sexta-feira, 7 de fevereiro de 2020





















subúrbios > what does not destroy me | piano magic

imagino-te assim... assim mesmo...
insegura, pouco à vontade... a tentar ficar segura... em segurança.
não querendo revelar intimidade alguma... nenhuma.
distante... longe de qualquer cumplicidade que possa... tornar tudo ainda mais inseguro...

é assim que te imagino... hesitante... indecisa mesmo...

sem querer ficar em causa. que nada pretender partilhar... 
que nada quer mostrar... que apenas essa incómoda insegurança... 
que tentas a todo o custo encobrir...

sim, sempre o soube...não és pessoas de te expores... demasiado recatada... a não ser... quando alguém interfere no teu espaço...que sempre foi demasiado escuro e pequeno... onde apenas entra quem tu decides e desejas... e nada desejas...

perguntaste-me o que gostava de fazer naquela tarde amarelecida de inverno... e disse-te que gostava de te fotografar... simplesmente captar aquele momento em que te revelaste frágil... e obviamente nem mesmo isso me permitiste...
as fotografias tuas que tenho... são apenas tímidas memórias... 
porque para ti tudo é demasiado perigoso... demasiado arriscado.
para ti tudo é obscuro, indeterminado...
e nessa hesitação onde te posicionas e vives... tudo se assemelha a vago... incerto, inseguro digo eu.
sim, eu sei... dizes sempre que tudo é instável e arriscado... que não gostas de te expôr.

sim, já te vou conhecendo... acredita.

essa insegurança e fragilidade muito próprias... que tu tentas sempre proteger com a distância e uma frieza calculista...
ainda recordo aquela tarde em que distraidamente te toquei ao de leve na mão... e o quanto ficaste incomodada...
se pensar melhor, creio que até te agradou... mas havia que tentar evitar... a todo o custo proteger essa distância... não comprometendo assim o teu isolamento... 
e nessa reserva e afastamento ninguém ficar ao teu alcance...
a cidade verdade seja dita, trouxe-te pouco... deu-te alguma urbanidade que não vivência... e, creio, acelerou o teu tão desejado isolamento...

imagino-te ainda assim... assim mesmo.

numa existência rotineira e fria...
habitando um qualquer subúrbio ignoto... onde os sons que proliferam só podem ser oriundos de what does not destroy me... piano magic...
e cuja letra repetida à exaustão, simplesmente reza assim... 
what does not destroy me can only make me stronger...
e onde os sonhos dispersos não existem mais...

imagino-te assim... 
é assim que ainda te imagino...
sempre te imagino.






décadas > decades | joy division

pronto. já acabou... já terminou, na verdade termina hoje... dia de reis.
dia já com pouco significado entre nós... apenas os espanhóis...

pronto. acabou. para o ano... lá para o final do ano haverá mais...
esta tensão... azáfama... essa superficial e frágil preocupação com os nossos semelhantes... esta atenção, essa constante preocupação... e virtual interesse.
o natal é sobretudo isso... um tempo cada vez mais superficial e desinteressante... porque na generalidade dos casos... fútil, de uma atenção, desmesurada e insensata...porque insensível... e nunca desinteressada.
é isso... desinteressante e nunca desinteressada...
aliás essa é essencial a essência humana...

terça-feira, 4 de fevereiro de 2020




o correcto uso do sabão > safesurfer | julian cope


chamemos as coisas pelos nomes. 
sim, não disfarcemos... ou tão simplesmente ludibriemos.
é assim que se intitula... o terceiro registo de originais dos magazine...
e verdade seja dita, os magazine... neste caso o howard devoto sempre foi um génio no que ao título de discos e canções, diz respeito...
a verdadeira importância do que se diz... do que é dito... como se diz...
inventar palavras mesmo... que deem sentido ao que se pretende, enfatizem...


assim sendo, simplesmente surripiei esse mesmo título para este curto texto.
e não é dos magazine que aqui vou novamente falar... não que não mereçam ou eu não queira, simplesmente evoco aqui o julian cope... e alguns dos seus títulos mais lúcidos... acho que os posso apelidar assim mesmo, lúcidos.
é que não existe demasiada lucidez na singular existência do julian cope... nomeadamente quando abandonou os the teardrop explodes e se dedicou a uma carreira a solo...
a clarividência esbateu-se... assim como parte da sua sanidade mental...e para nós a realidade alterou-se... tornou-se ácida e psicadélica... deixou de ser de fácil compreensão...
existe aqui uma insanidade genial... que a espaços produz melodias fantásticas... já não com a anterior frequência... mas ainda assim, de louvar...
se a singular existência dos the teardrop explodes estava carregada de consistentes discos... com enormes e imensas músicas que provavelmente todos os músicos gostariam de ter composto... a sua longa fase a solo, se é que lhe poderei chamar assim... começou promissora e brilhante... e depois... instalou-se uma proliferação de registos desconexos... psicadélicos... ácidos e de difícil digestão... numa obsessiva viagem por um passado progressivo e igualmente psicadélico... que não lhe trouxe nada de novo...
a singular diferença entre a genialidade de julian cope, pete wylie... ian mcculloch ou howard devoto... foi o caminho percorrido, que não a viagem...
se todos iniciaram uma invulgar viagem louca e desconhecida... nos idos anos 70 do passado século... a realidade é que as armas de que julian cope de muniu e familiarizou... o levaram para um patamar de ostracismo e radicalidade... que o votaram a um isolamento precoce... 
e alguns dos seus registos e melodias definitivamente mereciam melhor destino...
o destino o dirá...