minha empatia com o beckett... escritor de um nível superior a que a maioria jamais consegue alcançar... mas...
deixem-se ficar que eu vou ouvir... kaf... kof... mem... alef... jod... e por aí adiante...


segunda-feira, 10 de janeiro de 2022

a música por companhia > snowfall | robin guthrie



a música por companhia > snowfall | robin guthrie 


1.um
manhã cedo, a cidade ainda quase vazia...
sentada junto a uma árvore... uma rapariga espera... 
e enquanto aguarda... pressente-se o frio...
o casaco hermeticamente fechado... o gorro a tapar a cabeça... inclusive o rosto...
as luvas pretas que cobrem as mãos, visíveis... segurando o telemóvel que toca uma qualquer melodia popular... e quando apressado passo, apercebo-me de um canto em brasileiro...
a música por última e única companhia...

2.dois
mais abaixo, junto da grande praça que remata a longa avenida... um denso grupo de pessoas que aguarda a abertura da farmácia, para assim proceder a testes por causa do aumento exponencial de casos de pessoas infectadas nos últimos tempos...

3.três
na rua pedonal... junto da esquina da velha taberna, a ginjinha rubi, os fregueses do costume... apoiados nas mesas altas de pedra... aguardam por que o dia que agora começa... finalmente termine. a inércia é bastante... e óbvia... as conversas referem sempre os mesmos assuntos...
aqui já se sente a proximidade do rio... o ar está mais frio mas sobretudo húmido... lá no alto  as gaivotas planam ruidosas... pressente-se a proximidade do mar.

4.quatro
vê-se pouca gente... muito menos gente do que era habitual...
resultado da dúvida que se instalou... mas igualmente do receio...
as pessoas tendem a isolar-se... e evitam contactos...
a proximidade desapareceu... e a distância é agora o mote social.
apenas naquela esquina da rua barros queirós, junto da tasquinha... isso não se sente.
os clientes ruidosos e habituais... marcam presença... nem máscaras ou quaisquer outras condições relativas aos cuidados a ter do ponto de vista da pandemia...
e aqui a vida continua invariável e diária...



o novo escritório > river of woe | lowlife







o novo escritório > river of woe | lowlife


aqui no velho prédio da rua das portas de santo antão... junto ao coliseu... a decadência mantém-se.
o quarto andar é composto por 7 fracções... sete minúsculos escritórios de condições duvidosas... 
a própria fechadura da porta de entrada acaba por denunciar isso mesmo... e não augura nada de bom...
custa a abrir... custa ainda mais a fechar...

os corredores são estreitos e sobretudo sombrios...
junto da porta de entrada, a fracção c... anuncia-se através de uma chapa de alumínio dourado, com a letra c em itálico, colada na respectiva porta... torcida e de um gosto duvidoso.
aqui reside um escritório de 4 jovens promissores... que o tempo veio a demonstrar o inverso... o coworking e o empreendedorismo que tão em voga estiveram... e estão. estarão?

na fracção e... um osteopata, que igualmente faz massagens... e na fracção g uma cartomante... que poucas vezes vem. sussurram nos corredores que é uma taróloga que pouco aparece...
as portas permanecem sempre fechadas... assim como agora quase tudo neste piso.
o teletrabalho enviou a maioria das pessoas para os seus redutos... a maioria dos escritórios estão agora encerrados. estranha dúvida me assalta... o que fará uma cartomante em teletrabalho?... e mesmo um osteopata...

no entanto a senhoria... na figura de uma velha senhora que percorre os pisos em roupão... surge sempre, na tentativa de encontrar algum incauto que tenha deixado as luzes acesas... e aí alguns problemas poderão surgir... 
o residir no andar de cima, também não augura nada de bom.

as rotinas semanais sucedem-se ao ritmo dos 3 rolos de papel higiénico por casa de banho de piso... um sabonete líquido roxo de marca branca, cuja embalagem refere odor orquídea... e um sabão azul pouco convidativo e demasiado gasto para se poder sequer pensar em usar...
os urinóis são engraçados de tão velhos que são... mas apenas isso. são mais fotogénicos do que convidam a usar...
e a finalizar o advogado de voz nervosa e que todos enerva... o gravador solitário e estranho cujos horários pouco respeita... e o "mestre" do desenrasca que sobe aos telhados... impermeabiliza coberturas... pinta paredes e portas... e lâmpadas fluorescentes... e repara fechaduras e chaves... que nada abrem... e sobretudo gaba-se da quantidade de cafeína que ingere... 
mas igualmente da nicotina... ou não fosse eu reparar nas manchas das suas mãos...
esta é a atmosfera familiar e diária de quem aqui arrisca e finge trabalhar... e trabalha.

um edifício ignoto e sujo, a que ninguém liga ou repara... situado no centro da cidade...
e onde tudo e nada acontece... neste quotidiano em que as rotinas invariavelmente se sucedem e parecem respeitar... talvez porque mais nada haja a fazer...




quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

maria josé cavaco > anywhere out of the world | dead can dance















maria josé cavaco > anywhere out of the world | dead can dance

péssima notícia esta de ontem.
morreu a maria josé cavaco.
havia-lhe perdido o contacto... sabia-a no seu pouso, no seu habitat natural... os açores, de onde era oriunda... e que tanto impregnara a sua obra.
a última vez que a vi foi naquela galeria, no bloco das águas livres... aquando da montagem da sua exposição referente ao seu trabalho de doutoramento... cujo título "lugares de fractura: a auto-reflexividade na ficção artística" deu origem a uma tese interessantíssima... provavelmente a mais distinta de todo o leque daquele grupo de alunos... e a uma posterior exposição igualmente singular. ou não fosse esse seu desígnio e trabalho...

serena... discreta... pessoa muito interessante, a ponto de se perder uma tarde em conversa.
naquele lote de alunos que frequentavam o curso de doutoramento, seguramente num primeiro momento passaria totalmente despercebida... tal era a sua discrição...
assim que se dispunha a intervir e a conversar... surgia uma pessoa diferente... incapaz de ficarmos desatentos a esta sua singularidade. central... culta e interessante...
as suas apresentações de trabalhos foram das que mais me surpreenderam, deliciaram... e interessaram... sem dúvida alguma pela pertinência e inteligência da autora...
agora que desaparece... constacto ainda mais a importância das suas, nossas conversas.

escusado será dizer que agora irei ler a tua tese com redobrado interesse... mas igualmente alguma nostalgia... desses dias, nessa escola e conversas de fim de tarde, noite dentro...

péssima notícia a de ontem...

quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

corpo estranho > conversation | gary numan

 











corpo estranho > conversation | gary numan

é estranho.
começo a sentir-me estranho... junto de gente mais nova.
começo a sentir-me desconfortável... intrusivo.
não fico... deixo de estar à vontade.
sinto-me a mais... um intruso.
como se estivesse a usurpar algo que não me era devido.  a ocupar um espaço, que não me pertence. 

é estranho, sobretudo porque nunca antes foi assim...
sempre me integrei... sobretudo com jovens... era um deles, mesmo já não o sendo...
mas agora não. 
algo mudou. sinto-me pouco à vontade... sinto-me desnecessário. creio, existe um cerimonial desnecessário. da parte deles. que me afasta e repele. que me leva a afastar, a criar distância.
sinto-me a mais... em demasia.
e agora até existe um maior afastamento... uma menor cumplicidade... chego a criar propositadamente uma distância... e uma cerimónia... onde antes apenas visualizava integração.

é deveras estranho. 
algo mudou.
tudo mudou...