quinta-feira, 28 de março de 2019



se houver um céu > god damn the sun | swans

para onde se vai quando já não há lugar algum para se ir?...
para onde se vai quando já não há espaço algum para se prosseguir...
para onde se vai... quando simplesmente já não se pode ou consegue progredir?...

que lugar é esse de que tantos e todos falam... e reconhecem...
mas ninguém de lá voltou para contar...

como dizem os love and rockets... if there's a heaven above...
e nesse céu tudo está registado...
e como dizem os love and rockets... everybody wants to go to heaven...
deverá haver uma causa para assim o ser...
ou estaremos todos enganados?...

segunda-feira, 25 de março de 2019


inevitável > scott walker apenas

inevitavelmente hoje tinha que vir até aqui.
não pelas melhores razões...
ao contrário... por más notícias...

soube-o há pouco tempo... pelo site da 4AD...
morreu o scott walker...
e o universo musical está definitivamente mais pobre... e diminuido...
simplesmente porque o scott walker faz falta ao universo musical...
aquele que eu reconheço... e a todo o universo mesmo.
restam-nos um punhado de belas e estranhas melodias de tilt... the drift... e até mesmo de 
and who shall go to the ball? and what shall go to the ball?...
sobra-nos o inevitável tempo já sem ele...
apenas e apesar...
porque a sua influência é sentida em todo o lado...
desaparece assim um dos mais periféricos e experimentais autores pop...
e extingue-se essa aura de negrume... de anseio... mas sobretudo de pureza com que igualmente construíu e a partir de determinado momento, alicerçou o seu universo...



terça-feira, 19 de março de 2019

















demora > can I explain the delay? | colin newman


chegou pela primeira vez a horas...
não é que tenhamos tido muitos encontros antes deste... do previsto para o dia de hoje... ao final da tarde para ser mais preciso...
não... agora que nisso penso, é para aí o nosso segundo... terceiro encontro a sós... sem mais ninguém... amigos comuns... nenhuns.
e devo confessar... estava apesar de tudo um pouco nervoso... embora a conhece-se desde à longos anos... fruto de amigos em comum...
agora a sós... derivado de um encontro marcado... por iniciativa nossa, creio ser mesmo o primeiro.

acredito ter sido o nosso primeiro encontro a sós.
sobretudo pelo interesse e cumplicidade demonstrados... em que ele acontecesse...

e surgiu a horas... logo ela que tinha tanta fama e um historial de consecutivos atrasos...
mas não...
à hora estipulada lá estava ela... sentada naquela mesa distante... da esplanada do café...
quando me aproximei não deu logo por mim... entretida numa revista que folheava...
reconheço-lhe aquele perfume familiar a que já me habituei... as mãos finas... e mesmo aquele anel singular que ela desde sempre usa... e apenas esse...

olhou-me e simplesmente sorriu... com aquele sorriso bonito com que enfrentava até as maiores adversidades...
pedi desculpa por ter chegado em último lugar...
e mesmo antes de pedir um café... simplesmente pousei sobre a mesa um disco gravado que lhe enderecei e que apenas continha uma simples melodia... can I explain the delay?... colin newman...


quarta-feira, 13 de março de 2019






















desculpas > fin de siècle | paul buchanan



haverá momentos de maior intimidade do que estes que se passam a escutar as melodias de paul buchanan?...
oiça-se mid air... mas oiça-se integralmente mesmo... o disco todo.
de preferência a edição limitada que traz dois discos mesmo.
a voz arrastada apenas acompanhada desse singelo piano... que sempre trouxe por companhia... desde os tempos remotos dos the blue nile...

sempre os misturei... e baralhei... e voltei a dar... mas na verdade nunca os confundi...
são semelhantes... são parecidos... próximos na abordagem...
o paul buchanan e o peter walsh... desculpem, o peter milton walsh... que não deve ser confundido com o outro peter walsh... esse produtor que entre outros produziu os simple minds de melhor memória... mas, adiante...

o paul buchanan militou nos the blue nile... e impressionou... e muito.
construiu provavelmente as melodias mais urbanas de que tenho memória... e isso basta-me.
agora a solo, continua e persegue melodias simples e intimistas... que não captarão o olhar, ou o ouvido neste caso... dos mais desatentos...

também o peter milton walsh construiu a sua carreira nos míticos the apartments... a que ninguém ligou simplesmente nada...
viajou igualmente pelos this mortal coil como convidado... e graça suprema, como convidado de honra dos defuntos piano magic...
ou o glen johnson não tivesse olho... ouvido, para a coisa...

senão oiça-se neste caso... the evening visits... and stays for years. drift. a life full of farewells. apart. ou o mais recente... no song no spell no madrigal...

para o paul buchanan bastará cingirmo-nos ao a walk across the rooftops... e ao hats... que contêm as melodias mais visualmente urbanas de que há memória...

desculpas?...
agora já não haverá lugar a mais desculpas.























reflexo > because you're frightened | magazine

procurei-te por toda a parte...
onde estás tu?...
procurei-te em todo o lado...
por onde andas tu?...
procurei-te por todo o lado...
quem és tu?...

vi-te de relance... no reflexo de um vidro...
no avesso de uma imagem...
vi o espelho da tua imagem...

quem és tu?...
onde andas tu?...

procurei-te por toda a parte...
quem és tu?
ondes estavas tu?
onde andas tu?...

vi-te sem alcance...  num vislumbre...seria pura ilusão... um simples truque da minha própria visão...

           





sexta-feira, 8 de março de 2019



palavras soltas > let me tell you something | the durutti column


percebo pouco do que tenho para dizer.
no entanto tenho de dizê-lo.
de outro modo não faria sentido algum falar disto. nenhum.

apenas porque me fartei, decidi deixar de guardar isto dentro de mim. apenas isso.
e reafirmo... que percebo pouco do que tenho para dizer. 
e no entanto vou dizer... vou revelá-lo.
não é por falta de interesse... antes pelo contrário...
é simplesmente por receio... de ser mal entendido... mal interpretado.
e no entanto... não tenciono permanecer... continuar assim expectante... dependente.
passou demasiado tempo... e diversas expectativas... que se foram gorando... 
sinto que o tempo corre e nunca o alcanço... nisto que pode ser entendido como uma declaração de intenções... temporais.
pode, não. deve.
deve ser entendido como uma séria declaração... de intenções.

acreditem... hesitei. como de costume. para não variar...
mas vendo o tempo passar... achei que era agora, ou nunca...
na realidade não tinha nada a perder...
apenas isso... não alcançar o objectivo a que havia proposto...
e novamente hesitei... não sabia sequer como se lhe referir...
e assim sendo acabei a decidir-me entre o in a lonely place dos new order... e o let me tell you something dos the durutti column... ambas belas melodias soturnas e melancólicas... próprias de tempos e momentos assim. hesitantes, mas igualmente decisivos.
acabei por me decidir pela última... que mais não sendo... porque como referi no início... eu tinha qualquer e imensas coisas para dizer e tinha de dizê-lo... embora soubesse muito pouco do assunto acerca do qual queria e desejava falar.
está dito.




domingo, 3 de março de 2019





















desde > wave | david sylvian



desde. 
desde o início...
desde sempre para ser mais exacto.
a coerência da obra de david sylvian é assustadora...
desde o princípio... desde que lhe conheço este percurso musical...
desde que reconheço aquela integridade... aquela serenidade.

comecei... confesso já um pouco tardiamente...
iniciei-me com o gentleman take polaroids... felizmente...
se tenho aqui chegado anteriormente... aos japan neo-românticos... provavelmente não teria tido paciência... e simplesmente ter-me-ia afastado...
mas não. cheguei, sei-o agora no momento certo.
o gentleman take polaroids é um disco magistral...
nada aqui se perde... tudo se transforma...
é um disco já mais maduro... mais próximo de uma seriedade que em pouco tempo surgiria...

ouvir o david sylvian é também escutar o silêncio...
é sobretudo isso... uma viagem cada vez mais densa em direcção ao silêncio.

não há muitos músicos assim. há alguns.
que quanto mais progridem... mais valor e destaque dão às pausas... aos momentos de silêncio.
são assim, uma espécie de samuel beckett do universo musical.
parcos em palavras. escasso em sons... melodias diminutas, que não diminuídas...
e esse aprofundamento tem-se vindo a intensificar com o tempo... seja em sons ou simples palavras.
e assim sendo tudo torna o significado do que se ouve e diz, mais significativo. porque importante.