domingo, 27 de agosto de 2017




podia ter sido dj > sodus | cemeteries


a sério.
não estou a brincar.
sim, não estou mesmo a brincar.
acho que podia ter sido dj... fui-o forçado em determinadas ocasiões...
fosse nas festas de carnaval... olá medusa... olá clan of xymox...
fosse nas férias de verão... que tantos e todos contagiei...
e não fui... não seria nunca um dj normal... se me faço entender...
sempre consegui essa contaminação... sem intenção. nenhuma.
minto...
havia apenas uma intenção. a de conseguir ouvir tudo o que me interessava e quando queria...

a sério.
foi apenas essa a intenção... pelo gosto da música que chega a perturbar...
de tão genuíno e intenso...
que até mesmo eu chego a estranhar... por achar não ser natural... assim tão natural.
esse desejo... essa vontade... essa necessidade mesmo.
de viver a ouvir música... assim só.

ouvir música é um acto solitário... para mim... 
em mim.
não sinto necessidade de estravazar... de partilhar...
sinceramente, já passou o tempo... esse tempo... de mostrar... de possuir.
óbvio que por vezes foi assim...
a descoberta de... não se poder viver sem determinado registo... determinada melodia... esse disco mesmo.
e cedo descobri que a música perturba... emociona... chega a incomodar.
ouvir música... é descobri semelhanças... em solidão.
seja na melodia... seja através das palavras...
ouvir música é também uma necessidade... solitária.

é um acto solitário, que creio... podia ser partilhado... assim através de um emissor...
fosse um rádio... um palco... um qualquer outro emissor... que não apenas este.
este traduz... quanto muito gera vontade... mas fica mudo.
surdo nas palavras...
porque não permite emitir som... os sons dessas melodias de que falo...
e são tantas... e tão imensas... e tão intensas.

a sério. podia ter sido dj.
ou mesmo locutor de rádio...
uma rádio assim... sem ouvintes... noite dentro...
um programa de rádio sem necessidades específicas. nenhumas. algumas...
um programa de rádio sem necessidade de audiência...
e então aí... nesse silêncio gerado... poder partilhar toda a imensidão solitária desde barrow.. pertencente a esse alter ego de kyle j. reigle... que dá pelo nome de cemeteries...



sexta-feira, 18 de agosto de 2017














noutro lugar > desire | tuxedomoon


noutro lugar...
num outro lugar. que não este.
noutro tempo.
num outro tempo. que já passou... não existe mais.
que não existe senão em memória.
na minha memória... e assim vive.
a juventude perdida... porque passada...
memórias fracturantes dos anos... 70... 80...
almofadas mornas em camas confortáveis...
campos de aviação abandonados...
verões de crianças sem fim... a luz filtrada através das folhas em copas de árvores altas...
recordações e fantasias registadas em polaroid...
um flash que tudo permite rever... a infância feliz e calma... uma inocência que desfalece e murcha... atormentada pelo que existe e vive em redor...
a constactação de factos que não se pretende... ver.
a tranquilidade que se dissipa... descolorida e desbotada...
uma decadência que não se imaginava existir... em céus de nuvens esparssas... e soltas...
o tempo passado em longas tardes de verão na relva húmida e demasiado quente...
a cor do céu que se decora e... jamais esquece...
a luz intensa... 
a intensidade da luz que todas as pessoas comentam...
quadros tingidos de imagens em memórias... que alguém um dia registou...
beijos longos em lugares recônditos e sombrios...
o estuque que se esbroa e deixa à vista os velhos tijolos dos prédios de subúrbio...
o som das crianças que brincam ao longe...
gargalhadas profundas e inocentes que fazem adivinhar... uma felicidade que não existe mais...
o som proveniente do rádio de um carro que passa veloz... desire... tuxedomoon.
parques de estacionamento municipais vazios... ao sol escaldante de uma tarde de verão...
a recordação de um belo sorriso que já passou...
na sombra da esplanada deste café sujo... ao som de a craftsman's touch... wire...
ou a beleza de uma solidão e violência que se avizinha...
provavelmente nada mais... para recordar.

domingo, 13 de agosto de 2017





















27 anos depois > conversation 16 | the national



27 anos depois.

vinte sete anos volvidos... passados...
ouviste bem... 
daqui a pouco passou tanto tempo desde que me deixaste... 
como o tempo em que realmente convivi contigo...
e custa, acredita... ainda custa. sempre custa.
parece que foi ontem mesmo...
sim, desculpa... eu sei que é uma trivialidade... 
mas é mesmo verdade.
parece que o tempo se concentrou... e que aqui os 27 anos não contam. nada.
para nada. na verdade é como se não existissem. mesmo.
como se nunca tivessem existido.
e o que são 27 anos neste universo... nada... mesmo absolutamente nada...
mas para mim... sobretudo longe de ti... são muito... são tudo.


relembrei quinta feira ao jantar... a tua última refeição...

e o modo como tudo se precipitou...
nada que não se pudesse adivinhar... ou não estivesse anunciado.
foi cedo demais...  foi no entanto cedo demais, porque é sempre cedo demais.
aqui o tempo nunca é demasiado... é escasso... falta sempre. tempo.


essa sexta-feira fatídica de carnaval, em que cheguei a casa ao fim do dia, sem certeza de te encontrar...

comprara-te o semanário do costume... para te ver assim entretido... mas nem o folheaste...
não houve tempo... faltou, falta sempre tempo.
a refeição foi extremamente ligeira... uma sopa, canja... que nem chegaste a terminar...
imagino que já não estivesses bem...
apenas quando regressei do hospital me inteirei da situação... 
quando já nada havia a fazer...
relembro a cama por fazer... sobretudo a almofada húmida... desse esforço silencioso a que te devotaste... para ninguém incomodares...
típico teu... sempre tudo até ao último momento, último instante...
só que desta vez foi já tarde demais...
amparei o teu corpo inerte e estranhamente pesado... assim só nos meus braços...
e percebi.

será... terá de ser a vida sempre assim...
antecedeste-me em quase 38 anos...
fomos contemporâneos ao longo desses frágeis 32 anos... e desde então deixaste-me aqui assim só... nesse tempo por vezes inútil... até que tudo se desgaste... e passe.
e ainda que exista essa improbabilidade... 
se dê a ínfima possibilidade de um reencontro...























noutro lugar > after the rain | the comsat angels



noutro lugar... num outro lugar.
noutro tempo, porque em um outro tempo...
que já passou... e não regressa... nunca.
vive assim, suspenso... na minha memória... e sobrevivendo... vive enquanto eu também viver...
é estranho... nunca fui... não sou saudosista...
apenas por vezes me faz falta... regressar a um passado... onde o tempo era outro... mais lento e inquietante...
é sempre mais inquietante quando sabemos... que todos os que nos são próximos... nossos por laços que sempre nos unirão... estão mais perto de o deixar de o ser.
o tempo rotineiro e implacável... assegura-se que assim seja... tudo seja...
e quando já nada restar... restará sempre esse sopro na memória... que nos consola... e incomoda...
agora... mais calmo... sobretudo porque o abismo é nosso...
não há... já não há ninguém na linha da frente... avista-se o horizonte... que diariamente se aproxima... e consolida... e certifica. essa mesma certeza.
e é aí mesmo que também cabem melodias como esta... de um outro tempo... desse mesmo tempo... que acabou... e apenas isto restou...
memórias soltas em fragmentos... onde também esta melodia se insere... qual fotografia familiar a preto e branco... que tudo transmite e recorda.
fico a ouvir after the rain... the comsat angels... porque também eles são e foram parte integrante e rotineira da vida dessa mesma família.


next time you fall | breathless

fazes-me falta, só assim.
fazes falta tenho de o confessar... de te confessar.
sei-o agora... aqui na distância... sobretudo na distância que tudo permite ver melhor.
e se tudo começou mesmo aí... com essa melodia dos breathless que simplesmente tudo consolidou... all that matters now... e que tanto solidificou...
fazes-me falta onde tudo faz falta... 
simplesmente porque nada existe...
ou como diriam os new order... eu posso esquecer os nomes e as moradas de todas as pessoas que eu desde sempre conheço... e não é nada que eu lamente...

fazes falta... fazes-me sempre falta.
sempre o farás.... confesso.
e com essa saudade... vem a memória... e os lugares... e as melodias...
indissociável de ti... o som reconhecido dos breathless... dos no-man...
sempre o foi... assim o será...
os no-man mesmo antes do início... 
os breathless desde o princípio. desde sempre...
os no-man... desde a estranha descoberta... inquietante...e motivante...
e que me deu alguma esperança... pela descoberta... dessa audição noite dentro...
e se nunca sinceramente acreditei...
igualmente nunca ambicionei... se tanto desejei...
os breathless tudo vieram acrescentar... porque cimentar...
ajudaram a consolidar... a construir essa... esta força que constato e perdura em mim.
por mim ficava aqui a recordar... simplesmente porque através destas memórias tu vives mais em mim...
e segredo-te... fazes-me falta, assim só.